Qualquer situação em que se lida com a vida requer muita prática e experiência. Pensando nisso, é que foi realizado em Santa Maria o 1º Encontro de Parteiras do Rio Grande do Sul. Durante a sexta-feira, mulheres, professoras, pesquisadoras, parteiras e doulas da tradição estiveram reunidas no Espaço Multiuso da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para trocar experiências, discutir sobre os saberes ancestrais, possibilitar que o assunto seja debatido no meio acadêmico e, além disso, celebrar o trabalho das parteiras e os conhecimentos tradicionais adquirido por elas.

As parteiras são, além de referências em auxílio de partos, principalmente nas comunidades afastadas de centros urbanos, portadoras de conhecimentos sobre a saúde feminina como um todo.
A programação do evento incluiu, também, uma roda de conversas com cinco parteiras anciãs das cidades de Santa Maria, Jari, São Lourenço do Sul e Porto Alegre, com idades entre 80 e 100 anos, e que trabalharam a maior parte da vida nesse ofício, realizando cerca de 2,5 mil partos cada uma.
A parteira Eliane Scheele esteve no encontro representando a Escola de Saberes Tradição Ancestral, com sede em Olinda, no Recife. Ela explica que parteira é uma profissão e que, mesmo não exigindo graduação, não deixa de ser um ofício, uma prática de tradição milenar. Além disso, segundo ela, existem muitas formas de tornar-se parteira, e que, na escola, recebem a instrução para voltar para a região e acompanhar as veteranas para receber a instrução e o conhecimento na prática.
– Qualquer pessoa pode buscar esse conhecimento, inclusive acompanhar uma parteira. O Ministério da Saúde reconhece que a parteira é aquela que é reconhecida em uma comunidade. O encontro serve para reconhecermos o trabalho das parteiras anciãs, daquelas que já são e das que estão chegando agora – explicou Eliane.
Ela comenta, ainda, que a prática varia de Estado para Estado. Normalmente, a parteira é mais valorizada nas comunidades em que não existem médicos ou onde os médicos não chegam. Porém, esses saberes tradicionais continuam existindo tanto no ambiente urbano quanto no meio rural.
De acordo com a organizadora do evento, Jimena Sol Ancin, ser parteira e doula é um grande desafio no século 21.
– É muita medicina colocada no corpo da gente, e voltar para o natural é difícil. Ser parteira, hoje, é muito amor envolvido, tem que saber lidar, também, com a vida e a morte ao mesmo tempo – disse a mestranda de Extensão Rural da UFSM.
PARECER MÉDICO
O delegado do Conselho Regional de Medicina, João Alberto Laranjeira, salienta que as parteiras fazem parte da equipe de saúde em obstetrícia, porém, o diagnóstico, acompanhamento, pré-natal e o ato do parto é de responsabilidade do médico.
– Já as doulas não têm uma atividade reconhecida como integrante da equipe de saúde em obstetrícia, embora muitos serviços permitam sua participação. Os partos em domicílio são frontalmente condenados pelo Conselho Federal de Medicina, já o parto humanizado não há restrição, desde que sob responsabilidade médica – ressalta.
CATEGORIAS
Doula – É quem acompanha a mulher durante o período da gestação e dá um suporte exclusivamente emocional antes, durante e após o parto. A palavra "doula" vem do grego "mulher que serve". A doula não executa qualquer procedimento médico, não faz exames e não cuida da saúde da mãe e do recém-nascido. Ela não substitui qualquer um dos profissionais tradicionalmente envolvidos na assistência ao parto. Qualquer pessoa pode tornar-se uma doula, por meio da participação em cursos e capacitações
Parteira tradicional (anciãs) – Tem a responsabilidade sobre a vida e a saúde tanto da mulher quanto do recém-nascido. Muitas delas usam práticas populares, como o uso de plantas medicinais, de superstições e de simpatias, além da sempre presente oração. Para ela, a fé é um parâmetro para que o trabalho de parto ocorra de forma tranquila e sem maiores problemas, independentemente da religião que as mães praticam ou seguem
Parteiras na tradição – Não receberam o conhecimento direto da vivência do parto, mas participam da Escola de Saberes Tradição Ancestral, onde buscam as orientações e a formação para tornarem-se parteiras tradicionais. Após, retornam para as comunidades e acompanham o trabalho das parteiras mais experientes