Saúde: não há recurso e estrutura que deem conta da demanda

Pâmela Rubin Matge

Saúde: não há recurso e estrutura que deem conta da demanda

Eduardo Ramos

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

O atendimento restrito do Pronto-Socorro do maior hospital da região, que recebe pacientes de 45 municípios do Centro, Fronteira-Oeste e Nordeste do Rio Grande do Sul, há mais de um mês reflete a incessante busca de uma conta difícil de resolver: o equilíbrio da saúde dos pacientes e das finanças. Os 12% da arrecadação tributária que o governo federal repassa para o investimento de saúde dos Estados, que têm de administrar o recurso, há longa data não tem dado conta da demanda de seus doentes e instituições. Longe da abundância de recursos, o PS do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) não é exceção. Coincidentemente, o serviço completa duas décadas em outubro deste ano, mesmo mês em que ocorre a eleição. 

Embora a maioria dos entraves do Universitário envolva a esfera federal, há tratativas que passam pelo Estado e seguirão sendo responsabilidade do próximo governador. Os leitos de retaguarda, serviço que está ativo desde 2017,  gerenciado pela 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS). O objetivo é que esses leitos de hospitais de cidades vizinhas internem pacientes estabilizados a fim de melhorar o fluxo de atendimento e diminuir a superlotação do Husm. O Universitário, contudo, alega que as vagas são poucas e que, dificilmente, tem conhecimento de quantos e quais locais estão disponíveis, já que esse controle é feito pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Mais do que isso, o Husm, que em teoria deveria atender média e alta complexidade, acaba absorvendo casos de menor gravidade, pois a maioria dos pequenos hospitais não têm estrutura para atender.

– Há uma necessidade de leitos de retaguarda para otimizar o uso dos leitos hospitalares no Husm, diminuindo o tempo de internação hospitalar. Para isso, há de melhorar a rede de saúde em todos os seus níveis: da atenção primária ao atendimento terciário – enfatiza Soeli Guerra, gerente de Atenção à Saúde, que atua há cerca de três décadas no Husm.

CUSTOS

Em 2021, a receita SUS contratualizada pelo Estado com o Husm  foi de R$ 71.311.261,89 para uma despesa de R$ 95.080.455.23 em custeio (materiais, medicamentos, terceirização, manutenção, etc). Essa diferença acabou suprida pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que também viabilizou R$ 6.196.016.53 em equipamentos médico-hospitalares. Já a folha de pagamento dos servidores é bancada pelo Ministério da Educação.

– O Hospital Universitário é, essencialmente, um hospital de ensino. É preciso adequar quantitativos de serviços prestados como exames diagnósticos, consultas ambulatoriais, cirurgias , etc,  no intuito de melhorar a formação de profissionais da área de saúde, médicos e multiprofissionais – completa Soeli.

16 VEZES FECHADO

Neste ano,  por 16 vezes,  a instituição teve de suspender atendimentos referentes à demanda espontânea. Isto é, passou a atender somente pacientes encaminhados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pela Sistema de Regulação de Internações Hospitalares do Estado (Gerint) e pela Central de Regulação do Estado a partir do vaga zero.  Em julho, o hospital chegou a suspender cirurgias eletivas e conviveu com a sobrecarga de internações e leitos extras na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) NeoNatal, no Centro Obstétrico e no Centro Cirúrgico/Sala de Recuperação.

A série de acontecimentos e o drama da superlotação culminaram, pela primeira vez, em um acordo entre Husm  e secretarias Municipal e Estadual de Saúde. O entendimento foi que pacientes não referenciados por estes serviços passariam a ser orientados a procurar os pronto-atendimentos (PAs) ou as Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade de origem. Na sexta-feira, 47 pacientes permaneciam internados no PS, sendo 23 em estado grave. A capacidade do local é para 29 pacientes (contando com os seis da sala de emergência).

“A gente sempre acaba pedindo socorro ao Husm”

Moradora do interior do município de Agudo, a 60 km de Santa Maria, a aposentada Lira Elma Bock, 82 anos, teve no Husm, o atendimento necessário para tratar uma fratura no ombro direito. Ela fará uma cirurgia para colocação de uma prótese. Já são cinco dias internada.

– Estou aqui desde 14 de agosto. Fui recolher roupa quando começou a chuva e acabei caindo. Fiz raio-x em Agudo, depois vim para Casa de Saúde (em Santa Maria), mas só aqui no Universitário é que foram resolver. A gente sempre acaba pedindo socorro ao Husm. Apesar da demora para a cirurgia, não tenho o que reclamar do atendimento.  As moças (enfermeiras) são ótimas – relatou a paciente, no último dia 19.

Não é  a primeira vez que a aposentada busca Santa Maria para garantir a própria saúde. Uma cirurgia nos rins e  uma na cabeça também tiveram de ser feitas no Husm. Anos antes, o tratamento contra um câncer que acometeu o marido de Lira (já falecido) também foi assistido pelo Husm.

O vaivém de ambulâncias, carros e ônibus de prefeituras é constante no entorno do prédio do Husm onde centenas de moradores de outras cidades buscam assistência. O hospital oferece  cerca de 800 consultas por dia, além internações e cirurgias. Somente de Agudo, onde dona Lira vive, são, em média, 360 pessoas por mês na busca por atendimento.

 – Todos os dias vai alguém. O Husm é essencial na recuperação dos pacientes e para garantir atendimentos de média e alta complexidade aos agudenses –  observa o prefeito do município, Luís Henrique Kittel.

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