
Foto: Beto Albert
Na madrugada de 10 de fevereiro de 2024, a morte de Zilda Corrêa Bittencourt em um suposto ritual religioso em cemitério de Formigueiro chocou a região. Um ano após o caso, quatro pessoas respondem pelo crime na Justiça. Duas delas, Nayara Brum, 33 anos, e Larry Chaves Brum, 23, seguem presas no Presídio Estadual de São Sepé. Jubal dos Santos Brum, 67 anos, está em liberdade provisória e Francisco Guedes, 65, conhecido como Chico Guedes e que seria pai de santo, em prisão domiciliar.
+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia
O caso corre em segredo de justiça e aguarda laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) sobre a reconstituição do crime, realizada em julho de 2024. No dia 30 de janeiro, a 1ª Vara da Comarca de São Sepé realizou a segunda audiência para ouvir os réus. Chico Guedes não compareceu pois, conforme sua defesa, ele realizou, no mesmo dia, uma cirurgia cardiovascular no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm).
O advogado do pai de santo, Ariel Cardoso, pediu a remarcação da audiência, e, assim, evitar "qualquer possibilidade de acarretar em nulidades que possam prejudicar o processo futuramente". Caso não seja atendido, ele deve "recorrer ao tribunal (TJ-RS) em busca dos direitos mais básicos atinentes ao processo penal". Há previsão de que uma terceira audiência para ouvir os réus seja realizada antes que o processo avance.
A expectativa é de que o julgamento seja realizado na metade de 2025.
As advogadas Márcia Pereira da Silva, Liégy Pereira da Silva Meneghetti e Ediani da Silva Ritter, representantes da defesa de Jubal e seus filhos, Nayara e Larry, não quiseram se manifestar. Limitaram-se a dizer que aguardam o fim do processo para falar, visto que o caso ocorre em sigilo.
Relembre a cronologia dos fatos
Na madrugada de 10 de fevereiro, a Brigada Militar foi informada sobre a morte de uma mulher em um possível ritual religioso, no cemitério localizado na Colônia Antão Faria, interior de Formigueiro. A vítima, à época com 58 anos, chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
Conforme informações divulgadas na época, Zilda, que teria sido torturada e agredida fisicamente com socos, tapas e pisões, além de ser golpeada em várias partes do corpo e ter tido a cabeça lançada contra o chão diversas vezes. Por fim, ela foi amarrada a uma cruz. A informação é de que o marido e o filho da vitima buscaram a ajuda de "pais de santo" porque a mulher sofria há mais de 20 anos com "duas entidades que incorporavam nela".
Os dois irmãos, Nayara e Larry Chaves Brum, foram encaminhados à Delegacia de Polícia de Formigueiro e foram presos em flagrante na madrugada do crime. Jubal se apresentou à delegacia na manhã de domingo, acompanhado de uma advogada. Já o pai de santo Chico Guedes foi detido na residência de Jubal, localizada no Quilombo Passo dos Mais. O marido e o filho de Zilda foram ouvidos como testemunhas do caso.
Em março, o Ministério Público (MP) apresentou a denúncia à Justiça. O promotor Fernando Mello Muller denunciou os quatro suspeitos por homicídio com três qualificadoras: motivo torpe, emprego de asfixia e recurso que dificultou a defesa da vítima. Ainda, conforme o Ministério Público, durante o ritual, Zilda teria sido crucificada. A Justiça aceitou o pedido do MP e os quatro viraram réus e estão sendo processados como responsáveis pelo homicídio. A Polícia Civil não apontou culpa do marido e do filho de Zilda no crime.
Em abril, a Justiça autorizou a prisão domiciliar do pai de santo, Francisco Guedes. A defesa alegou problemas de saúde. Chico Guedes foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio e é considerado o mentor intelectual do ritual. Atualmente, ele usa uma tornozeleira eletrônica. Em junho, um segundo indiciado, Jubal dos Santos Brum, foi solto pela Justiça e está em liberdade provisória. Os filhos de Jubal seguem presos no Presídio Estadual de São Sepé.
Em 30 de julho, agentes da Polícia Civil, do Instituto Geral de Perícias (IGP) e da Brigada Militar deram início à reconstituição do crime. A perícia ocorreu em duas etapas: primeiro na casa de Jubal, depois no cemitério da Colônia Antão Faria, que fica cerca de 11 quilômetros do centro da cidade. O objetivo da reconstituição foi reproduzir de forma simulada o ritual que culminou na morte de Zilda e, assim, esclarecer aspectos do crime. Um ano após o crime, o laudo ainda não saiu.