Neste domingo (27), os 209.393 eleitores aptos a votarem em Santa Maria irão eleger, entre o deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) e o atual vice-prefeito Rodrigo Decimo (PSDB), o chefe do Executivo pelos próximos quatro anos.
Mas é mais do que isso: é a escolha do gestor que tomará as decisões sobre a escola dos seus filhos, o posto de saúde do seu bairro, a zeladoria da cidade, o ônibus utilizado pelo trabalhador. Apesar disso, mais de 57 mil eleitores não compareceram às urnas no primeiro turno.
Se, você, eleitor, achar que os motivos acima não são suficientes para convencê-lo a votar no domingo, leia a seguir as histórias inspiradoras de democracia em sua plenitude.
Mesário voluntário aos 70 anos
O aposentado Olavo Renato dos Santos, 70 anos, integra a faixa etária que não tem mais a obrigatoriedade de votar e poderia muito bem aproveitar o domingo no conforto do seu lar ao lado da família. Mas, ao contrário, ele não se acomodou. Movido pela curiosidade e apreço pelo exercício da cidadania, ele procurou o Cartório Eleitoral e se voluntariou para ser mesário, pela primeira vez, nas eleições municipais deste ano.
Santos conta que tomou conhecimento pela imprensa sobre a possibilidade de atuar como voluntário e, por valorizar o processo eleitoral, agora, que estava com mais tempo livre, decidiu se candidatar a mesário. Ao passar na frente do cartório, o idoso resolveu entrar com o propósito de se informar sobre o E-título e, ao mesmo tempo, saber como funcionava para trabalhar no dia das eleições. Na hora, fez os trâmites necessários e deixou o local já como mesário.
- Uma ideia de conhecimento. Se falou tanto nas eleições presidenciais passadas sobre fraude, isso e aquilo e, eu, já nos 70 anos, quero conhecer um pouquinho mais desse processo, ver se há algum que, mínimo, fundamento para se dizer isso. E cheguei à completa constatação que não há absolutamente nenhuma hipótese de fraude - afirma Santos.
O aposentado, que, na juventude, foi líder de turma e presidente de Grêmio Estudantil, considera-se ativo politicamente e demonstra interesse pelo assunto. Embora não fosse ligado diretamente à política partidária, relata ele, sempre procurou participar da votação de forma consciente, valorizando as pessoas que concorriam em concordância com propostas que considerava serem importantes.
- Achei uma experiência muito interessante. Felizmente, na minha sessão, não houve nenhum problema fora do contexto - ressalta ele, sobre a função de mesário.
Na seção em que trabalhou, conforme o aposentado, abstenção atingiu um percentual de mais de 30% entre os eleitores aptos a votarem. Em contrapartida, presenciou várias pessoas com bastante dificuldade de locomoção e mais velhas até do que ele, que não abriram mão de exercer o direito de cidadania.
Na opinião do aposentado, a ausência dos eleitores nas urnas está associada a uma ideia corrente e generalizada de que o político não tem a "reputação ilibada".
- Entendo que as pessoas se decepcionam com essa ideia e não vão votar. Só que alguém vai ser eleito, né? Seja com um voto, seja com 50 mil votos, alguém vai ser eleito. Quer dizer, se eu não participar então eu estou me omitindo de dar minha opinião, vencendo ou não vencendo, eu estaria dando a minha opinião que eu entendo seja importante.
O eleitor e mesário voluntário idoso, deixou um recado àqueles que não compareceram nas urnas:
- Se você não participar, perde a oportunidade de dar o seu parecer ou demonstrar que está satisfeito ou insatisfeito e mudar. Vote, vá. Tem dificuldades? Tem, é possível, mas tem um ônibus gratuito, tem acesso fácil de estacionamento, vá votar, tente o máximo possível fazer o seu voto. Porque se você não votar, alguém vai votar por você.
Título logo ao completar 16 anos
Com o mesmo entusiasmo de quem completa a maioridade e corre para fazer a carteira de motorista, Eduardo Biacchi, 16 anos, apressou-se em emitir o primeiro título de eleitor. Cerca de dois dias após fazer aniversário foi até o Cartório Eleitoral e, em poucos minutos de atendimento, ele já estava oficialmente cadastrado como eleitor.
Mesmo sem ter a obrigatoriedade do voto, o que ocorre apenas aos 18 anos, o estudante do 2º ano do Ensino Médio, relata que começou a interessar-se pela política quando ainda estava no Fundamental, motivado pelo interesse na história do país. Outra grande inspiração do jovem foi o avô, que morreu no início deste ano e que introduziu a política na vida do neto ao contar histórias da época em que foi vereador na região.
- Os professores me despertaram o interesse pela política no sentido das aulas de história. Comecei a me interessar, ver o passado do Brasil, o passado de toda a história e ter a oportunidade na política de mudar algumas coisas. (...) Minha maior inspiração, na verdade, mesmo é meu avô que faleceu este ano. Mas ele foi vereador de São Sepé e ele a vida inteira sempre meio que me inspirou nessa parte da política - contou ele, referindo-se ao avô Tibiriçá Brum Pires.
Eduardo destacou que, para tomar sua decisão nas urnas, acompanhou as propostas de cada um por meio de debate, redes sociais dos candidatos e propaganda.
