Pablo Iglesias (diário)
Com apenas quatro anos de vida pública, Rodrigo Decimo (PSDB) chega ao cargo máximo de Santa Maria. Em uma rápida ascensão política, o engenheiro civil e vice-prefeito vai governar, a partir de janeiro, o maior município do centro do Estado e 5º maior colégio eleitoral gaúcho, rompendo a tradição das últimas décadas de chegar à prefeitura sem antes ter passado por cargos públicos, como o de vereador.
Neste ano, o aniversário teve uma emoção especial. Decimo completou 57 anos no dia 4 de novembro, oito dias após o segundo turno. Assim, o escorpiano recebeu de presente a oportunidade de ser o governante dos santa-marienses com aprovação de 54% nas urnas – 76.803 votos. Mas antes de ser político, Decimo carrega na bagagem uma importante história no meio empresarial da cidade.
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Vai um Xis?
Descendente de italianos como denuncia o sobrenome Decimo e nascido e criado em Uruguaiana, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul com a Argentina, o empresário viveu boa parte da adolescência na região. Das lembranças daquela época, o prefeito eleito de Santa Maria recorda de férias passadas em Itaqui, município vizinho à sua cidade natal. Ainda muito jovem, ele já demonstrava o interesse no trabalho. Por essas coincidências do destino, Decimo começou a fazer um lanche que a cidade que, futuramente, o acolheria sempre teve expertise.
– Quando chegava a época das férias, eu ia a Itaqui visitar um primo que regulava de idade comigo e ele trabalhava em uma lanchonete fazendo xis. E numa das vezes, eu resolvi ajudar e o dono da lancheria me fez a proposta de que ele me pagaria o valor da passagem de volta para Uruguaiana, e, como o dinheiro era contado para passar as férias, eu aproveitei e aceitei. Então, eu fazia xis, mas eram só os sabores tradicionais, tipo o salada, completo, frango – recorda o atual vice-prefeito.
Ajudinha da tia
Em 1983, a família Decimo, liderada pelos pais Elio e Sônia, toma uma decisão importante de deixar Uruguaiana rumo a Santa Maria para que os filhos pudessem estudar e iniciar a vida profissional. A nova residência passou a ser a Rua Conde de Porto Alegre, no Bairro Fátima. O prefeito eleito concluiu o Ensino Médio, em 1984, na Escola Estadual Cilon Rosa e, em 1985, após o Vestibular de verão, ingressou na 40ª turma de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
– Naquela época, o Ensino Médio possuía o ensino profissionalizante e quem me matriculou no Cilon Rosa foi uma tia minha. Ela me matriculou em aulas de edificações e aí, quando chegou a época de fazer o Vestibular, eu fiz para Engenharia Civil. Confesso que eu não tinha muita certeza se era o que de fato eu queria, mas, hoje, eu não me vejo em outra profissão se não essa – avalia ele, que, na quarta-feira, voltou ao prédio do curso, na UFSM, oportunidade em que um grupo de estudantes fez fila para um registro ao lado do ex-aluno e, agora, prefeito eleito.
Em julho de 1990, Decimo foi o orador da turma que se formava em Engenharia Civil. Depois disso, começou a vida profissional em uma construtora em que ele era, anteriormente, estagiário. Três anos depois, em 1993, abriu o primeiro negócio, um escritório de engenharia, que atuava em pequenas obras e, em 1997, após um estudo de mercado, decidiu abrir algo inovador para a época: a Fabricon, uma empresa de corte e dobra de aço, que fornece aço e ferros para construção civil e que mantém hoje. Foi a primeira do segmento na cidade e uma das primeiras no Estado. E, a partir da ambição com o negócio, em 1998, Decimo tomou a decisão de se filiar ao Sindicato da Indústria da Construção Civil de Santa Maria (Sinduscon-SM). Foi o ponto de partida para construir uma trajetória de liderança e gestão no ramo empresarial.
– Para que pudesse me aproximar das grandes empresas de construção, eu entrei no Sinduscon. Em 1999, eu passei a ocupar cargos dentro das diretorias, meu primeiro cargo foi de diretor da vice-presidência de qualidade e, de 2006 a 2008, fui presidente. Queria aprender e me desenvolver, então eu participava muito de treinamentos e reuniões em Porto Alegre na Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul). Depois disso, fiz parte da diretoria da Fiergs por três anos e fui pegando gosto pela coisa – conta o empresário.
Tanto na iniciativa privada quanto na vida pública, Decimo é conhecido por ter um perfil agregador e de gestão. Um dos amigos mais próximos de Decimo é o também engenheiro civil Samir Samara, atual presidente do Sinduscon. Os dois se conheceram há aproximadamente 24 anos no sindicato e, segundo o dirigente, a atuação do prefeito eleito foi um marco dentro da entidade pelo perfil.
