entrevista: senador eleito

'A pesquisa, para mim, da forma como foi feita, errou', afirma Luis Carlos Heinze

Eduardo Tesch e Jaqueline Silveira

Foto: Gabriel Haesbaert (Diário) 

Na eleição de 7 de outubro, o Rio Grande do Sul elegeu dois senadores: Luis Carlos Heinze (PP) e Paulo Paim (PT). Apontado nas pesquisas em 4º lugar, Heinze chegou na frente na disputa e foi eleito para seu primeiro mandato com mais 2 milhões de votos depois de cinco como deputado federal. Ex-prefeito de São Borja, o progressista, em entrevista ao Diário, comenta o erro das pesquisas, suas bandeiras no Senado, as divergências com o PP e seu apoio incondicional ao agora presidente eleito capitão reformado Jair Bolsonaro (PSL) e seu vice, general Antônio Hamilton Mourão, contrariando, inclusive, seu partido. Confira os principais trechos:

Trajetória

  • Nome - Luis Carlos Heinze
  • Idade - 68 anos
  • Naturalidade - Candelária 
  • Profissão - Engenheiro Agrônomo fotmado pela UFSM, produtor rural e professor
  • Carreira política - Está no 5º mandato de deputado federal. Foi deputado estadual e prefeito de São Borja 
  • Principais feitos políticos - Autor do projeto que acaba com a exigência do símbolo da transgenia nos rótulos dos produtos com  organismos geneticamente modificados (OGM), como óleo de soja, fubá e outros produtos derivados 

Diário de Santa Maria - As pesquisas ao Senado apontavam o senhor em quarto lugar e, surpreendentemente, o senhor chegou em primeiro lugar fazendo mais de 2 milhões de votos. O senhor também se surpreendeu? Ou, o senhor sentia que o apoio das ruas não refletia as pesquisas?
Luis Carlos Heinze -
A pesquisa, para mim, da forma como que foi feita, ela errou. Eu acho que o peso maior dos mais de 1.200 entrevistados, ele pegava mais um eixo de Porto Alegre a Caxias do Sul, onde eu nunca praticamente trabalhei. Eu trabalhava por aqui, na Depressão Central, Fronteira, Missões, Planalto, na Zona Sul, tinha um foco no trabalho que eu fazia como candidato a deputado e isso não refletia, esses votos da região que eu faço, onde normalmente sou votado. E nós tínhamos dois levantamentos internos, que davam resultados diferentes. Uma vez eu estava em terceiro lugar, depois em segundo lugar, e as coisas estavam se alterando. Eu fiz uma pesquisa no Rio Grande do Sul, Fronteira-Oeste, Missões, aqui na Depressão Central, Planalto médio, Serra Gaúcha, Região Metropolitana, e dessa forma nós ouvimos em torno de 5.500 entrevistados e o resultado era outro, nós já tínhamos esse resultado.

Diário - Mas o senhor já esperava mais de 2 milhões de votos?
Heinze 
- Quando nós resolvemos abrir voto ao Bolsonaro (Jair), já tinha um acerto com ele, a coisa melhorou mais ainda.

Diário - Inclusive, o senhor fez uma campanha mais em carreira solo, porque não acompanhava muito o candidato ao governo do Estado Eduardo Leite (PSDB) apoiado pelo PP em suas atividades, e para presidente, o senhor também não apoiou o Geraldo Alckmin (PSDB). Então, fez diferença essa estratégia, o voto a Bolsonaro?
Heinze -
Fez. Ajudou aqui e em outros lugares. Uma outra coisa importante, o Bolsonaro traz hoje uma proposta diferente para o país. O povo está votando na mudança, haja visto a renovação do Senado, a renovação da Câmara, bem maior do que se esperava. Então, apesar de eu ter cinco mandatos (deputado federal), o discurso era diferente, esse discurso representava a mudança, a mudança que o povo aceitou e quis fazer. Foi isso que nos ajudou a fazer esses 2,3 milhões de votos. 