- Tentei o principal ir pelas propostas e não por um cunho partidário. Então dei uma olhada nas propostas de todos e fui também com o que fecha com minha ideologia, e, o principal que é o que realmente eles apresentam para mudar na nossa cidade - acrescentou o estudante.
O jovem eleitor deixou um recado aos que se abstiveram do voto em 6 de outubro:
- O que eu mais ouço as pessoas falarem é que não gostam de política ou que não têm interesse. Mas eu acho que é uma coisa que a gente não pensa só para si mesmo, mas, sim, para todo mundo que a gente convive, que a gente vê passando necessidade. A maior inspiração é ver problemas recorrentes onde tu vive e tu vê que as coisas não precisam ser assim, que tem outras coisas que, talvez, tenha algum jeito de mudar. Eu acredito que a forma mais concreta que a gente pode mudar as coisas e ver elas sendo mudadas é pela política.
Não importa os percalços,importante é o voto
Lá se vão 50 anos da paixão da aposentada Geni Aguiar da Costa, 81 anos, pela política. Ao lado do esposo Deoclides Pereira da Costa, que faleceu aos 84 anos poucos dias antes do primeiro turno das eleições deste ano, trilharam juntos até o pleito de 2022 o caminho até a seção eleitoral na Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi, próximo da sua casa, no Bairro Juscelino Kubitschek. Em meio aos inúmeros comprovantes de votação, guardados com orgulho junto ao título de eleitor, dona Geni, contou quando começou o encanto pelas eleições.
- Gosto muito de política. Adoro! Depois que eu vim de fora, que vim para a cidade, lá fora, eu não sabia de política, mas, depois, que eu vim aqui para a cidade gosto muito de política - relatou ela.
Analfabeta, dona Geni disse que tinha muita vontade de votar, mas pela condição de não saber ler nem escrever, não sabia como fazer. Foi, então, que um político da época a levou ao Cartório Eleitoral, para que fizesse seu título. Foi desde, então, que ela percebeu que, a partir do ato de votar, é que as mudanças de realidades eram possíveis. Como analfabeta, o voto para ela sempre foi facultativo.
- Fico doente, se eu não votar. Já fui de cadeira de rodas votar. Vou agora, eles me levam agarrada de muleta, mas eu vou. Enquanto eu puder caminhar, que eu tiver bem da cabeça, eu vou votar. Se Deus quiser. (...) Eles me agarram no braço e vou com a muleta no outro. Não quero nem saber. Eu gosto. É um prazer que eu tenho. Eu não vou em festa, não vou em lugar nenhum, o meu prazer é ir lá levar meu votinho e votar na urna. E ainda tem que olhar se "tá" bem votado - conta a aposentada, orgulhosa de não abrir mão de participar das escolhas dos governantes.
O uso da cadeira de rodas, ocorreu nas eleições de 2022, após sofrer um acidente doméstico, mas, mesmo assim, fez questão de ir votar. Este ano, não foi diferente, mesmo com a perda do marido, dias antes do pleito. O esposo, a exemplo dela, sempre valorizou o ato de ir às urnas e antes de morrer pediu para que todos os familiares fossem votar.
- Antes de ele morrer, ele pediu que votassem e todos foram lá e votaram - acrescenta dona aposentada.
Enquanto se prepara para, mais uma vez, exercer o direito à cidadania, dona Geni deixou um recado àqueles que não foram votar no primeiro turno:
- Vão votar, têm que dar seu voto, seja para um, seja para outro. Eles têm que achar qual é o que é melhor. Esses cinquenta (mais de 57 mil eleitores) que não votaram, vão lá, dão seu voto, aqueles que podem ir. Eu não posso ir e vou. Vou e quero ver, se Deus me ajuda, eu vou dia 27 de novo.
Convicção no poder do voto e nas escolhas
O jovem Kauã Lemos de Medeiros, 21 anos, é cadeirante devido a uma má formação congênita, chamada mielomeningocele. O estudante de Direito na Universidade Franciscana (UFN), local também onde fica sua seção eleitoral, conta que sempre teve interesse pela política e considera muito importante poder escolher quem irá representá-lo.
- É uma questão muito importante, porque querendo ou não são representantes , que a nossa sociedade vai ter. A gente tem que fazer a nossa escolha muito bem feita, porque são eles que vão nos representar nos próximos quatro anos, então acho que é muito importante escolher pessoas sérias, pessoas honestas.
Para Kauã, que em 2024 participa da sua segunda eleição - a primeira foi o pleito presidencial em 2022 - a política é um direito do cidadão para que sua voz seja ouvida e sua opinião considerada e a democracia o meio para escolher o seu representante.
Ele destacou que não enfrentou dificuldades para votar, visto que sua seção é acessível e possibilita que ele vote de forma tranquila.
- Voto na UFSM que é o mesmo lugar onde eu faço faculdade, inclusive. E ali a acessibilidade ela é perfeita, muito boa, tem elevador, rampa é bem bom ali.
O cadeirante deixou um recado para as pessoas que deixaram de comparecer nas eleições:
- Vão votar. Porque o voto, ele é muito importante para a sociedade. Porque o que mais estamos escolhendo são pessoas, são homens que vão nos representar, que vão representar a nossa cidade pelos próximos quatro anos tanto em saúde, segurança e educação. Então o voto de cada um é muito importante para que nós possamos escolher esses nossos representantes e que eles sejam o melhor possível para a sociedade e para as questões administrativas também como saúde.
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