Violência contra a mulher: 43 feminicídios foram registrados em Santa Maria e região desde 2019

Violência contra a mulher: 43 feminicídios foram registrados em Santa Maria e região desde 2019

Foto: Reprodução

Imagens de câmeras de monitoramento flagraram o momento em que Paola Muller, 32 anos, é morta a tiros pelo ex-companheiro; crime ocorreu em janeiro de 2025

Pelo menos 43 mulheres foram vítimas de feminicídios na região nos últimos sete anos. Neste ano, foram três, até o dia 1º de maio. A fonte para a pesquisa foi o Indicador da Violência Contra a Mulher - Lei Maria da Penha, disponível no site da Secretaria de Segurança Pública (SSP).


+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp

De acordo com dados divulgados pelo governo do Estado, no primeiro trimestre deste ano, 17 mulheres foram mortas no Rio Grande do Sul. Somente no feriadão entre a Sexta-Feira Santa e Tiradentes, em abril, outras 10 vítimas somaram-se a essa estatística, sendo uma delas na região. 


Por isso, a reportagem fez um levantamento do cenário da violência doméstica nas 39 cidades de cobertura do Diário


No painel da SSP, as informações foram coletadas do período de 2019 até o primeiro trimestre deste ano. Até a publicação desta matéria, os dados referentes a abril não haviam sido divulgados. Mesmo assim, o Diário contabiliza o assassinato de Juliana Proença Luiz, 47 anos, morta a facadas pelo ex-companheiro no dia 18 de abril em São Gabriel, por se tratar de um registro confirmado na região.


Com esses números, é possível afirmar que, no período de 2019 até abril de 2025, foram registrados 43 feminicídios em Santa Maria e região. 
Os crimes aconteceram em 21 municípios. Dezoito não registram assassinatos de mulheres por questão de gênero desde 2019. Confira a tabela:


Município
2019
2020
2021
2022
2023
2024
1º tri de 2025
Total por cidade
Agudo
0
0
0
0
0
1
0
1
Capaçava do Sul
1
1
0
0
0
0
0
2
Cacequi
0
0
0
0
0
0
0
0
Cruz Alta
0
0
0
3
0
1
1
5
Dilermando de Aguiar
0
0
0
0
0
0
0
0
Dona Francisca
0
1
0
0
0
0
0
1
Faxinal do Soturno
0
0
1
0
0
0
0
1
Formigueiro
0
0
0
0
0
0
0
0
Itaara
0
0
0
1
1
0
0
2
Itacurubi
0
0
0
0
0
0
0
0
Ivorá
0
0
1
0
0
0
0
1
Jaguari
0
0
0
0
0
0
0
0
Jari
0
0
0
0
0
0
0
0
Júlio de Castilhos
1
0
0
0
0
0
0
1
Lavras do Sul
1
0
0
0
0
0
0
1
Mata
1
0
0
0
0
0
0
1
Nova Esperança do Sul
0
0
0
1
0
0
0
1
Nova Palma
0
0
0
0
0
0
0
0
Paraíso do Sul
0
0
0
0
0
0
0
0
Pinhal Grande
0
0
0
0
0
0
0
0
Restinga Sêca
0
0
0
0
1
1
0
2
Quevedos
0
0
0
0
0
0
0
0
Rosário do Sul
1
0
0
1
0
0
0
2
Santa Margarida do Sul
0
0
0
0
0
0
0
0
Santa Maria
4
1
0
1
0
1
0
7
Santana da Boa Vista
0
1
0
0
0
0
0
1
Santiago
0
0
0
0
0
0
0
0
São Francisco de Assis
1
0
0
0
1
0
1
3
São Gabriel*
0
0
2
0
2
0
0
4 + 1 = 5
São João do Polêsine
0
0
0
0
0
0
0
0
São Martinho da Serra
0
0
0
0
0
0
0
0
São Pedro
0
0
1
0
0
1
0
2
São Sepé
0
0
0
1
0
0
0
1
São Vicente do Sul
1
0
0
0
0
0
0
1
Silveira Martins
0
0
0
0
0
0
0
0
Toropi
0
0
2
0
0
0
0
2
Tupanciretã
0
0
0
0
0
0
0
0
Unistalda
0
0
0
0
0
0
0
0
Vila Nova do Sul
0
0
0
0
0
0
0
0








Total: 43

*Foi incluído em São Gabriel o feminicídio de Juliana Proença Luis, registrado no dia 18 de abril.
Dados: Secretaria de Segurança Pública (SSP).


