Antes de se fazer necessário o encaminhamento para leitos de internação pelo Sistema Único de Saúde (Sus) em unidade psiquiátricas hospitalares, a assistência e o cuidado com a saúde mental são ofertados a longo prazo na Atenção Básica de Saúde e em Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), que buscam acolher pessoas com problemas emocionais, transtornos mentais, doenças psíquicas ou em casos extremos, como de ideação suicida.
Em Santa Maria, no próximo dia 4 de julho, deve ser entregue a obra da Unidade Madre Madalena, no Hospital Casa de Saúde. Não há prazo para que o serviço seja, novamente, disponibilizado à população. Serão 25 leitos de internação para homens e mulheres.
ATENÇÃO BÁSICA
A partir da Atenção Básica de Santa Maria, o fluxo da rede de Atenção Psicossocial passa por 25 Estratégias de Saúde da Família (ESFs). Segundo a coordenadora de Políticas da Saúde Mental do município, Cláudia Machado Melo, estes espaços de atendimento gratuito pelo Sus prezam pela escuta qualificada e uma politica transversal, na qual a Saúde Mental é pensada ao lado de outros tipos de patologias:
–Sempre colocamos que a Atenção Básica é a ordenadora do cuidado. É a porta de entrada de qualquer questão de saúde e inclusive, de saúde mental. Sempre falamos sobre a importância da prevenção e promoção e isso acontece no território, para evitar que esse adoecimento chegue até uma Atenção Especializada. Então, o papel da Atenção Básica é fundamental, porque a partir do momento em que que você percebe esse adoecimento e as idas recorrentes a Unidade no território, onde já conhecem a histórico daquele paciente, qual é a estrutura familiar e o que pode estar causando, é possível encaminhar para um serviço especializado.
Ao Diário, Cláudia comenta sobre o trabalho de regulação realizado no município para que agendamentos de consultas com psicólogos e psiquiatras para crianças, adolescentes e adultos ocorram. Atualmente, este sistema possibilita os encaminhamentos de casos leves a moderados para o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), Policlínica do Rosário, no Bairro Nossa Senhora do Rosário, e a Policlínica José Erasmo Crossetti, no Bairro Centro.
–É interessante, para que não se agrave o caso e sai da Atenção Básica para a internação, que o paciente seja visto, monitorado e encaminhado de forma adequada aos serviços, para que ocorra um cuidado na Atenção Especializada. Seja em Caps, nas questões mais moderadas e graves ou dentro das Policlínicas, que é um outro tipo de cuidado através da regulação. Para depois sim, se necessário, a internação. O grande objetivo hoje é de que a internação seja a nossa última opção e que consigamos resolver as questões antes de chegar nesse extremo – conclui Cláudia.
Enquanto parte da equipe da Coordenação de Atenção Psicossocial, terapeuta ocupacional, Lígia Gomes, argumenta sobre a importância da troca de conhecimentos entre as equipes da Atenção Básica e Atenção Especializada, visando capacitar os profissionais e fazer com que o fluxo de assistência funcione. Periodicamente, são realizadas reuniões entre as equipes, inclusive para dar continuidade ao processo de matriciamento na atenção à Saúde Mental.
–O matriciamento é uma ferramenta em que as equipes de atenção especializada dão suporte as equipes de Atenção Básica, para que elas consigam dar conta de entender o sofrimento mental e o uso abusivo de álcool e outras drogas e acima de tudo, que consigam fazer essa troca de uma forma mais eficaz – afirma a terapeuta ocupacional.
Conforme assistente social, Verônica Sanches, que também atua na coordenação, as equipes que fazem parte deste troca, especialmente oriundas da Atenção Especializada, tendem a ser multiprofissionais:
–Quando o usuário procura o serviço, o atendimento dele não é só focado na psiquiatria. Então, as nossas equipes são multi e funcionam com psicopedagogo, educador físico, terapeuta ocupacional, assistente social, arteterapeuta, enfermeiro, técnico em Enfermagem e sempre terá esse viés de olhar a totalidade do sujeito.
Além do trabalho ofertado pelas ESFs e Policlínicas, Santa Maria mantém um serviço especializado com o intuito de atuar como referência para vítimas diretas e indiretas da tragédia da Boate Kiss, que resultou em 242 mortes e mais de 600 pessoas feridas em Santa Maria em 2013. O Santa Maria Acolhe atende usuários não referenciados em serviços da rede de Atenção Psicossocial, que estejam com comportamento ou ideação suicida e/ou crise por transtorno mental.
