VÍDEO: Claudio e os 16 amigos: conheça a história do catador que circula rodeado de cães pelas ruas de Santa Maria

VÍDEO: Claudio e os 16 amigos: conheça a história do catador que circula rodeado de cães pelas ruas de Santa Maria

Foto: Rian Lacerda (Diário)

Uma cena inusitada vem chamando atenção nas redes sociais e dos santa-marienses nas últimas semanas. Um catador de reciclagem circula diariamente pela região central de Santa Maria acompanhado de mais de 10 cachorros – todos vestidos com roupas. O que muitos ainda não conhecem é a história de superação de Claudio Ferraz dos Santos, conhecido como Baiano. Ex-morador de rua, ele encontrou no coração do Estado uma nova chance de vida ao lado de Andressa Araújo Alexandre, 24 anos, e seus dois filhos. A família, no entanto, foi crescendo ao longo dos anos com a chegada de alguns animais e o nascimento de outros, totalizando hoje 16 novos amigos, como o próprio Claudio os chama.


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Dificuldades e esperança

Foi circulando pela Avenida Presidente Vargas que a reportagem encontrou Claudio, 37 anos, em busca de materiais recicláveis – trabalho que sustenta a família desde que chegaram à cidade. Ele conheceu Andressa, hoje com 27 anos, em um parque de Porto Seguro, na Bahia. Na época, perguntou se ela sabia cozinhar, pois queria ajudá-la a conseguir uma oportunidade com o patrão. Após conversar com o gerente e ser aprovada na entrevista, Andressa foi contratada e os dois começaram a se aproximar como casal.


Segundo Andressa, o salário passou a atrasar, e ambos decidiram deixar o emprego.


– O gerente não queria me pagar o que era injusto. Discutimos, e ele me mandou embora. Quando falei para o Claudio que ia sair, ele respondeu: “Se ela for, eu também vou”. E saiu comigo – conta.


Sem emprego e com Andressa grávida, passaram a noite na casa de um tio dela, com o acordo de que seria por apenas uma noite. No dia seguinte, seguiram para Teixeira de Freitas (BA), onde compraram uma barraca de acampamento e passaram a viver nas ruas da cidade.


Com o desejo de recomeçar em outro Estado, o casal decidiu juntar o dinheiro do auxílio emergencial do governo federal, pago durante a pandemia de Covid-19, e escolheu o Rio Grande do Sul como destino. Com a rota definida, foi no Coração do Rio Grande que o casal depositou a esperança de um novo lar. Ao chegarem em Santa Maria, restavam R$ 300, valor usado para conseguir um lugar para ficar. O primeiro local foi a Vila Lídia. Ainda nesse período, Claudio iniciou o trabalho com reciclagem para manter a família.


–  Eu vim em busca de trabalho, mas, quando chegamos aqui, não conseguimos nada. Por enquanto, ficamos na reciclagem – relata Claudio.

Entre os muitos desafios, o casal enfrentou o adoecimento da filha caçula, Tainá Ferraz, que com apenas três meses contraiu uma infecção e ficou internada por três meses. Durante esse período, o casal afirma que as poucas conquistas que haviam feito foram levadas pelo então proprietário da casa em que moravam.


– Quando fiquei sabendo, chorei. Tínhamos tão pouco… E ainda assim, perdemos – relembra Andressa.


Com o tempo e o trabalho diário de Claudio, o casal conseguiu comprar um terreno próximo a um rio, no Bairro Urlândia. É lá que vivem atualmente, com os dois filhos e mais 16 cães, seus outros “filhos ou amigos”, como os chamam.


– Agora a gente tem o nosso próprio terreno, com o dinheiro da reciclagem. A gente passou fome para construir, para ter esse espaço aqui. Passamos muita fome. E agora vivemos do jeito que dá. A família está longe, sentimos falta, mas quero uma vida melhor para os meus filhos, para os meus bichinhos, para os meus outros filhos de casa, os de quatro patinhas também. Eu amo eles muito – conta Andressa.