De acordo com os dados, são três feminicídios registrados neste ano na região, nas cidades de São Francisco de Assis, Cruz Alta e São Gabriel.


"É um indicador que encontra uma resistência para ser controlado", afirma delegado de São Gabriel 

Depois de Santa Maria, Cruz Alta e São Gabriel foram as cidades da região com o maior número de mulheres assassinadas desde 2019: cinco cada uma.

No comando da única delegacia de São Gabriel desde outubro de 2024, o delegado Daniel Severo conta que ocorrências de violência doméstica são corriqueiras na cidade, que não possui uma Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam):

– Além de casos de estelionato, aplicados em sua maioria de forma virtual, as ocorrências de violência doméstica são corriqueiras por aqui, é um dos assuntos que mais movimentam a delegacia na cidade. É um indicador que encontra uma resistência para ser controlado, tenho visto cada vez mais casos envolvendo mulheres mais novas, que não chegaram a ter um relacionamento sério com o agressor, porém, a situação já se encaminhou para a violência.

A delegacia é dividida em setores, dentre eles, os cartórios. O Cartório de Vulneráveis é composto por três agentes, preferencialmente do sexo feminino e tem como atribuição atender casos envolvendo violência doméstica, ocorrências com idosos, crianças, adolescentes e outros grupos minoritários. Porém, esse atendimento ocorre em horário comercial.

Nos demais horários e aos finais de semana, os policiais trabalham em uma espécie de "plantão improvisado", para que a delegacia fique aberta 24 horas e não falte atendimento à população. Além disso, é possível acionar a Brigada Militar por meio do 190.

Caso a vítima não consiga ir pessoalmente até a DP, a Delegacia Online da Mulher lançou uma plataforma onde é possível registrar o boletim de ocorrência e solicitar a medida protetiva de urgência pela internet. É necessário fazer login com a conta do Gov.br para ter acesso ao serviço (clique aqui).

Por pertencer à 9ª Região Policial, as solicitações são enviadas para a DPPA de Bagé, que fica responsável de fazer o encaminhamento ao Judiciário de São Gabriel. 


Um dos planos estratégicos para o ano, segundo o delegado, é a abertura de uma Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) para a cidade, com funcionamento 24 horas.

– Temos em torno de 8 mil ocorrências por ano. É muita coisa. Não somente das vítimas de violência doméstica, mas do público em geral, o atendimento costuma ser mais lento. O objetivo com a DPPA, caso se concretize, será manter uma dupla de plantão e que um dos agentes seja do sexo feminino, justamente para o atendimento de mulheres que buscarem ajuda nestes horários – conta o delegado.


Delegacia de Polícia de São Gabriel Foto: Vitória Parise (Diário)


Delegacia de Polícia de São Gabriel
Endereço: Rua João Manoel, nº 508, Centro
Telefone: (55) 3232-6166
Brigada Militar: 190


"Fazemos um trabalho focado na investigação e punição do indivíduo", afirma delegado da Deam de Cruz Alta

Nos últimos seis anos, Cruz Alta acumula 5 feminicídios, sendo um registrado neste ano. O município desfruta de uma estrutura diferente em comparação a São Gabriel, pois tem uma Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) 24 horas e uma Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam)

No comando da Deam há três meses, o delegado Dieison Anderson Garcia Novroth, que também é titular da DP de Salto do Jacuí, explica que o ideal, na cidade, é procurar a DPPA para o registro das ocorrências justamente por funcionar 24 horas, inclusive aos feriados e finais de semana. A Deam de Cruz Alta conta com uma equipe composta por cinco agentes e um delegado.

– A grande maioria das ocorrências são ameaças e lesão corporal. Eu vejo a cidade de Cruz Alta dentro da normalidade quando falamos de violência doméstica, acho que não destoa das outras cidades. Por aqui, a missão em proteger a mulher inicia logo após o registro da ocorrência na DPPA – conta o delegado.

No município, a Patrulha Maria da Penha da Brigada Militar também é atuante. As equipes realizam um trabalho focado na fiscalização da medida protetiva, com visitas periódicas na casa da vítima, para saber se tudo está ocorrendo bem. 