Diário - Ao contrário de deputado que o mandato é de quatro anos, o senhor vai ter agora oito anos para fazer o trabalho no Senado. Quais serão as suas principais bandeiras? O senhor sempre foi identificado como integrante da bancada ruralista. Seguirá com essas causas? Terão outras?
Heinze -
Essa nós vamos continuar, porque a classe, por exemplo, hoje perdeu a Ana Amélia (senadora encerra mandato no início de 2019) que não vai trabalhar a agricultura, o Blairo (Maggi, ministro da Agricultura) que não se candidatou, o MoKa (Wlademir), que não se reelegeu, o Caiado (Ronaldo), que saiu para governador (Goiás). Então, ali já perdemos quatro nomes que eram identificados. Eu estou entrando pra ajudar quem já está lá e ainda não vi no balanço quem mais vem da agricultura. Mas fora isso, outras questões do Estado, a dívida, por exemplo, eu tenho uma proposta diferente da que o Sartori (governador) está defendendo e tem que trabalhar para cobrar o que a União deve para o RS.

Diário _ E que contribuição um senador da República pode dar na renegociação da dívida do Estado com a União? E qual sua proposta para resolver esse problema tão grave?
Heinze -
Eu quero ajudar. Eu tenho dito, já dizia como candidato a governador, como candidato ao Senado e tenho colocado essa situação: São Paulo deve três vezes o que deve o RS deve, Rio de Janeiro deve duas vezes mais, Minas Gerais deve uma vez e meia, Santa Catarina deve R$ 10 bilhões, Paraná deve R$ 10 bilhões. Eu vou juntar um movimento de senadores de todos esses Estados, juntar as bancadas federais, nós temos 31 deputados, São Paulo são 70. Vamos juntar as forças desses parlamentares e pressionar o governo federal, numa outra negociação, é isso que a gente quer fazer, usando essa força política e cobrar o que a União deve para os Estados em cima da lei garantida. Por exemplo, em 2018 , o que eles teriam que devolver aos Estados daria R$ 39 bilhões. Sabe qual é a proposta de devolver este ano? R$ 3,9 milhões, 10% do que tem que devolver para os Estados exportadores. Bom, se eu pegar o que nós temos, nós fizemos um levantamento de uma comissão especial que faço parte, de deputados e senadores, mais ou menos R$ 54,55 bilhões os Estados têm a receber. Se eu devo 70 e tenho 50 para receber, a coisa é diferente, então tu me cobra 100 que eu te devo, agora eu não te cobro 80 que tu me deve.

Diário - Mas a União não tem muito interesse em devolver esses créditos. Negociações não evoluíram mesmo com governos alinhados com o Estado.
Heinze -
Ninguém fez o que eu quero fazer: pressão. Como é que os caminhoneiros pararam o Brasil no whatsapp, ligaram e pararam o país. Será que se eu pegar 15 ou 20 senadores, uns 10 governadores, uns 300 deputados eu não consigo fazer isso? É diferente, eu sou senador e vou lá discutir a dívida? O governador vai lá discutir e leva três ou quatro deputados. Eu já acompanhei o Sartori e não adianta três ou quatro pra conversar com ministro da Fazenda, secretário do Tesouro, presidente da República.