“Meus amigos não me xingam, não me batem e não me maltratam”

Sobre seus cães, Claudio demonstra carinho e dedicação. Alguns ele criou desde filhotes e hoje cuida também dos descendentes. Outros foram encontrados durante o trabalho e acabaram ficando. Um detalhe que chama atenção é o “look” dos animais, que têm até costureira: Andressa adapta roupas doadas pela população ou peças próprias para transformar em agasalhos.


Claudio conta que os cães têm preferência por roupas que sirvam direitinho:


– Eles sempre têm que ter a medida certa, porque senão não dá. Tem que ter as roupinhas no tamanho certo, senão eles não usam – explica.


“O que a gente come, todos comem. Se tem um pouco, dá para todos”

Foto: Rian Lacerda (Diário)

A alimentação dos animais vem de doações feitas pela comunidade ou alimentos que Claudio encontra enquanto trabalha nas ruas. Quando não há ração, a própria comida da família é compartilhada.


– Quando não tem ração, a gente dá a nossa própria comida para eles. Mas, quando o Claudio vai para a rua, ele acha coisas e traz para casa. Ele ganhou um saco de ração e trouxe para os nossos cachorrinhos. Mas, quando não tem, a gente divide o que tem. O que a gente come, todos comem. Se tem um pouco, dá para todos – afirma Andressa.


Claudio garante que, desde que chegou à cidade, nunca perdeu nenhum dos “amigos”, seja por acidente ou por falta de cuidados. Trata todos como filhos.


Logo após a entrevista, a professora aposentada Lisete Spiazzi, 78 anos, parou a reportagem e se emocionou ao falar sobre a atitude do catador em acolher tantos animais.

Foto: Rian Lacerda (Diário)

– Olha, é uma coisa tão linda, tão divina, que para o ser humano é difícil entender. É admirável de acompanhar. Meu Deus, que coisa maravilhosa – disse, emocionada. 


Para garantir o sustento dos cães e da casa, além da reciclagem, o casal vive do doações,  seja de ração, comida ou por meio de pix que ele carrega seu carrinho de trabalho, o casal vê na ajuda do próximo uma forma para sobreviver na cidade. Por meio da vaquinha criada, os santa-marienses podem ajudar a família. O casal sente a gratidão da ajuda dos santa-marienses até hoje:

– Minha sorte é vocês que são gente boa, graças a Deus. É gente humilde. Deus abençoa vocês que nunca deixam de doar nada para o outro – relata. 


Alerta para o abandono 

Assim como alguns dos amigos de Claudio foram encontrados abandonados, o tema serve de alerta para outros que ainda não conseguem um novo lar. Em caso de abandono, os santa-marienses podem denúnciar a prática. Em 2024, a Superintendência de Controle e Bem-Estar Animal de Santa Maria, vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, contabilizou 250 denúncias, a maioria delas contra cãesO aumento é de quase 40% em relação a 2023, período em foram registradas 180 denúncias


Em Santa Maria, são diversos projetos, ONG's, associações e protetores independentes que assumem de forma voluntária o cuidado de animais que por vezes o pode público não dá conta. 


Em entrevista ao Diário no mês passado, a Superintendência de Controle e Bem-Estar Animal de Santa Maria, ligada à Secretaria de Meio Ambiente, disse que aguardava a liberação de R$ 380 mil para colocar em prática a Rede de Proteção Animal — iniciativa pensada para fortalecer a causa animal na cidade.


A ideia da proposta é ampliar a rede de lares temporários, fornecer ração, coleira anti leishmaniose, vermífugo, medicações como antibióticos e anti-inflamatórios, entre outros produtos. Esse auxílio deve contribuir com ciclo de cuidado desses animais, que precisam ser resgatados e acolhidos até encontrarem uma família.


O Diário entrou em contato sobre a liberação desta verba, com previsão prevista em 3 semanas a partir do dia 28 de maio, no entanto não obteve um retorno até a publicação desta reportagem. 


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