Após a extinção da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurava possíveis irregularidades na cobrança de valores pela Corsan/Aegea, a Câmara de Vereadores de Santa Maria realizou uma coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (27) para apontar motivos que levaram ao encerramento. Segundo a instituição, o prazo da CPI teria se encerrado ainda em maio. O vereador Tubias Callil (PL), que presidia a comissão, falou que "as regras do jogo mudaram" e que "outras CPIs tiveram os prazos estancados e duraram mais de 6 meses".
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A Rádio CDN (93.5 FM) acompanhou a coletiva. Segundo o presidente da Câmara, Admar Pozzobom (PSDB), os prazos não foram respeitados e, por isso, veio a sua extinção:
– Não foi o presidente que extinguiu a antiga CPI. Nós queríamos a CPI, tanto é que ontem [quinta], nós colocamos para a nova CPI não perder o prazo do objeto, que é a investigação do serviço da Corsan. Quem tem que ter responsabilidade de cuidar o prazo é o presidente da comissão, seja ela qual for. Neste caso, o da CPI da Corsan era presidida pelo vereador Tubias, ele que tinha que cuidar o prazo.
O presidente da Câmara falou sobre a averiguação do prazo, que foi provocada pela representação jurídica da Corsan/Aegea:
– O procurador averiguou e tinha passado o prazo. A mesa diretora comunicou que a CPI tinha expirado o prazo, que ela tinha que ser fechada. Ao mesmo tempo, no meu pronunciamento, na sessão plenária, eu já falei que nós queríamos ter outra comissão e que, se fosse protocolado no dia de ontem [quinta], era preciso se atentar para não perder tempo nessa investigação. Não precisa desse diálogo de que o presidente ou a procuradoria ou qualquer outro setor da casa está dizendo para os presidentes das comissões que está expirando o prazo – disse Admar.
Segundo o presidente da Câmara, os membros da nova CPI foram indicados na sessão plenária desta quinta. A partir de agora, há outros procedimentos como escolha de presidentes, vice, entre outros. Essa escolha inicia na próxima semana. Os prazos e instruções sobre uso dos materiais colhidos na extinta CPI foram explicados pelo procurador jurídico Lucas Saccol durante a coletiva realizada nesta sexta-feira (27):
– Cada investigação é própria. O que cada vereador apurou durante seu exercício do mandato pode ser encaminhado para o órgão que ele entender, MP, prefeitura etc. Não há um prejuízo de que os próprios componentes façam enquanto mandatos. É evidente que não em nome de CPI porque essa já não mais existe para fins de direito. Quanto aos prazos, são 90 dias para fazer as diligências necessária e eventualmente, se não conseguir concluir, antes disso, pedir a prorrogação dentro dos termos regimentais ao plenário.
Retrospectiva da extinta CPI
A CPI foi instalada em 25 de fevereiro de 2025. Segundo Saccol, até aquele momento a procuradoria não estava acompanhando. Até que em 11 de março foi solicitado em uma reunião o acompanhamento jurídico da Casa:
– É importante esse retrospecto porque está sendo muito falado que a Casa, que a mesa diretora, que a procuradoria e que a secretaria legislativa foram omissas. As primeiras oitivas começaram em 17 de março e acompanhamos. Em 21 e 31, seguiram as oitivas com acompanhamento jurídico. Já em 7 de abril, ocorreu uma reunião de orientações, visto que a CPI estava com algumas dificuldades de algumas intimações, de testemunhas. Então, orientamos qual seria o procedimento.
As oitivas seguiram em 11, 14 e 16 de abril com presença da procuradoria jurídica:
– Em 25, estava marcada a oitiva da Corsan, dos seus representantes, e eles não compareceram. Houve um pedido, naquela ocasião, que eles [Corsan] não tinham acesso aos autos. Orientamos que fosse dado esse acesso integral porque é um direito previsto na Constituição, até porque, estava na condição de investigada. Essa reunião foi a última que a procuradoria desta Casa acompanhou. Então, há mais de um mês. Mesmo que fosse atribuição nossa, que não é, é leviano dizer que nós deveríamos controlar os prazos. Qualquer membro da equipe e eu estaríamos extrapolando a nossa competência prevista em lei - disse Saccol, alegando ainda que nesse tipo de comissão, não há previsão legal de suspensão de prazos até que pedidos de informações sejam respondidos.