Diário - E ainda tem o ministro-chefe da Casa Civil (Eliseu Padilha) que é gaúcho e poderia ajudar
Heinze -
Não interessa. Não adianta, eu sei? Ele (governador) chega ali e bate na Secretaria do Tesouro, aqui não dá, não posso e aí não vai, a coisa para ali. Então, nós temos que achar essa forma e eu vou achar, esse é o primeiro passo. Depois, outras questões que geram desenvolvimento do RS, então agora, por exemplo, me apresentaram a RSC-287, vamos duplicar, aí já tem um projeto de duplicar a BR-116, a BR-386, projeto de três pontes com a Argentina. Esse projetos, o que acontece, tem que botar a iniciativa privada, não tem jeito. Tem que chamar capital privado pra isso aí, em cima das duplicações que o Estado precisa fazer, cobrar do Estado. O governo federal não vai ter dinheiro, certo, então essas obras são fundamentais. Bom, como é que nós vamos fazer isso, temos que pegar capital privado para essas coisas acontecerem mais rápido. Nós vamos trabalhar ferrovias, tem mais de 1.000 km desativados; nós vamos trabalhar hidrovias, que tem 1.200 km do RS e 500 km não são utilizados e 700 km usam muito mal. Então tem que trabalhar essas questões, portos, por exemplo. Nós precisamos fazer e eu vou focar nessas questões. Isso é desenvolvimento do Estado. 

Diário - A Metade Sul, que o senhor conhece muito bem, é pobre e com muitas dificuldades para de se desenvolver. Como um senador pode contribuir nesse sentido?
Heinze -
Outra coisa, pega a energia. Nós temos na Metade Sul trabalhar a questão de energia. Sabia que nós importamos mais de 50% de energia que nós consumimos? Como é que o Estado vai desenvolver, se não tem energia? Só no Rio Uruguai, entre Garabi e Panambi tem mais de 2.000MW parado, o projeto não está andando. Eu trabalho como deputado e vou trabalhar muito mais como senador. A Zona Sul tem eólica (energia), tem solar, tem o Litoral lá na praia pra fazer isso aqui, tem biomassa. Tem projetos para a Metade Sul em cima de plantio, um projeto que nós já fizemos em Pinheiro Machado. A Metade Sul produz mais coisas além de soja, do arroz, do boi. Então, tem coisas importantes pra acontecer e nós vamos focar nessas regiões que geram desenvolvimento.

Diário - O seu nome chegou a ser para ser ministro no futuro governo de Bolsonaro? Poderá assumir uma pasta, ou ficará no Senado diante da votação expressiva que recebeu? 
Heinze -
Ele (Bolsonaro) fala que quer ouvir a bancada ruralista, eu faço parte da bancada, fui presidente dessa bancada, já que a bancada vai ter uma posição sobre esse assunto. Isso ainda virá pra frente.

Diário - Mas o senhor não descarta?
Heinze -
Não. Não é minha preocupação hoje, se vier, posso até aceitar.

Diário - A campanha presidencial foi num ambiente bem hostil, o senhor acha que há risco à democracia, a Constituição Federal será ser respeitada?
Heinze -
Não, esquece. Isso, aí eu não vejo. Os militares, que é o Mourão e Bolsonaro, vão entrar pela porta da frente, o povo quis isso aí. O povo queria essa mudança, então não adianta, isso é o povo que quer. Isso aí não põe em risco nada, pode crer que não vão fazer nada. Não tem risco nenhum à democracia.

Diário - O senhor chegou a lançar a candidatura para o governo do estado e acabou abrindo mão meio a contragosto, em função de uma articulação nacional. Não só o senhor, mas muitos progressistas, inclusive aqui da região, ficaram desgostosos com essa decisão. Essas divergências já estão superadas no PP ou foram amenizadas com a sua eleição ao Senado?
Heinze -
Da minha parte, não houve problema, porque quando eu estava para tomar a decisão, eu espalhei no Whatsapp, Facebook, e recebi resposta de mais de 20 mil pessoas que me responderam. 73% deram um sinal positivo, seu eu abraçasse o projeto do Senado, iam me apoiar, se eu fosse para governador, iam me apoiar. Bom, a base queria o que eu quis. 27% falaram diferente, mas depois acabaram aceitando. Essa outra questão é assim, houve problemas internos e já foram superados. Então, uma decisão de uma minoria, porque a maioria do partido queria uma candidatura própria. As coisas mudaram, eu entrei nesse outro projeto, eu acertei.

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