SANTA MARIA ACOLHE
Horário de atendimento – 8h ao meio-dia e das 13h às 17hEndereço – Rua Treze de Maio, 35Telefone – (55) 3219-2333 ou (55) 99164-4154E-mail – [email protected]
CAPS
Durante o cuidado com a saúde mental iniciada na Atenção Básica, as equipes das unidades de saúde podem constatar a necessidade de encaminhar uma pessoa com problemas psiquiátricos moderados ou graves para assistência com uma equipe multiprofissional. Neste caso, ela é referenciada para um Centro de Atenção Psicossocial do município, no qual será assistenciada por psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, técnico em Enfermagem, entre outros profissionais da área da saúde.
No contexto atual, Santa Maria conta com quatro Caps. As instalações iniciaram a partir da Portaria 336/2002, sendo que de 2003 a 2005, foram habilitados os três primeiros: o Caps II Prado Veppo, Caps ad Caminhos do Sol e Caps I O Equilibrista. Em 2011, o município ganhou mais centro de atendimento especializado: o Caps ad Cia do Recomeço.
Considerado o primeiro, Caps Prado Veppo, surgiu em 2003, com a função de atender pessoas com transtorno mentais. Atualmente, o Centro, cuja sede está localizada na Avenida Hélvio Basso, contabiliza 960 cadastros ativos no município.
Segundo a técnica em Enfermagem, Fabiana Freire, durante a pandemia, o Centro não parou de funcionar. O atendimento ocorreu pessoalmente em casos de consulta e receita de medicamento, e por telefone e videochamada quando necessário. Ela comenta que apesar de conhecerem a lógica de retorno à Atenção Básica, muitos cadastrados preferem ficar no Caps, o que justifica o alto número de pacientes.
O santa-mariense Ronaldo Silveira Aguiar, de 54 anos, é um dos usuários assistenciados pelo local a mais de 15 anos. Antes de ser encaminhado ao local, Aguiar chegou a ser internado oito vezes: sete na Unidade Paulo Guedes, no Husm, e uma em um hospital em Caxias do Sul, com o diagnóstico de Esquizofrenia, condição na qual o individuo tem perda de contato com a realidade, alucinações, delírios e outros transtornos.
Com a mudança no nível de assistência, o diagnóstico de Aguiar foi reavaliado, revelando um quadro de Bipolaridade, em resumo é uma variação acentuada de humor. Ao Diário, ele descreve o impacto do processo:
–Mudou para melhor. Graças a Deus estou tomando dois remédios só e estou bem, me tratando.
Além dos atendimentos médicos, Aguiar e outros cadastrados no Caps Prado Veppo participam de grupos de atividades, que visam ressocializar e garantir a autonomia destes. Saiba mais sobre cada um dos Centros de Atenção Psicossocial:
CAPs II PRADO VEPPO
Serviço público de atenção diária voltado não só para o tratamento dos usuários com transtorno mental moderado e grave, mas também para a sua reinserção familiar, social e comunitáriaHorário de atendimento – 8h às 18hPúblico – Da Atenção Básica, rede de Urgência e Emergência, Centros de Atenção Psicossocial e Gerint. Recebe demanda espontâneaEndereço – Avenida Helvio Basso, 1245 Telefone – (55) 3921-7959 ou (55) 991652564E-mail – [email protected]
CAPs ad CAMINHOS DO SOL
Serviço público de atenção diária voltado ao tratamento dos usuários com relação ao uso de álcool e outras drogas, visando a reinserção familiar, social e comunitária. Atende por território. Horário de atendimento – 8h às 18hPúblico – Da Atenção Básica, rede de Urgência e Emergência, Centros de Atenção Psicossocial e Gerint. Recebe demanda espontâneaTelefone – (55) 3921-7144 ou (55) 3921-7281E-mail – [email protected]
CAPs ad CIA DO RECOMEÇO
Serviço público de atenção diária voltado ao tratamento dos usuários com relação ao uso de álcool e outras drogas, visando a reinserção familiar, social e comunitária. Atende por território.Horário de atendimento – 8h às 18hPúblico – Da Atenção Básica, rede de Urgência e Emergência, Centros de Atenção Psicossocial e Gerint. Recebe demanda espontâneaTelefone – (55) 3921-1099 ou (55) 99129-8326E-mail – [email protected]
CAPs I O EQUILIBRISTA
Serviço de referência para crianças e adolescentes com transtornos mentais, decorrentes ou não do uso de álcool e outras drogas. Assim como os demais, é um serviço público de atendimento diário com foco no tratamento e reinserção familiar, social e comunitáriaHorário de atendimento – 8h às 18hPúblico – Da Atenção Básica, rede de Urgência e Emergência, Centros de Atenção Psicossocial, Gerint e Programa de Atendimento Especializado Municipal (Praem).Telefone – (55) 3921-7218 ou (55) 99148-5594E-mail – [email protected]
por Arianne Lima – arianne.lima@[email protected]