Morte de empresário a facadas no centro de Santa Maria completa um ano; confira a conclusão do caso

Morte de empresário a facadas no centro de Santa Maria completa um ano; confira a conclusão do caso

Foto: Arquivo Pessoal

Na tarde de 22 de fevereiro de 2024, o empresário José Carlos Lopes de Andrade, 71 anos, chegava em um prédio estabelecimento comercial, no centro de Santa Maria, quando foi surpreendido por um homem armado com uma faca. O agressor, Josias de Quadros Sena, 46 anos, desferiu 32 facadas na vítima e fugiu. Neste sábado (22), quando o crime completa um ano, relembre o que aconteceu e motivação para o brutal assassinato que chocou a cidade. 


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De acordo com o laudo da necropsia, as perfurações ocorreram em diversas partes do corpo de Andrade. Três delas penetraram o coração da vítima, causando hemorragia torácica interna, sendo apontada como a causa da sua morte. O autor do crime foi diagnosticado com esquizofrenia e, por isso, considerado inimputável pela Justiça. Ele está detido na Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm), aguardando uma vaga para internação em uma instituição psiquiátrica.


O Diário conversou com a defesa da família da vítima e do autor do crime, além da Delegacia de Homicídios para atualizar o caso.


O crime

O ataque ocorreu na Rua Ângelo Uglione, no Centro, na tarde de 22 de fevereiro do ano passado. José Carlos de Andrade chegava em um prédio comercial, onde iria na sua contadora. Após tocar o interfone, ele foi surpreendido por Josias, que atravessou a rua, tirou a faca da cintura e desferiu os 32 golpes. Depois, fugiu do local. Pessoas que passavam pela rua, além de funcionários do prédio, pediram ajuda, mas o empresário morreu no local.


Local onde o empresário foi morto no centro de Santa MariaFoto: Rafael Menezes

Josias Sena foi dado como foragido e localizado cerca de dois meses depois, no dia 12 de abril, em um abrigo para moradores de rua em Joinville (SC). A prisão se deu após uma ação coletiva da polícia da Delegacia de Homicídios de Santa Maria com a Guarda Municipal da cidade catarinense. O autor do crime foi transferido para Santa Maria e levado, na época, para a Pesm.


Qual a motivação para o crime? 

Segundo o advogado Fabiano Braga Pires, que representou a família da vítima no processo, Josias trabalhou por um curto período na empresa de José Carlos de Andrade, uma serralheria no Bairro Camobi. Após um tempo, pediu demissão e teria ido embora da cidade. Josias é natural de Uruguaiana e teria morado em diversas cidades, inclusive fora do Rio Grande do Sul, fazendo "bicos". Após um tempo fora, retornou para Santa Maria e morava com familiares. 


O advogado conta que Josias tinha alucinações frequentes. Ele acreditava que o ex-patrão e seus familiares lhe perseguiam, inclusive na época em que morou fora do Estado. O autor do crime não tinha antecedentes policiais antes desse fato:


– O que foi apurado é que ele criou uma realidade fantasiosa de que a vítima e sua família o estavam perseguindo. Foi apurado na investigação que, em uma época, ele foi para a região norte do Brasil e, quando retornou, afirmou que a família do José Carlos de Andrade o havia perseguido por lá, sendo que ninguém esteve naquela região – conta o advogdo.


Quem mantém o mesmo discurso é a defensora pública Valéria Brondani, que acompanhou o processo de Josias:


– Ele pode ter reconhecido a vítima na rua e, acreditando que era perseguido, agiu pensando que era para "se defender", como ele acredita. Mas ele não estava sendo perseguido.


Caso está concluído

O inquérito foi remetido ao Judiciário em agosto de 2024. No decorrer do processo, foi aberto um processo de insanidade mental por parte da defesa de Josias, após avaliação de uma equipe médica multiprofissional, que o diagnosticou com problemas psiquiátricos. De acordo com o laudo, ele foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide. 


A defensora pública informa que, pela sentença dada pelo juiz, Josias foi isento da pena e deveria estar internado em uma clínica psiquiátrica neste momento. 


– Neste caso, o réu não é condenado nem absolvido. Chamamos isso de absolvição imprópria. Conforme a sentença, já que foi diagnosticado com um problema psiquiátrico, ele fica submetido a uma medida de segurança, que no caso do Josias, foi a internação psiquiátrica. Porém, ele segue preso na Pesm, pois não conseguimos um lugar para interná-lo. Não se tem, no momento, para onde enviar presos considerados inimputáveis no Estado - informa.


