
A doação de órgãos é um ato de generosidade e solidariedade que pode salvar vidas. No Rio Grande do Sul, de acordo com os dados da Secretaria Estadual de Saúde, em janeiro deste ano, 2.762 de pessoas aguardavam na fila de transplantes. O Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), da Universidade Federal de Santa Maria, registrou três captações de órgãos e tecidos somente no mês de fevereiro de 2024. Já em 2023, foram realizadas sete captações, totalizando 14 rins, cinco fígados e oito córneas, proporcionando uma nova chance de vida para 27 pessoas.
+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia
O Brasil possui um dos maiores programas públicos de transplante de órgãos e tecidos, garantido a toda a população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Nos hospitais, o trabalho de captação de órgãos é viabilizado pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), criada pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de organizar e agilizar o processo de doação. Dentre as atribuições, a Comissão identifica potenciais doadores, instrui o protocolo assistencial de doação de órgãos e coordena a abordagem aos familiares dos doadores, atuando em conjunto com a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO).
- Após cura de leucemia por transplante de medula 100% compatível, doadora e receptora se conhecem em festa de casamento
- Ministério da Saúde antecipa vacinação contra gripe; campanha começa em março
A abordagem familiar para a doação de órgãos é realizada pela CIHDOTT em parceria com a Organização de Procura de Órgãos (OPO6), com sede em Lajeado, e que auxilia na realização de exames complementares, quando necessário.
– É fundamental que os médicos comuniquem a CIHDOTT do Hospital diante de casos suspeitos de morte encefálica, garantindo o apoio necessário para a realização das captações – salienta a chefe da UTI Adulto e membro da CIHDOTT, a fisioterapeuta Janice Cristina Soares.
Órgãos passíveis de captação e importância da doação
Os órgãos e tecidos passíveis de captação são: córneas, coração, pulmão, rim, pâncreas, fígado, ossos e pele, que podem ser doados sob a análise das equipes captadoras em cada processo. Existe também o transplante de intestino, porém é uma prática menos comum devido ao nível limitado de sucesso.
Quando há um potencial doador, a CIHDOTT envia todas as informações necessárias para a Central de Transplantes de Porto Alegre, incluindo exames, idade, cor, peso, sexo e patologia que o acometeu. Com os dados, as equipes responsáveis pela extração dos órgãos realizam a seleção de possíveis receptores já cadastrados em lista única de transplantes.
Há uma diferença entre doador vivo e doador com morte encefálica. O doador vivo é aquele que doa órgãos duplos ou parte deles, como fígado, para um receptor com vínculo familiar, sem benefício secundário. Já o doador com morte encefálica é aquele que tem a morte constatada em situação especial, mantendo o funcionamento dos órgãos com a ajuda de aparelhos. A faixa etária para doação de órgãos inclui crianças a partir de 7 dias de vida a adultos de até 85 anos.
O processo da morte cerebral ao transplante
O diagnóstico da morte encefálica é obrigatório, conforme a Lei 9434/1997. No Brasil, a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) Nº. 1.346/91 define a “morte encefálica como a parada total e irreversível das funções cerebrais”, que é complementada pela Resolução nº 2.173/2017, que trata dos critérios do diagnóstico.
O diagnóstico de morte encefálica é realizado por médicos diferentes e inclui testes clínicos e exames complementares. Após, a família é abordada pela CIHDOTT para discutir a possibilidade de doação de órgãos e, se houver “aceite”, é oficializada com a assinatura do termo de doação. Para autorizar a doação, é necessário o consentimento do cônjuge ou companheiro com união estável, dos familiares de primeiro grau (mãe, pai, filho) ou, na ausência destes, dos familiares de segundo grau. Se não houver familiares, a autorização deve ser obtida por meio de decisão judicial.
Com a autorização, as equipes de captação e transplante então entram em ação. A primeira desloca-se de Porto Alegre até o Husm, via aérea e terrestre, numa força-tarefa organizada para garantir que os órgãos sejam retirados e transportados com segurança. Já a equipe de transplante é acionada pela Central e os órgãos são distribuídos para os receptores compatíveis. A viabilidade dos órgãos varia, por exemplo, pulmão e coração de quatro a seis horas, fígado e pâncreas de 12 a 24 horas, rins até 48 horas e córneas até sete dias.
Incentivando a cultura da doação de órgãos
A CIHDOTT do Husm realiza capacitações e palestras em escolas e universidades e alerta para a importância de iniciar a conversa sobre doação de órgãos dentro da família e deixa sua mensagem: “Todos devemos expressar nosso desejo de ser um doador, conversar sobre essa questão sem medos ou tabus. Achamos válido ressaltar que a educação para a doação de órgãos é muito importante diante dos dados que as estatísticas nos apresentam do número de pessoas nas listas de espera e quanto um ato de doação pode modificar a vida de uma pessoa e de toda a sua família”.
Sobre a Ebserh
O Husm faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
*Com informações da Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh