O incêndio em uma boate na Macedônia do Norte, causado por efeitos pirotécnicos na madrugada de domingo (16), trouxe à tona memórias da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria. Em ambos os casos, as chamas se espalharam rapidamente após as faíscas do material disparado pelos integrantes da banda entrarem em contato com o teto do estabelecimento, feito de material inflamável.
Para Flávio Silva, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), o incidente pode ser definido como uma "tragédia anunciada", e mostra a falta de comprometimento em garantir a segurança de quem frequenta casas noturnas.
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— Essa é mais uma tragédia anunciada, prova que o que menos importa é proteger a vida das pessoas que frequentam e sustentam essas casas noturnas. O dinheiro acima de tudo, né? E a maioria das vezes acontece com o conhecimento dos entes públicos — diz.
Flávio é pai de uma das vítimas da tragédia que matou 242 jovens em 2013. Compôs a diretoria da AVTSM como vice-presidente de 2015 a 2018, e, após, como presidente de 2019 a 2022. Em outubro de 2024, após o encerramento do mandato de Gabriel Rovadoschi Barros, Flávio retornou à presidência da associação.
Ele ainda reforça a urgência de um compromisso global em torno da prevenção de tragédias, a fim de proibir o uso de fogos de artifício em casas noturnas e demais estabelecimentos:
— Está na hora de provocar uma mobilização internacional, fazer uma campanha para proibir qualquer tipo de artefatos pirotécnicos em casas noturnas, boates, shows, ginásios e cobrar para que sejam cumpridas as legislações de prevenção. Só assim podemos prevenir essas tragédias evitáveis como essas que aconteceram e vão continuar acontecendo se providências não forem tomadas — reforça.
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O caso
De acordo com o G1, o incidente foi registrado na boate "Pulse", em Kocani, no nordeste do país, a cerca de 100 km da capital, Skopje. Autoridades locais confirmaram que o incêndio começou durante o show do grupo de hip-hop DNK, um dos mais populares do país. Vários integrantes da banda estão entre os mortos, incluindo Andrej Gjorgieski, um dos vocalistas principais. Segundo o hospital da Macedônia, as vítimas têm entre 14 e 24 anos. Em Santa Maria, os mortos eram em sua maioria universitários na faixa dos 20 anos.
Registros do momento em que o incêndio começou tomaram conta das redes sociais:
As chamas se alastraram rapidamente para o teto, feito de material inflamável, o telhado do clube. Cerca de 1,5 mil pessoas estavam no local, de acordo com a imprensa da Macedônia. O clube noturno estava em um edifício que, anteriormente, funcionava como um depósito de tapetes.
As causas do incêndio e as responsabilidades continuam sendo investigadas pela polícia. Mais cedo, Toshkovsk anunciou que quatro pessoas foram presas, sem fornecer mais detalhes; a mídia local informa que o dono da boate está entre os detidos.
O ministro da Saúde, Arben Taravari, informou que 118 pessoas foram hospitalizadas, das quais 18 estão em estado crítico. O ministro também declarou que recebeu ofertas de assistência dos países vizinhos, incluindo Albânia, Bulgária, Grécia e Sérvia.
No dia 27 de janeiro de 2013, incêndio na boate Kiss matou 242 pessoas

Há um pouco mais de 12 anos, na madrugada no dia 27 de janeiro de 2013, o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, deixou 242 mortos e mais de 600 pessoas feridas. O incêndio teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, quando as chamas de dispositivos pirotécnicos alcançaram o teto do local e se alastraram rapidamente. Atualmente, os quatro réus condenados pela tragédia estão presos.
O coletivo Kiss Que Não se Repita publicou, por meio de suas redes sociais, a notícia do incêndio na Macedônia do Norte, fazendo alusão à tragédia de 2013. A AVTSM se manifestou:
O que diz a Lei 13.425/2017, a “Lei Kiss”
A Lei está em vigor desde 2017 e estabelece diretrizes e ações no combate a incêndios em estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público, depois da tragédia na Boate Kiss, no centro de Santa Maria.
Nela não há especificação sobre o uso de artefatos pirotécnicos em ambientes fechados, somente exigências quanto ao uso de materiais inflamáveis no interior do estabelecimento, o controle de capacidade de público e adequações estruturais, como portas de emergência, extintores de incêndio e brigadistas para combater eventuais sinistros que possam ocorrer.