Patrulha Maria da Penha de Santa Maria monitora mais de 600 medidas protetivas de urgência

Patrulha Maria da Penha de Santa Maria monitora mais de 600 medidas protetivas de urgência

Foto: Vinicius Becker (Diário)

Em Santa Maria, a Patrulha Maria da Penha completou 10 anos de atuação no combate à violência doméstica. Na sala lilás destinada a Patrulha, na sede do 1º RPMon, o trabalho de compilar e atualizar dados é constante. Até o dia 2 de julho deste ano, o programa tinha 679 medidas protetivas de urgência ativas. Para dar conta dessa demanda, a iniciativa conta com outros serviços para garantir a proteção dessas mulheres.

 – A Patrulha Maria da Penha faz parte de uma rede de apoio, que é composta por várias instituições. Temos uma parceria muito grande, com o Ministério Público e o Juizado de Violência Doméstica e Familiar. Também possuímos o apoio do CRM, que é Centro de Referência da Mulher, o Fórum de Enfrentamento à Violência Doméstica, a Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), além de outras entidades nos âmbitos assistencial e da saúde que também auxiliam na concretização do trabalho realizado – afirma a comandante do 3º Esquadrão do 1º RPMon e instrutora do curso de capacitação da Patrulha Maria da Penha, capitã Fernanda Gonçalves.

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Na medida em que a rede se fortalece, mais mulheres vítimas de violência doméstica e familiar ganham força e coragem para quebrar o ciclo da violência em que se encontram. Conforme a capitã Fernanda, esse é um dos objetivos da Patrulha Maria da Penha:

Não é apenas fiscalizar o cumprimento das medidas protetivas de urgência. Vai muito além. Tem o viés educativo, repressivo e preventivo. Todos são muito importantes. Mas eu acho que o mais importante desse trabalho é proteger aquela mulher, que é vítima de violência doméstica e familiar, visando salvaguardar um direito que é o mais precioso e que, por vezes, por estar envolvida naquela espiral de violência, ela não acaba esquecendo, que é a própria vida. Então, valorizar isso é extremamente importante, e quando conseguimos resultados objetivos, isso nos traz muita alegria.

Conhecimento

Nos últimos sete anos, oito feminicídios foram registrados em Santa Maria. O mais recente foi de Luciane dos Santos, 37 anos, em 1º de julho deste ano. O suspeito é o companheiro, um homem de 42 anos.
O caso é investigado pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher.
 Embora Luciane não tivesse medida protetiva de urgência, sua morte reflete outra triste realidade. Para as vítimas de violência doméstica, a falta de informação pode ser fatal.

Conforme a capitã Luciane, os policiais militares são instruídos a conversar sobre a Lei Maria da Penha e os tipos de violência que ela contempla. A medida busca permitir que a vítima tenha ferramentas para identificar a situação que ela ou outras mulheres estão passando. Enquanto instrutora do curso de capacitação da Patrulha Maria da Penha, ela acredita que a troca de conhecimentos nunca é demais e pode sim fazer a diferença:

A Lei 11.340/06, que é a Lei Maria da Penha, traz os tipos de violência. Por vezes, a gota d’água é a violência física, mas existem outros tipos como a patrimonial, sexual, moral e psicológica. É extremamente importante que todas as mulheres tenham consciência de que certas atitudes são, sim, formas de violência, mas que por vezes não são conhecidas e divulgadas. Então, trazer esse conhecimento e passar essa orientação também são de extrema importância e nossos policiais militares estão capacitados para isso.

Capitã Fernanda Gonçalves é comandante do 3º Esquadrão do 1º RPMon e instrutora do curso de capacitação da Patrulha Maria da Penha

Quem é Maria da Penha?

Símbolo de resistência e luta contra a violência doméstica, Maria da Penha Maia Fernandes, 80 anos, é farmacêutica bioquímica, palestrante e fundadora do Instituto Maria da Penha. Formou-se na Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal do Ceará (UFC) em 1966 e concluiu o mestrado em Parasitologia em Análises Clínicas na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), em 1977. Foi durante a pós-graduação, em 1974, que ela conheceu o economista e professor colombiano Marco Antonio Heredia Viveros.  

No livro Sobrevivi... posso contar, publicado em 1994, Maria conta que os dois se apaixonaram, se casaram em 1976 e tiveram três filhas. Mas o que era para ser uma nova fase na vida da farmacêutica com a finalização do mestrado, tornou-se o início de um pesadelo.

 Após a mudança da família para Fortaleza, Maria da Penha passou a ser agredida por Marco Antonio. Os episódios teriam se intensificado após ele obter cidadania brasileira. A violência verbal e física, que também atingia as filhas, foi formando aos poucos um ciclo de tensão, agressão e arrependimento. Na fase mais traumática, Maria da Penha teve sua terceira filha e, em 1983, foi vítima de dupla tentativa de feminicídio por parte de Marco Antonio.

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Crimes e julgamento

Na primeira tentativa, Marco Antônio atirou nas costas de Maria enquanto ela dormia, deixando-a paraplégica, com lesões irreversíveis na coluna e outras sequelas físicas e psicológicas. À polícia, ele declarou que “tudo não havia passado de uma tentativa de assalto”.Quatro meses depois do primeiro crime, Marco Antônio tentou eletrocutar Maria durante o banho. A segunda tentativa foi seguida de 15 dias de cárcere privado

Em meio a dor e sofrimento, Maria da Penha ainda teve que lidar com mais obstáculos: a legislação brasileira, uma vez que a saída de casa poderia ser interpretada como abandono de lar em caso de divórcio, o que pode resultar na perda da guarda das três filhas para seu agressor. Com a ajuda de amigos e familiares, a situação foi contornada. Mas começava ali uma longa luta por justiça.

O julgamento do Marco Antônio começou em 1991, oito anos após o crime. Neste processo, ele foi condenado a 15 anos de prisão, mas acabou sendo libertado devido a recursos legais. Maria da Penha continuou na luta por justiça, relatando sua história em um livro publicado em 1994. Em 1996, ele foi condenado novamente, desta vez a 10 anos e 6 meses de prisão, mas a sentença não foi cumprida devido à alegação de irregularidades processuais.

Maria da Penha Foto: Divulgação/Instagram

Onde denunciar

  • Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180
  • Direitos Humanos – 100
  • Polícia Civil – 197
  • Brigada Militar – 190
  • Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher – (55) 3174-2252
  • Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Santa Maria – (55) 3222-8888
  • Ministério Público – (55) 3222- 9049
  • Defensoria Pública – (55) 3218-1032

Onde pedir ajuda

Centro de Referência da Mulher

  •  Horário – De segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia e das 13h às 17h
  • Endereço – na Rua Tuiuti, 1.835
  • Contato – (55) 3174-1519 e WhatsApp (55) 99139-4971

Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam)

  • Endereço – Rua Duque de Caxias, 1.159, Centro
  • Horário – Segunda a sexta, das 8h30min ao meio-dia e 13h30min às 18h
  • Contato – (55) 3222-9646 ou (55) 98423-2339

Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento

  • Endereço – Avenida Nossa Senhora Medianeira, 91
  • Horário – 24 horas (inclusive finais de semana e feriados)
  • Contato – (55) 3222-2858 / 190


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