
Foto: Beto Albert (Arquivo DSM)
A Polícia Civil de Formigueiro prendeu preventivamente na manhã desta sexta-feira (21), Débora Simões Ouriques, proprietária do Lar de Idosos Santo Antônio, sob suspeita de maus-tratos e homicídio de residentes da instituição. A ação é resultado de investigações iniciadas após a morte de Pedro Toniolo, de 74 anos, em janeiro de 2024. Débora foi presa em São Sepé, cidade para a qual se mudou após o abrigo ser fechado.
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Relembre o Caso de Pedro Toniolo
Pedro Toniolo foi internado no Lar Santo Antônio em novembro de 2023. Em dezembro do mesmo ano, familiares encontraram-no com queimaduras nos braços e na cabeça, além de sinais de desidratação e desnutrição. Após internação hospitalar, seu estado de saúde piorou, levando ao seu falecimento em 10 de janeiro de 2024. A proprietária do abrigo alegou que as queimaduras ocorreram devido à exposição ao sol, já que Toniolo, portador de Alzheimer, teria resistido a sair de uma área externa sombreada.
Na época, Débora falou à reportagem do Bei sobre o caso de Pedro Toniolo. Segundo ela, o idoso, por ter Alzheimer, resistia a cumprir determinações dos responsáveis pelo abrigo. O possível caso de insolação teria sido resultado da negativa do idoso em sair do local, ao ar livre, em um dia quente de dezembro.
- Ele se negava a sair da sombra. Ele não fazia uso da medicação corretamente, começou a usar depois que veio para o lar, e a família tinha ciência da gravidade do Alzheimer. Quando notei que tinha sofrido a insolação do “mormaço”, levei-o ao hospital. Ao notar que ele não estava se recuperando dias após, retornei ao hospital e ele foi transferido para Santa Maria, onde ficou aos cuidados do filho – contou Débora.
Interdição do Lar Santo Antônio
Em 8 de janeiro de 2025, a Vigilância Sanitária de Formigueiro interditou o Lar Santo Antônio após detectar casos de escabiose (sarna humana) entre os residentes. A instituição recebeu um prazo de 15 dias para realocar os idosos e 90 dias para resolver as irregularidades apontadas. Débora Simões afirmou que se manifestaria sobre o assunto após a emissão do laudo médico.
Investigações em Andamento
Além do caso de Pedro Toniolo, a Polícia Civil investiga outras mortes suspeitas no Lar Santo Antônio. Durante inspeções, foram encontradas condições precárias, como ambientes degradantes, falta de acessibilidade e ausência de profissionais de saúde qualificados.
O delegado Antônio Firmino Neto, titular da Delegacia de Formigueiro, destacou que Débora Simões também está sendo investigada por apropriação de bens dos idosos. Segundo as investigações, ao serem internados no Lar Santo Antônio, ela pegava os cartões bancários de previdência dos residentes para pagar a mensalidade, além de apropriar-se indevidamente das aposentadorias. Além disso, começou a realizar empréstimos consignados e bancários em nome dos idosos, desviando os valores para seu próprio benefício.
O delegado também relatou que a Polícia Civil, em conjunto com a prefeitura e uma equipe multidisciplinar composta por fiscais sanitários, médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, realizou inspeções na instituição.
- Nessas vistorias, foram constatadas condições deploráveis: idosos maltratados, com sarna e ferimentos; quartos sem cortinas, com janelas de vidro quebradas, expondo os residentes ao frio intenso; lareiras acesas sem proteção, aumentando os riscos de acidentes; ausência de controle sobre medicações; falta de nutricionista e médicos responsáveis pelo acompanhamento dos idosos. – afirmou.
A investigação segue para apurar se as mortes ocorridas na instituição foram resultados da negligência nos cuidados ou se há elementos que comprovem homicídios.
No caso de Pedro Toniolo, as queimaduras encontradas em sua cabeça foram analisadas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), que realizou exames microscópicos e periciais nos prontuários médicos.
- Caso seja confirmada a relação das queimaduras com o óbito, Débora poderá ser indiciada também por homicídio doloso, sob a modalidade de dolo eventual – conclui o delegado.
Débora foi encaminhada à Delegacia de Polícia de Formigueiro para registro da ocorrência, e após, conduzida ao Presídio Regional de Santa Maria.
O advogado Guilherme Motta, que representa Débora, afirmou que a defesa ainda não teve acesso integral às acusações contra sua cliente. No entanto, destacou que, devido ao fato de Débora ter um filho menor, buscará sua soltura com base na dependência materna da criança.