
Foto: Arquivo Pessoal
Taísa Macedo Paula, 26 anos, foi assassinado no Dia dos Namorados de 2017 pelo então namorado, um pastor, que confessou o crime. Réu irá a julgamento em novembro
Sete anos depois de ser assassinada com golpes de martelo, no Dia dos Namorados de 2017, Taísa Macedo Paula terá seu caso julgado no dia 18 de novembro, em Santa Maria. O réu, Carlos Rudinei de Oliveira da Silva, 42 anos, homem com quem ela mantinha um relacionamento, responde em liberdade por homicídio qualificado e ocultação de cadáver com a qualificadora de feminicídio. Ela estava grávida de três meses. A necropsia apontou como causa da morte traumatismo craniano.
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Taísa desapareceu em 12 de junho de 2017, aos 26 anos, após ser vista saindo de casa, no Bairro Salgado Filho, na região norte da cidade. Foram 36 dias de buscas até que, em 18 de julho, o corpo foi localizado parcialmente enterrado em uma área de mata na localidade de Rincão da Limeira, no interior de Itaara. O local foi apontado pelo próprio autor confesso do crime, que era pastor e conheceu Taísa na igreja onde ela estudava para ser missionária. A família espera por justiça desde então.
Para o irmão, Dierson Macedo Paula, 37 anos, ainda é muito difícil viver o dia 12 de junho.
— É difícil falar porque agora, às 17h30min (de 12 de junho de 2017), foi a última vez que a gente entrou em contato, que ela me mandou uma mensagem falando onde estaria a chave da casa. No lugar secreto, que a gente brincava. É como se fosse uma ferida aberta, esperando justiça mesmo. Mas, infelizmente, o que a Justiça determinar não vai trazer mais minha irmã. Não tenho aquele pensamento de que ele (o réu) tem que ser preso, isso não interessa mais. Quem ficou preso nesse caso e perdeu com tudo isso foram eu e a minha mãe — conta.
Ao Diário, Dierson diz que viu o pastor duas vezes desde que o caso aconteceu. Em uma dessas ocasiões, o acusado do crime estava acompanhado da família. Em 2019, descobriu que o acusado estaria trabalhando como pastor em uma igreja no Bairro Nova Santa Marta.
E mesmo com o julgamento marcado, o irmão de Taísa não tem grandes expectativas sobre o resultado.
— Infelizmente, talvez eu esteja assistindo muitos filmes, mas eu não espero muita coisa, sabe? Eu pego e questiono: "Mas por que que ele está solto ainda?", e a resposta é que, perante a Justiça, ele é uma pessoa que não oferece risco à sociedade, porque toda vez que a Justiça chama, ele se apresenta. Ele tem residência fixa e emprego fixo. Então, ele é um um cidadão, uma pessoa que não oferece risco à sociedade. Só que essa pessoa que não oferece a risco à sociedade matou a minha irmã.
O advogado da família, Daniel Tonetto, explica que o julgamento levou tempo porque o processo penal brasileiro permite muitos recursos e, além disso, houve atrasos provocados pela pandemia. A expectativa, segundo ele, é de que o réu seja condenado e deixe o tribunal diretamente para a prisão.
— Já acompanhei centenas de delitos de homicídio, e por mais que eu esteja acostumado, é um caso que marca muito por conta da atrocidade, da maldade. A família tem a dor da perda, que é horrível, e ela espera que somado a essa dor, não tenha a dor da injustiça. Por isso, tenho certeza que vamos pedir a condenação, e que a justiça será feita com a condenação de quem é acusado por esse crime monstruoso — diz Tonetto.
Jovem foi morta no dia em que esperava assumir namoro

Taísa morava com o irmão em uma casa na Rua Francisco Brochado da Rocha, no Bairro Salgado Filho. Segundo ele, a jovem mantinha um relacionamento com Carlos Rudinei, que era casado. A mãe de Taísa, Glecir Macedo da Silveira, também frequentava a igreja na época e conhecia o pastor, mas não sabia do relacionamento dele com sua filha.
Dierson conta que o pastor prometia deixar a esposa, e o prazo dado por Taísa para que ele assumisse o relacionamento era o dia 12 de junho de 2017, Dia dos Namorados — data em que desapareceu.
Por volta das 16h, Taísa avisou o irmão e a cunhada, por mensagem, que estava saindo. Ela foi vista pelos vizinhos pela última vez no período da tarde, momento em que deixava a casa. Dierson começou a ficar preocupado por volta das 21h30min, pois, geralmente, ela voltava mais cedo para casa.
Nesse dia, na tentativa de encontrar pistas sobre onde ela poderia estar, ele encontrou um urso de pelúcia e uma caneca do Grêmio com um bilhete que dizia: “Papai, nós te amamos”, presente que seria endereçado a Carlos Rudinei.
Foram várias tentativas de contato com Taísa e Carlos Rudinei via telefone, todas sem sucesso. Dierson conta que às 6h30min do dia 13 de junho, o pastor teria ligado para ele. Disse que havia conversado com Taísa, que eles haviam discutido, mas que ela teria ido para casa. Ainda teria dito: “Quem encontrar ela primeiro avisa o outro”. Além disso, três dias antes de a polícia encontrar o corpo, em Itaara, o ex-pastor teria enviado uma mensagem a Dierson perguntando se ele tinha notícias de Taísa.
Em depoimento, Carlos Rudinei confessou a autoria do crime. Na época, ele disse à polícia que teria encontrado a jovem na rua. Eles haviam discutido, ela teria entrado no carro dele, e os dois teriam ido ao local do crime, na localidade de Rincão da Limeira. Lá, o casal teria discutido novamente e Taísa teria tentado agredi-lo. Por essa razão, ele teria atingido a jovem com golpes de martelo. Ele negou ter conhecimento da gestação.
Quando o caso completou um ano, em 2018, Dierson, disse em entrevista ao Diário que a mãe foi morar em Santa Catarina por não conseguir lidar com as lembranças da filha em Santa Maria. Ela vive no Estado vizinho desde então.
O réu nunca foi preso — decisão que gerou polêmica nas redes sociais. À época, o delegado que coordenava a investigação, Eduardo Machado, da Polícia Civil, disse ao que não pediu a prisão porque o suspeito não oferecia risco de fuga, tinha residência fixa, não possuía antecedentes criminais e estaria colaborando com as investigações.
O que diz a defesa
A reportagem tentou contato com a defesa de Carlos Rudinei, mas o advogado não foi localizado para comentar o caso.