– Rodrigo foi um ótimo gestor para o Sinduscon, um presidente acolhedor que mobilizou as empresas do ramo na cidade e sempre muito agregador. Ele foi o presidente responsável por unir as empresas e por incentivar as que ainda não eram filiadas, que se filiassem. Foi uma gestão muito eficiente e que serviu de inspiração para os presidentes que o sucederam e, pra nós, é uma satisfação muito grande ter um ex-presidente do Sinduscon como prefeito – afirma o amigo.
O trampolim para a política
Em 2015, Decimo foi eleito presidente da principal entidade empresarial da cidade, a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism). A gestão de quatro anos o aproximou do governo municipal. Foi o trampolim para o ingresso na política como candidato a vice-prefeito de Jorge Pozzobom (PSDB) na disputa à reeleição.
– Nos primeiros quatro anos do prefeito Jorge, que coincidiram com os meus anos de gestão da Cacism, nós tivemos algumas interações que nos aproximaram, como a reforma do programa Poupa Tempo, a construção da perimetral Dom Ivo Lorscheiter e a Feisma (Multifeira de Santa Maria). E, a partir disso, criou-se uma afinidade e uma amizade – comenta Decimo sobre o caminho que começaria a ser pavimentado para a política partidária.
No início de 2020, Pozzobom e o seu vice-prefeito, Sergio Cechin (Progressistas), rompem relações e, com isso, inicia-se a busca por um nome para compor a chapa à reeleição. O caminho para o convencimento foi longo até Decimo se filiar ao PSL (atual União Brasil).
– Um dia, o Jorge chegou a mim, depois de muitos pedidos para eu ser o vice dele e pediu para eu me filiar ao partido, mesmo com a minha recusa em ser o vice. Eu disse: “olha Jorge, eu não vou concorrer, mas pela nossa amizade, eu me filio”. E, depois, era tanta gente me pedindo para ser o vice, até que aceitei. Eu me filiei ao PSL porque eu concordava com os ideais do partido, mas, principalmente, pelo arranjo político – afirma o prefeito eleito.
Até São Borja para convencer
Uma dessas “tanta gente” que o convenceram a ser o vice-prefeito em 2020 foi o amigo Samara:
– Em 2020, quando o Cechin largou o Jorge, o prefeito me ligou pedindo um novo vice pra ele, e eu disse: “já sei quem eu posso te indicar e acho que tu vai gostar”, mas aí o Rodrigo disse que não. Algum tempo depois, eu, o Rodrigo e outros dois amigos fizemos uma viagem até São Borja e fui de Santa Maria até lá dizendo que ele tinha que ser o vice-prefeito. Logo depois, ele aceitou e eu ajudei ele a se filiar ao partido para concorrer– recorda o atual presidente do Sinduscon.
Apaixonado pelo Centro Histórico, Decimo, enquanto vice-prefeito, liderou o projeto de criação do Distrito Criativo Centro-Gare, do qual sempre fala com muito entusiasmo. Também ficou sob sua responsabilidade a Parceria Público-Privada da Iluminação Pública, outra vitrine da gestão tucana.
Gosto pela cozinha
Já fora dos compromissos de vice-prefeito e da atuação de empresário da construção civil, Decimo gosta no pouco tempo livre – que tende a ficar mais escasso a partir de 2025 – de assistir filmes, séries, mas, principalmente de fazer bons pratos. Segundo a esposa Janise, a influência vem da mãe, a professora Sônia (já falecida), que gostava de cozinhar. Risotos, massas e o tradicional churrasco são a especialidade do prefeito eleito.
Juntos desde a década de 90, Janise, que é natural de Santiago, conta que eles se conheceram em um Carnaval em 1991, quando Decimo foi passar as festas de Momo na cidade. Mas o namoro só engrenou em 1992 durante a Tertúlia, tradicional festival nativista de Santa Maria. A união resultou nos filhos Luíse e Lorenzo.
– Ele é uma pessoa muito família, reservado e que gosta de trabalhar. Ele levanta às 5h da manhã, mas isso de madrugar sempre foi dele. E a companhia dele é uma companhia maravilhosa, Rodrigo sempre foi muito presente, preocupado com a família e sempre muito calmo e positivo. Temos uma cumplicidade única – descreve Janise.
A partir de 2025, Decimo continuará madrugando, talvez até um pouco mais cedo e, como ele mesmo disse que não se vê em outra profissão que não a de engenheiro civil, estará à frente da sua maior e desafiadora obra que é gerenciar essa engrenagem chamada Santa Maria, uma cidade que tem carências, mas também tem muitas oportunidades e potencialidades.
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