Aqui em Portugal, o ano letivo está começando agora. As aulas iniciam depois das férias “grandes”, que começam na metade de junho e terminam na metade de setembro. Sim, os meses de frio aí, são meses de verão aqui na Europa.
E tem um problema que se repete a cada começo de ano letivo: a falta de professores. Ninguém mais quer ser professor. Segundo dados do Conselho Nacional de Educação, de 2010 a 2020, o percentual de professores com mais de 50 anos de idade cresceu de 27% para 52%. No outro lado da régua, na mesma década, o número de docentes com menos de 30 anos caiu de 7,4% para 1,6%. O número de aposentadorias no ano passado foi de 1.600 professores e se a tendência se mantiver, até o fim de 2022, serão 2.220 profissionais a pedir a reforma, como é chamada a aposentadoria aqui em Portugal. O número não era tão alto desde 2013. E outra questão que agrava o quadro é o grande número de professores com baixa médica, ou seja, afastados do trabalho temporariamente por questões de saúde.
Neste ano, as disciplinas mais problemáticas são geografia, informática, física e química. E há mais falta de profissionais no sul de Portugal, nas regiões do Algarve, Alentejo e Lisboa. Os diretores de escolas atribuem o problema à falta de valorização da categoria – a gente aí no Brasil conhece bem essa história. A estabilidade para os professores em Portugal não funciona como no Brasil, e eles podem ser transferidos para escolas, muitas vezes, longe da região onde moram. Sem auxílio para estadia, os profissionais contestam que trabalhar longe de casa implica um custo de vida muito maior e que acaba por não ser atrativo, nem compensar financeiramente.
Estava lendo que o problema se estende por toda Europa. Itália, Suécia, França, Alemanha são exemplos de países europeus onde o desinteresse pela carreira docente também cresce a cada ano.
O Brasil enfrenta esse problema. No nosso estado, de 2016 até 2021, 11 mil professores deixaram de estar em sala de aula. Uma redução de 22,4%, segundo um estudo do Dieese-RS. É triste saber que ninguém mais quer ensinar. Todas as profissões passam antes por um professor. Nenhum governo se deu conta disso? Ninguém entendeu a importância dessa classe? O trabalho de um professor deveria ser muito valorizado. As tarefas não terminam junto com a aula. O número de horas que se trabalha em casa a preparar conteúdo, planejar aulas e corrigir avaliações é imenso; o desgaste físico e emocional da profissão aumenta a cada ano, por conta de todo contexto em vivemos. Muitas vezes, o professor não só ensina física, matemática ou português, mas precisa também educar crianças e jovens e lidar com problemas que vão muito além dos livros didáticos. E sendo assim, quem quer ser professor?
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