Na época, o caso estava sob a responsabilidade de Marcelo Arigony, que se aposentou da Polícia Civil ainda no ano passado. Agora, o responsável pela Delegacia de Homicídios é Adriano de Rossi. O delegado relembra que Josias Sena chegou a ser internado em Cacequi em janeiro deste ano, porém teria fugido dias depois. Ele foi localizado e preso. Desde então, segue na Pesm. 


Valéria explica como funciona o diagnóstico de um réu como inimputável: 


– Pessoas com problemas mentais são submetidas a uma perícia pelo médico psiquiatra do Fórum. O médico analisa se, diante das condições mentais, o réu teria consciência do que estava fazendo e se teria agido de outra forma. O laudo apontou que Josias não tinha noção e foi considerado inimputável.


De acordo com o Código Penal, uma pessoa é inimputável "quando não consegue compreender a ilicitude de suas ações, devido a uma doença mental ou desenvolvimento mental incompleto".


Conforme a defensora pública, Josias não havia sido diagnosticado anteriormente com essa doença, apesar de apresentar sintomas desde a adolescência. Além disso, ele já foi avaliado por diversas juntas médicas e teria iniciado o tratamento recentemente, porém sem tomar remédios.


O advogado Fabiano Braga Pires reforça que Josias deve passar por avaliações periódicas para analisar as suas faculdades mentais, e não pode voltar às ruas por ser um indivíduo perigoso. 


– Vamos tentar manter o réu com essa medida de segurança, pois ele possui alta periculosidade, pela forma como ele cometeu esse crime. Ele não pode ficar solto, pois apresenta características violentas, além desse deslocamento frequente da realidade – afirma o advogado da família da vítima. 


Busca por "tesouro perdido" em sua cidade natal

Conforme conta a defensora pública, Josias teria protagonizado um momento considerado inusitado em Uruguaiana. Em 2023, ele teria cavado buracos na praça principal da cidade. Quando questionado sobre isso, teria alegado que "procurava por tesouros escondidos". A polícia chegou a ser chamada, mas nada foi encontrado no local.


Família lida com o luto

José Carlos era empresário e foi dono da Serralheria Andrade, localizada em Camobi, por cerca de 40 anos. Atualmente, o estabelecimento deu lugar à Esquadrias Andrade. Ele deixou quatro filhos: Michele, 43 anos, Maiquel, 39, Micael, 29, e Michel, 24.


José Carlos (à dir.) e seus quatro filhos Foto: Arquivo Pessoal


Segundo relata Michele Monte de Andrade, a filha mais velha, o caso é considerado "algo anormal". Os filhos ainda tentam assimilar a morte brutal do pai: 


– Foi algo fora da normalidade. Não sabemos direito o que ocorreu, se houve uma alucinação. Acho que nunca saberemos a motivação.


Questionada sobre como tem sido os últimos meses, ela resume, emocionada:


– É muito difícil, não tem um dia que a gente não fique sem chorar. Meu pai era um homem trabalhador, teve uma infância sofrida. É muito difícil tentar entender tudo isso. Foi algo muito brutal, completamente inexplicável. Eu tento imaginar que chegou a hora dele, pra tentar buscar uma resposta o que ocorreu - desabafa Michele.


Os filhos escreveram, em forma de texto, uma homenagem ao pai. Confira um trecho:


“Hoje, 22 de fevereiro de 2025, faz 1 ano que perdemos não apenas um
pai, perdemos uma referência de vida, um conselheiro, um amigo! Não se
foi apenas um pai, um avô, um sogro; se foi um irmão, um tio, um
padrinho, um perseverante empreendedor que serviu de exemplo para
muitas pessoas.

Seu Andrade, mesmo sendo uma pessoa simples, sempre foi um homem
vaidoso e de espírito jovem. De estatura baixa, corpo em forma, belos olhos
azuis e dono de uma gargalhada super engraçada, mantinha uma
alimentação saudável e a prática de esportes. Foi um gremista fervoroso e,
mesmo ao longo de 71 anos, se considerava um jovem senhor galanteador
que gostava de usar bons perfumes, arrumar os cabelos e usar camisas com
calças jeans e tênis. Gostava de estar entre pessoas jovens e se sentia
“ofendido” quando chamado de idoso (fila ou estacionamento de idoso...
jamais), pois ele sempre falava que se sentia “um guri”.


Seus filhos acreditam que o pai viveu intensamente e cumpriu a sua missão 
na terra de um modo muito genuíno, realizando praticamente todos os seus
desejos e sonhos."


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