Família

Sinceridade contra o preconceito

Gabriela Perufo

"

"A gente veio aqui dizer que estou em um novo relacionamento _ diz a mãe.

_ Ele já conhece seu namorado? _ pergunta a professora.

_ Na verdade é namorada. Eu estou me relacionando com uma mulher."

O diálogo acima foi ao ar na última quarta -feira quando os personagens da novela Em Família, Clara e Cadu (Giovana Antonelli e Reynaldo Gianecchini) procuram a escola do filho para contar que a mãe assumiu um relacionamento homossexual. Uma semana antes, o Vaticano divulgou um texto recomendando que Igreja seja mais tolerante com casais do mesmo sexo e acolha seus filhos.

A história de Clara, mostrada em horário nobre na TV, e a postura do Vaticano dão sinais que a sociedade está tratando mais  abertamente o tema das famílias homoparentais (formada por pai, mãe ou pais homossexuais). No censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 98 casais de Santa Maria declaram aos recenseadores que tinham uma união homossexual e moravam com o companheiro (a) na mesma casa. Na região, são 199 casais.

_ Quando a Rede Globo começa a abordar a questão da homossexualidade como uma relação normal, o preconceito social costuma diminuir. Os gays são apresentados com um pouco mais de dignidade e normalidade. Antigamente, eram figuras caricatas. A novela ajuda, pois coloca o tema em discussão: muitos vão achar absurdo, mas muitos vão refletir sobre o assunto. A gente pode não concordar, pode achar uma série de coisas, mas não pode discriminar _ defende doutora em antropologia social especialista em famílias  homoparentais, Elizabeth Zambrano, ressaltando que o tema é estudado por pesquisadores desde a década de 70, mas avança "a passos
lentos" na sociedade.

Assim como na novela Clara teve preocupação com o filho, casais da vida real se preocupam em como estabelecer uma relação saudável com a família (pais, avós, irmãos..) e minimizar situações de preconceito que os filhos possam sofrer. Dois pais homossexuais ouvidos pelo Diário (leia os depoimentos nestas páginas) compartilham suas experiências em relação à família:

_ Tive medo de ser rejeitado. Amor de pai é incondicional e tinha medo que meus filhos pensassem que o pai deles era uma aberração. Lembro do dia que contei. Disse que a gente tinha sido amigos e passamos a nos gostar mais e que éramos namorados _ lembra o pai, de 28 anos, dois meninos.

Como contar aos filhos?

Psicóloga e professora da pós-graduação Família na Contemporaneidade do Centro Universitário Franciscano (Unifra) Luciane Najar Smeha afirma que é preciso desconstruir a ideia de esperar a criança crescer para explicar a orientação sexual do pai ou mãe. Segundo ela, não há uma receita de como fazer. É necessário explicar de acordo com a idade da criança ou adolescente:

_ Claro que não é necessário esclarecer como funciona toda a vida do pai ou da mãe a uma criança pequena. Mas a clareza e a  naturalidade são importantes. Conforme o tipo de pergunta que a criança faz, é sinal que ela já pode compreender um pouco mais. Vale lembrar que as crianças aprendem muito com o que se fala, o que se vê. Então, pais que não têm preconceito não terão filhos preconceituosos.

Elizabeth Zambrano, uma das referências do tema no Estado, lembra que o preconceito das crianças geralmente começa quando ela começa a frequentar a escola. Se os pais mantiverem uma relação em segredo pode ser pior para a aceitação da criança, que vai perceber o que existe, mas não vai saber dar nome para o que acontece.

Para a especialista é preciso desconstruir algumas concepções. Por exemplo: que filhos de casais homossexuais terão mais chances de serem homossexuais e que pode ser perigoso a criança frequentar a casa de uma família homoparental. Elizabeth lembra que dois homens ou duas mulheres podem desempenhar o papel de mãe e de pai:

_ Na psicologia e na psicanálise, fala-se em funções maternas e paternas."

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