– Fazemos um trabalho focado na investigação e punição do indivíduo. Para ele perceber que aquilo que ele está fazendo é errado e que há punição. A rede de proteção, composta pela polícia, por órgãos municipais e pelo Ministério Público, fortalecem esse trabalho – conclui Novroth.


Prédio da Polícia Civil em Cruz AltaFoto: Google Maps (Reprodução)


Deam Cruz Alta
Endereço: Rua Cel. José Gabriel, nº 21 - Bairro Schettert
Horário de funcionamento: 8h30min às 12h; 13h30min às 18h
Telefone: (55) 98404-9079 ou 190


DPPA Cruz Alta
Endereço: Rua Cel. José Gabriel, nº 21 - Bairro Schettert
Horário de funcionamento: 24 horas
Telefone: (55) 3372-1357 ou 190


Quem são as três vítimas de feminicídios neste ano na região

Paola Muller - São Francisco de Assis

Foto: Reprodução


A mulher de 32 anos foi morta a tiros no dia 27 de janeiro em frente ao hospital da cidade. O crime foi cometido por seu ex-companheiro, Alan Rodrigues, que disparou cerca de 12 tiros contra a vítima enquanto ela estava dentro de um veículo. A  motivação do crime estaria relacionada a conflitos sobre a guarda do filho do casal e o pagamento de pensão.

Paola, funcionária de uma rede de farmácias, havia encerrado o expediente e, ao chegar em casa, foi atacada pelo ex-companheiro com seis tiros, na frente do filho de 6 anosVizinhos da vítima a socorreram e a encaminharam ao hospital, quando Rodrigues seguiu o carro e novamente efetuou mais seis disparos. A ação foi registrada por câmeras de segurança. O autor do crime está preso e foi denunciado pelo Ministério Público. 

Cinco dias antes de ser morta, Paola entrou com um pedido de medida protetiva contra o ex-companheiro após ele ter tentado invadir a residência onde ela vivia com o filho em São Francisco de Assis. Segundo a investigação, o casal estava separado, e na última semana antes do crime, a justiça havia concedido a guarda para a mãe, o que teria motivado o feminicídio. Apesar do pedido da vítima, não foi solicitado o uso de tornozeleira eletrônica ao autor do crime.


Carla Frida Naisk Sanders - Cruz Alta

Foto: Reprodução


A mulher de 57 anos foi vista pela última vez na localidade de Ivaí, ao sair para ir à igreja, no dia 23 de fevereiro. Seu corpo foi localizado somente quatro dias depois, no dia 27. Durante perícia realizada pela polícia na casa da vítima, foram encontradas marcas de sangue na parede e no sofá da sala. O filho de Carla, um jovem de 24 anos, foi indiciado como autor do crime.

Ele morava com a mãe na residência e não chegou a assumir a autoria do assassinato, mas informou aos policiais onde o corpo da mulher estava e levou a guarnição até o local. 

O corpo de Carla foi encontrado em estado avançado de decomposição em uma região de mato a cerca de cinco quilômetros de sua casa, e apresentava sinais de violência e brutalidade. A partir disso, o filho foi considerado como o principal suspeito do crime. 

O jovem foi preso por ocultação de cadáver, desacato e desobediência. No dia 28 de fevereiro, a Justiça decretou a prisão preventiva. O inquérito policial foi concluído em março deste ano e remetido ao Judiciário. Nele, o jovem foi indiciado pelo crime de feminicídio. 


Juliana Proença Luiz - São Gabriel 

Foto: Reprodução

No fim da manhã do dia 18 de abril, Juliana Proença Luiz, 47 anos, foi assassinada com uma facada na região do pescoço dentro de uma residência, em São Gabriel. O autor do crime foi o ex-companheiro da vítima, de 54 anos, que confessou o assassinato e está preso. Esse foi um dos seis feminicídios registrados no Rio Grande do Sul no feriado da Sexta-Feira Santa.

O inquérito deste caso já foi concluído por parte da Polícia Civil, remetido ao Judiciário e o ex-companheiro da vítima foi indiciado por feminicídio.


Leia mais:


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Brigada Militar recupera veículo roubado em Santa Maria Anterior

Brigada Militar recupera veículo roubado em Santa Maria

Prevenção e combate à violência contra a mulher estará mais presente nas escolas de Santa Maria Próximo

Prevenção e combate à violência contra a mulher estará mais presente nas escolas de Santa Maria

Polícia/Segurança