Beto Albert
Lorenzo Mazzine Pichinin (PSDB), 26 anos, é o vereador mais jovem eleito em Santa Maria.
As últimas eleições consolidaram a menor soma de jovens vereadores eleitos no Estado, desde o começo dos anos 2000. É o que aponta o levantamento feito pelo Grupo Diário a partir de dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A partir de 2025, as casas legislativas terão apenas 6% de seus representantes com idade até 29 anos, o que indica um decréscimo na representatividade da juventude. Em Santa Maria, o cenário não é diferente. Dos 21 vereadores eleitos para o próximo mandato, somente dois são jovens.
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O índice vai na contramão do número de eleitores nesta faixa etária, que é de 40.794 mil em Santa Maria – quase 20% do eleitorado total. No entanto, há alguns anos, o mesmo segmento é o que mais se abstém de comparecer às urnas. O detalhamento sobre o perfil dos mais de 57 mil faltosos no primeiro turno do município ainda não está disponível, mas dados do pleito de 2020 revelam que a faixa etária predominante na abstenção foi a dos 25 aos 29 anos, correspondendo a 32%.
A busca por representatividade
A pouca representatividade da juventude nas Câmaras municipais é evidenciada pelos números. Somente 290 parlamentares jovens foram eleitos para representar as casas legislativas no Estado de um universo total de mais de 26,5 mil candidatos a vereador no Rio Grande do Sul. E, entre os 290, só 63 são mulheres, indicando a minoria.
No cenário regional, as 39 cidades de cobertura do Grupo Diário somam 16 representantes eleitos nessa faixa etária. O mais novo, Natan Pimentel Erles, do União Brasil, assumirá uma cadeira na Câmara de Santiago aos 21 anos. O parlamentar disse que vê a renovação como parte da democracia, e que as ideias dos jovens podem contribuir com a comunidade.
– Apesar de pouca idade, me sinto preparado. Sei que tem pessoas de mais idade nesse meio, e quero aprender e pegar experiência com os demais colegas – afirmou Natan.
O futuro vereador vem de uma família com atuação na política e, inclusive, seu avô e pai também exerceram cargos de liderança.
Em Santa Maria, maior município da Região Central,cinco jovens conquistaram cadeiras nos últimos 24 anos e, em três legislaturas (2008, 2012 e 2016), não foram eleitos representantes desta faixa etária. Para a próxima legislatura, a juventude será representada por Alice Carvalho (PSol), 28 anos, e Lorenzo Mazzine Pichinin (PSDB), 26.
Mais jovem entre os 21 vereadores, Lorenzo conta que o despertar para a política surgiu com o desejo de agir e contribuir diretamente com a sociedade.
– Existe uma expectativa de que eu seja uma voz ativa em questões que impactam diretamente os jovens, como educação, saúde, emprego e segurança. Ao mesmo tempo, é essencial que eu demonstre minha capacidade de colaborar com todos os cidadãos, respeitando a sabedoria e a experiência de colegas mais velhos.
Campeã de votos, Alice entrou para a política partidária após as jornadas de 2013. Na Câmara, terá, entre as bandeiras, a defesa da juventude da periferia.
– Uma das pautas que colocamos como central na nossa campanha, além da questão das mulheres, foi a negritude e juventude da periferia. Quando falamos de cultura, direito à cidade, esporte e lazer, também estamos falando dessas pessoas que, de alguma maneira, são negligenciadas pelo poder público – afirmou ela ao Diário, dias depois de ser eleita.
Juventude engajada, mas não em espaços de poder
A falta de identificação da juventude com o modelo tradicional de fazer política pode ser um dos motivos que colaboram com o cenário de baixa participação, segundo o filósofo, analista político e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria Dejalma Cremonese.
Apesar de ser uma geração engajada em causas sociais, como os direitos das pessoas LGBTQIAPN+, negras, indígenas e mulheres, isso não reflete na participação nos espaços de poder.
– Talvez seja difícil de ver na política tradicional um resultado mais imediato, pela tradição que temos de uma política mais convencional, de uma democracia mais eleitoral apenas. A política hoje ainda é ligada a certos setores, de caciques dentro dos partidos, é muito oligárquica. A participação nas redes sociais, nos movimentos sociais, não deixa de ser uma forma de democracia, mas é um desafio tornar esses jovens mais representativos também na política tradicional. É uma bolha a ser furada – explicou Cremonese.
Incentivo à participação
A falta de pessoas mais novas em espaços de debate e construção de propostas para o desenvolvimento de uma cidade, como são as Câmaras de Vereadores, representa um prejuízo para essa parcela da sociedade, como aponta o especialista.
– Certamente, as demandas que surgem dos jovens ficam um pouco esquecidas e proteladas para outro momento, quem sabe. Os impactos podem ser nas políticas públicas de educação, lazer e construção de espaços públicos – acrescentou Cremonese.
Para ele, os caminhos para despertar o interesse político na juventude passa por uma conscientização sobre a importância da democracia nos setores da sociedade. Escolas, universidades, empresas, partidos e famílias podem promover debates que estimulem o voto e o surgimento de novas lideranças.
Confira as Câmaras da região que terão vereadores jovens a partir de 2025:
Agudo - 1
Caçapava Do Sul - 1
Cacequi - 1
Formigueiro - 1
Júlio De Castilhos - 2
Ivorá - 1
Itaara - 1
Nova Palma - 1
Santiago - 1
Santa Maria - 2
Santiago - 1
São Gabriel - 1
São Martinho Da Serra - 1
Toropi - 1
A falta de dirigentes políticos jovens também se reflete no Executivo. Todos os prefeitos eleitos em primeiro turno na região possuem idade acima de 30 anos. Em Santa Maria, onde haverá segundo turno, os candidatos Rodrigo Decimo (PSDB) e Valdeci Oliveira (PT) têm 56 e 67 anos, respectivamente.