Franciele tem 9 anos. Yuri fará 7 em dezembro. Ela mora em Santa Cruz do Sul. Ele, em Santa Maria. Os dois não se conhecem, mas suas vidas têm muito em comum e partilham da mesma rotina: a da esperança. Esperança de receber um telefonema do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) informando que acharam um doador compatível, uma pessoa que lher dará uma vida nova.
Você pode ser essa pessoa. Basta querer e se cadastrar no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Assim como Franciele e Yuri, outras 64 pessoas precisam de transplante de medula e foram cadastradas no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme) pelo Husm. O hospital concentra 68,7% dos pacientes nessas condições no Estado (leia quadro ao lado).
Em 10 anos, o número de voluntários inscritos no Redome aumentou mais de 800% no país, mas ainda é preciso que muitas mais pessoas optem por ser doadores. Os requisitos para fazer esse gesto de amor não são muitos: basta ter entre 18 e 54 anos e nunca ter tido câncer ou hepatite. O tempo que tomará do seu dia também não é muito. Basta ir ao Hemocentro e retirar 5ml de sangue.
O material será encaminhado para análise e pronto: você é um candidato a doador.
- Se um doador for identificado como compatível, deve fazer uma segunda coleta para nova análise, no Rio. Se der compatível, é feita uma terceira coleta, que é enviada a outro laboratório, como contra-prova - explica Cristian Dias Barbosa, especialista em histocompatibilidade do Husm.
Dizer o 'sim' final ainda é difícil
A busca por um doador não-aparentado (fora da família) é apenas o primeiro e o mais difícil obstáculo. Com o aumento do número de doadores e de transplantes, o Brasil ainda precisa investir na ampliação de leitos para os procedimentos. Outro desafio é que os doadores compatíveis estejam dispostos a passar pelo procedimento de doação da medula - Chega a 30% o número de doadores compatíveis com um desconhecido que desistem - relata Barbosa.
A estudante de Medicina, Juliane Pereira, 20 anos, não pretende engrossar essa estatística:
- Seria uma honra ser compatível e poder salvar uma vida.
Veridiane Farias Alves e Rosimeri Cardoso largaram seus empregos para se dedicar aos filhos. São idas e vindas em sessões de quimioterapia, exames e consultas. Na última semana, Veridiane levou o filho, Yuri, todos os dias ao hospital.
Pela terceira vez, nos curtos 6 anos de vida do garoto, a mãe convive com a doença. O primeiro diagnóstico de Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) foi aos 2 anos. Depois de um ano de tratamento, a doença voltou. Os cinco irmãos de Yuri fizeram teste de compatibilidade, mas todos são incompatíveis. Yuri foi cadastrado no Rereme e continuou o tratamento na esperança de reverter a situação. Tempos depois, a doença voltou, e o transplante é a única esperança.
- A gente fez campanha para conseguir doadores fora. Tivemos ajuda, mas parece que não foi suficiente. Percebemos que muitas pessoas têm medo de doar, como se fosse algo dolorido. Elas têm que saber que é rápido e tranquilo e que podem salvar uma criança, um adulto - enfatiza Veridiane.
A mãe de 34 anos se emociona ao lembrar que, na última internação do filho, dois amigos dele morreram:
- Só olhando nos olhinhos dele para saber que ele é um lutador e tudo vale a pena - conta a mãe do menino que é fã de filmes e videogame.
A Rosimeri é muito parecida com a de Veridiane. Assim como as de seus filhos. Quando não está no Husm com a filha Francieli, a Fran, Rosimeri está à procura de doadores para o Redome. Ela já conseguiu que mais de 300 pessoas fossem se cadastrar:
- Quantas pessoas entre nós poderiam doar e salvar o outro? - questiona.
O diagnóstico de Fran veio aos 4 anos. Depois de um ano de tratamento e três meses se suposta recuperação, a menina voltou a se sentir muito cansada. A doença havia voltado ainda mais forte. Enquanto espera um doador compatível,"