Segundo o procurador, ainda há um registro de reunião feita pela CPI em 22 de maio. Essa não foi acompanhada da procuradoria:
– Não podemos interferir na condução de qualquer Comissão, seja ela CPI, seja ela especial ou permanente. Cabe a quem está conduzindo os trabalhos fazer justamente o seu cronograma, deliberar no colegiado, e a partir disso, o secretário, que inclusive é remunerado por essa Casa a livre escolha da comissão, poder fazer o controle do andamento desses processo. Isso se chama segregação de funções e é o básico da administração pública.
O que diz o presidente da extinta CPI da Corsan
Além do vereador Tubias, a comissão tinha Sergio Cechin (Progressistas) como vice-presidente, e Helen Cabral (PT), como relatora. O vereador do PL disse não estar questionando a responsabilidade dos prazos, mas sim o procedimento que teria sido diferente em relação a outras CPIs já realizadas:
– O presidente tem toda a razão quando diz que não é responsabilidade nem da mesa, quanto dele, a questão dos prazos. O questionamento não é esse. Talvez seja um discurso bonito para o presidente, tentar desvirtuar o que realmente aconteceu. Nós não estamos questionando a mesa pelo prazo. O que estamos questionando é exatamente o regramento, que acabaram sendo mudados no meio da partida. O vereador Admar foi presidente da CPI do Shopping Independência e essa durou 9 meses. A CPI do PA, composta por outros vereadores, durou 6 meses. Da Covid, durou 7 meses. Por que essas CPIs duraram tanto tempo? Os prazos foram estancados. Sim, e respeitados o artigo 123, deixava o prazo estancado.
Tubias ainda salientou que não é possível realizar toda a investigação necessária em apenas 60 dias. E questionou, mais uma vez, porque em outros momentos houve o "estancamento dos prazos":
– Não tem como trabalhar, fazer uma investigação em 60 dias. Quando pedimos uma documentação para órgãos, acaba demorando esse retorno. Quando a Corsan solicitou o acesso aos documentos, só aí eles ganharam 40 dias. Quando você dá o prazo com a documentação, eles precisam ser estancados. Em outras seis CPIs, isso aconteceu. Por que a nossa precisa durar apenas 60 dias? Inclusive, em algumas CPIs dessas, o procurador era o mesmo. Não estamos questionando que precisam nos avisar de prazo. A responsabilidade é da comissão.
Segundo o vereador, será cumprida uma agenda no Ministério Público (MP) nesta sexta para que a documentação colhida durante o trabalho da CPI extinta seja entregue:
– É uma manobra. A manobra regimental é um artifício usado cumprindo o regimento interno e é o que foi feito aqui. Não tem como participar de uma CPI que não vai investigar nada, com todo respeito. Não é nenhuma ofensa a qualquer parlamentar. Temos muito material que poderá ser usado em um novo encaminhamento. Não podemos ser atropelados e a regra do jogo não pode mudar como a Câmara mudou. Eu desafio o presidente e o procurador, com todo o respeito, a vir no microfone dizer que eu estou mentindo, que as outras CPIs estancaram os prazos e que muitas delas nem precisaram talvez sequer pedir prorrogação.
Outros desdobramentos
Um documento de mais de 80 páginas havia sido encaminhado pela Corsan/Aegea ainda em maio, onde se pedia o afastamento do vereador Tubias da investigação. Os advogados da Corsan alegavam que a conduta do parlamentar desrespeitava as normas que regulamentam o bom funcionamento da Câmara. Ainda apontavam que haveria interesses particulares do vereador, visto que ele teria um poço artesiano irregular em um dos seus empreendimentos. Na ocasião, Tubias publicou um vídeo em suas redes sociais, no qual explica que não teria nenhum poço em seus negócios e de que não havia sido notificado por nenhum órgão em relação a isso:
– Mesmo que eu tivesse, não vejo crime nisso – disse ele à época.
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