
Foto: Vinicius Becker (Diário)
As circunstâncias que envolvem a morte de Valdemar Both, 54 anos, continuam sendo alvo de questionamentos da população e das autoridades. O agricultor morreu após abordagem da Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram), na tarde de terça-feira (1º), no distrito de Palma, em Santa Maria.
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Afastamento
Em entrevista ao programa Bom Dia Cidade (CDN 93.5 FM), o comandante do Comando Ambiental da Brigada Militar (CABM), Coronel Rodrigo Gonçalves dos Santos, confirmou o afastamento dos policiais que efetuaram os disparos durante a abordagem.
– Esse afastamento é preventivo, no sentido de salvaguardar os policiais e todas as questões que envolvem esse caso. Isso não significa que eles estão sendo punidos. Precisamos agora, com muita tranquilidade, fazer com que a investigação seja o mais célere e precisa possível – afirmou o comandante.
Ele acrescentou que os policiais realizam trabalhos administrativos, para garantir a integridade física dos envolvidos. Isso porque, segundo o coronel, houve hostilidades contra os PMs nas redes sociais, após o ocorrido.
Santos também confirmou que os policiais envolvidos são jovens soldados, entre 25 e 35 anos. Porém, frisou que os dois não ingressaram recentemente na corporação.
– Não tenho exatamente a precisão de quando eles entraram, mas não são novatos. Até porque os novatos não vão diretamente para atividades especializadas. Antes, eles passam por unidades de policiamento ostensivo geral – esclareceu o comandante.
Abordagem
O que foi apurado até o momento, conforme o coronel, é que não procede a informação de que a abordagem era fruto de uma denúncia de desmatamento.
– Essa informação não partiu da Brigada Militar. O procedimento dos policiais foi feito com base no planejamento tático operacional que é realizado diariamente, em que se trabalha com informações de crimes ambientais mais corriqueiros. Isso baliza o planejamento dos locais para definir rotas de patrulha e averiguação – explicou o comandante.
Santos ressaltou que a equipe patrulhava a região e se deparou com um empreendimento de produtos de origem florestal, neste caso a lenha. Segundo ele, Both não apresentou as licenças ambientais necessárias.
– Nós entendemos que, muitas vezes, as pessoas não sabem que é crime, por desconhecimento da legislação ambiental. O fato é que este cidadão não tinha as licenças solicitadas na fiscalização – pontuou o coronel.
Investigação
De acordo com o comandante, o inquérito policial militar aberto para investigar a conduta dos policiais tem prazo de 40 dias, mas pode ser prorrogado por mais 20. Além da investigação militar, a Polícia Civil também apura as circunstâncias do ocorrido.
– É praxe da Brigada abrir inquérito quando há ocorrências de qualquer natureza em ato de serviço. Mas um inquérito não interfere no outro. Em que pese, eles têm quase os mesmos objetivos, que é a apuração dos fatos, como se deram e a indicação ou não das responsabilidades – explicou o coronel.
Segundo Santos, as duas investigações podem ser complementares, inclusive com compartilhamento de provas. O inquérito policial militar é encaminhado à Justiça Militar, enquanto o realizado pela Polícia Civil é direcionado à Justiça comum. Quanto aos relatos dos policiais envolvidos, o coronel afirma que suas versões serão ouvidas exclusivamente dentro "dos atos formais" dos inquéritos. Dessa forma, conforme ele, os comandantes não têm acesso ao que os policiais relataram.
Os disparos e o machado
O comandante confirmou que foram realizados três disparos, mas não soube precisar a região e nem se os três tiros atingiram a vítima, visto que ainda não teve acesso ao laudo pericial. Sobre a conduta dos policiais e o uso da arma de fogo, o comandante ressaltou que é preciso entender a dinâmica do ocorrido:
– O fato de dispormos de armas não letais não significa dizer que, dependendo do caso, não tenhamos que partir de imediato para o uso de armas letais. São opções táticas que os policiais têm à disposição, mas a decisão é tomada em um momento que ainda não temos clareza. Os protocolos serão avaliados durante o inquérito.
O comandante disse também que as armas dos dois policiais apresentam indicativos de disparos.
– Obviamente que ninguém quer esse resultado. Nenhum policial militar sai de casa com a intenção de fazer uso da sua arma para, na tentativa de neutralizar uma eventual agressão, tirar a vida de alguém. Mas é uma atividade da polícia, temos que ter responsabilidade com os fatos – disse o comandante.
De acordo com Santos, o machado, que Both teria utilizado, supostamente, para agredir os policiais, conforme nota da Brigada Militar, foi apreendido.
– A existência do machado é verdadeira, tanto que ele foi apreendido. Nós não sabemos se estava na mão dele, se estava próximo, se ele pegou ou não. Essa dinâmica será elucidada dentro dos inquéritos. A menção (sobre o machado) surgiu no dia da ocorrência e, por isso, eu determinei que os policiais não se manifestassem, a não ser dentro do processo criminal – finalizou o comandante.
Confira a entrevista completa