
Foto: Reprodução
Em 25 de março de 2025, a morte do menino Théo Ricardo Ferreira Felber chocou o Rio Grande do Sul. Com apenas 5 anos, ele foi jogado de uma ponte, em São Gabriel, pelo próprio pai, que confessou o crime. Um mês depois do bárbaro crime, o vendedor Tiago Felber, 40 anos, segue preso preventivamente na Penitenciária Estadual Modulada de Uruguaiana.
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Na última terça-feira (22), o assassino confesso foi indiciado no inquérito da Polícia Civil por tentativa de homicídio e homicídio qualificado, ou seja, por tentar matar o filho por esganadura e por matar o filho ao jogá-lo da ponte.
Em entrevista ao programa Fim de Tarde CDN de terça, o delegado Daniel Severo, responsável pelo caso, explicou que a qualificação dos crimes envolve motivo fútil, por se tratar de ciúmes e vingança da ex-companheira. O crime foi cometido como forma de atingir Abigail Luisa Ferreira Felber, 30 anos, mãe de Théo, que é moradora de Nova Hartz, na Região do Vale do Sinos.
Conforme a investigação, ficou constatado que, ao descobrir que a ex-mulher estava namorando, dias antes de encontrar com o filho, o comportamento de Felber teria se agravado. No dia em que se entregou à polícia, o vendedor confessou que havia tentado matar o filho por asfixia um dia antes de jogá-lo da ponte Engenheiro Alfredo Bento Pereira, sobre o Rio Vacacaí.
Depois de jogar Théo da ponte, o pai foi almoçar. Então, enviou um áudio de WhatsApp para familiares em que confessou o crime. “Fiz uma loucurinha. Atirei o Théo lá embaixo da ponte”, relatou, sem demonstrar remorso ou arrependimento, conforme ele próprio admitiu depois em depoimento ao delegado Daniel Severo.

A reportagem procurou a defesa de Tiago Felber, representada pelo advogado Roberto Leite, que informou aguardar os autos do processo para se pronunciar.
Em nota divulgada na quinta-feira (24), a defesa da família de Théo Ricardo Felber informou que viu com satisfação o indiciamento do autor do crime, “tratando-se de um passo fundamental na busca pela responsabilização penal do agressor e para a promoção da justiça que a família e toda a sociedade esperam”.
As advogadas Anne Victória da Rosa Ganguilhet e Brenda Garcia ressaltaram, na nota, o caráter perigoso de Tiago Felber, que usou da morte do próprio filho do casal como vingança contra a mãe de Théo, Abigail Luisa Ferreira Felber.
“Compreendemos que o referido indiciamento não registra somente a materialidade e autoria de um crime já confessado. Na verdade, fica cristalino que esse avanço evidencia o grau de periculosidade de um agressor que fez da paternidade, um instrumento de vingança”, afirma a defesa.
As advogadas esperam que a denúncia do Ministério Público siga a mesma linha do indiciamento pela Polícia Civil, “ou, se possível, com imputações ainda mais rigorosas, compatíveis com a gravidade dos fatos apurados”.
Laudo da perícia
O laudo realizado pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) apontou que Théo Felber morreu em decorrência de traumatismo crânio-encefálico, provocado por instrumento contundente, compatível com a queda da criança da ponte de cerca de 7 metros de altura.
Conforme o resultado da análise, também foi encontrado paracetamol no organismo do menino, em dosagem compatível com a de uso terapêutico, e sem relação direta com o óbito. Não havia sinal de álcool ou outras substâncias ilícitas, descartando, assim, qualquer tipo de sedação ou intoxicação. Além disso, os exames confirmaram sinais de esganadura, reforçando o depoimento do autor do crime de que teria esganado o filho um dia antes de sua morte.
O caso
Theo estava em São Gabriel para comemorar o aniversário do pai, celebrado no dia da morte do menino, 25 de março. Segundo o delegado Daniel Severo, Felber e Abigail estavam separados desde novembro de 2024 e, há algum tempo, o vendedor planejava uma vingança. Quando foi buscar Théo na estação do Trensurb, em Novo Hamburgo, cidade próxima a Nova Hartz, o vendedor e a ex-esposa teriam discutido, pois ele não aceitava o fim do relacionamento.
Em depoimento à polícia, o pai afirmou que o assassinato foi motivado por vingança. Ele revelou que seu “plano A” era matar a ex-mulher e seu namorado, mas, ao não conseguir, optou por matar o filho como “plano B”.
Despedida
Théo Felber foi sepultado na manhã de 27 de março, em Nova Hartz, no Vale do Sinos. A despedida do menino reuniu pessoas que seguiram em cortejo pelas ruas da capela até o cemitério municipal, onde ocorreu o sepultamento.

Próximos passos
Após o indiciamento de Tiago Felber por parte da Polícia Civil, o caso foi encaminhado ao Ministério Público. A partir de agora, o MP tem um prazo para realizar a denúncia contra o acusado e, então, tramitar o pedido ao Judiciário.
Crimes que envolveram mortes de crianças no país
- Bom Retiro do Sul (RS) - Em 2013, um homem matou seus dois filhos, um menino de 6 anos e uma menina de 3, com marteladas, em Bom Retiro do Sul, no Vale do Taquari. Segundo a Polícia Civil, ele deixou uma carta falando sobre o crime, antes de cometer suicídio, para justificar o crime, alegando que estava com dificuldades em aceitar sua separação com a esposa, mãe das crianças.
- Alvorada (RS) - Em 2022, quatro crianças foram encontradas mortas dentro de uma casa, em Alvorada, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O pai, David da Silva Lemos, foi indiciado pelo Ministério Público pelo crime. Três das quatro crianças foram encontradas com marcas de facadas e uma com asfixia. Os pais estavam separados e havia histórico de violência doméstica contra a mãe das crianças. O júri do acusado está marcado para 13 de maio deste ano.
- Três Passos (RS) - Em 2014, Bernardo Boldrini, então com 11 anos, desapareceu em Três Passos (RS) e só foi encontrado 10 dias depois, enterrado em uma cova em Frederico Westphalen. O pai do menino, Leandro Boldrini, foi apontado como mentor do crime e condenado em 2023 a 31 anos e 8 meses. Atualmente, ele está em regime semiaberto, cumprindo pena no Presídio Regional de Santa Maria. Graciele, considerada a executora, foi condenada a 34 anos e sete meses de prisão e também está no semiaberto. Edelvânia Wirganovicz, condenada a 22 anos e 10 meses, cumpria pena no regime semiaberto, quando foi encontrada morta no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre, na terça-feira (22) Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, também foi condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto, por ajudar na ocultação do corpo. A pena foi extinta em 2024 e atualmente está em liberdade.