
Foto: Rafael Menezes (Diário)
Registro 37º homicídio de 2024 em Santa Maria, quando um jovem foi morto a tiros no Bairro Divina Providência
O enfrentamento à violência urbana exige uma conjuntura de fatores. Não basta atacar o efeito, é preciso agir na causa. Nesse contexto, percebe-se a ausência de políticas públicas para desincentivar os jovens a ingressarem no submundo do crime. Campanhas de conscientização contra o uso de drogas, por exemplo, foram abandonadas pelo Estado.
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Também não há investimentos em propostas que ofereçam oportunidades de estudo e trabalho. Resultado: cada vez mais adolescentes e jovens estão ingressando no tráfico de drogas em busca de sustento financeiro.
Só que esse “mercado de trabalho” vende uma ilusão a essa nova geração. Ao mesmo tempo em que adolescentes viram assassinos de facções – estratégia para contornar a Justiça, já que a punição para eles é branda –, também estão virando vítimas da própria violência que disseminam.
Entre 2023 e 2024, oito santa-marienses entre 14 e 17 anos foram assassinados em Santa Maria. Na maioria dos casos, por envolvimento no tráfico.
Professor de Direito Penal e Processual da Faculdade Sobresp, o advogado criminalista Raphael Urbanetto Peres afirma que a Polícia Civil tem executado muito bem seu trabalho na investigação para elucidar os homicídios, mas o Estado falha na outra ponta, que é evitar que os crimes aconteçam.
– O que está acontecendo evidencia ainda mais o descaso do Estado com os jovens. O tráfico, para eles (jovens), acaba sendo o único caminho – observa.
Após Santa Maria registrar 66 homicídios em 2024, o governo do Estado anunciou medidas para enfrentar a criminalidade. Operações foram realizadas, mas os resultados ainda são tímidos. Em 2025, o município já soma 10 assassinatos. O número supera o mesmo período de 2022 e 2023, e fica um pouco abaixo das 14 mortes do ano passado até esta mesma época.
O fato de Santa Maria ser estratégica para o tráfico de drogas, não só pela posição geográfica, mas também pelo alto consumo de drogas entre a população, já justificaria haver, aqui, uma estrutura permanente da segurança pública para atacar o fortalecimento dos facções criminosas. É isso que a população tem cobrado do poder público.
– Não podemos aceitar como normal tantos jovens morrerem a cada ano na cidade devido à disputa pelo tráfico de drogas – conclui Peres.
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