Foto: Charles Guerra (Arquivo/Diário)
Depois de 30 anos de um longo trabalho de pesquisa histórica, religiosa e científica, o processo de beatificação do diácono João Luiz Pozzobon e a documentação pedindo para ser reconhecido o que seria o primeiro milagre atribuído a ele foram entregues este ano no Vaticano e estão prontos para serem analisados. São dois passos importantes na causa que tenta fazer com que Santa Maria e a Quarta Colônia tenham seu primeiro santo na Igreja Católica. E mais: seria o 1º diácono permanente no mundo a virar santo.
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Porém, o trabalho e a fé para que isso se torne realidade continuam, pois para que esse reconhecimento seja dado, ainda há um caminho pela frente e não há certeza se o Dicastério da Causa dos Santos, no Vaticano, e o papa Francisco vão dar o aval ao pedido. Mesmo o fato de esses processos terem passado pelo olhar de peritos da Arquidiocese de Santa Maria não indica qual será o entendimento dos cardeais e peritos do Vaticano.
Segundo um dos novos vice-postuladores da causa em Santa Maria,o padre Vítor Hugo Possetti, não há prazo para que a resposta seja dada. Ele conta que as análises dos processos são feitas por cardeais e especialistas, como médicos e teólogos, e a tramitação tem um andamento próprio, que só as pessoas envolvidas diretamente conhecem.
– Nosso arcebispo, dom Leomar Brustolin, está incentivando muito essa causa do diácono João Luiz Pozzobon e está muito entusiasmado. Ele tem a esperança de que nos próximos anos a análise seja feita. Quanto mais houver a oração e o apoio dos devotos aqui e em todos os lugares onde o Servo de Deus é conhecido, melhor para a causa lá em Roma – disse o padre responsável por promover a devoção, receber fiéis na região e buscar a ajuda financeira para custear cada fase do processo.
Como em setembro de 2025, acontecerão em Santa Maria as celebrações dos 75 anos da Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, iniciada em 1950 pelo diácono Pozzobon, existe uma esperança de que a mobilização popular em torno do acontecimento ajude no andamento do processo.
Longa pesquisa
Padre Vítor lembra que, até que um eventual título de santo seja concedido, o processo tem várias etapas. A primeira, na realidade, começou em 1994, quando o Vaticano deu o aval chamado Nada Obsta. Ou seja, a partir de uma primeira investigação da vida e do legado do diácono, considerou que não havia nada contra ele que impedisse a abertura do processo de beatificação.
Em 2009, já haviam sido coletados mais de 10 mil documentos, somando dezenas de milhares de páginas que foram, então, enviadas a Roma. Essa documentação consta de um apanhado de registros feito por comissões de pesquisa histórica e teológica, com pesquisadores da UFSM, da UFN, Fapas e da Arquidiocese, que se debruçaram sobre a vida e toda a documentação da história e do legado de Pozzobon, incluindo depoimentos de fiéis que conviveram com ele de 1950 até 1985, quando faleceu.
Nesse período, seu diário registra que ele andou 140 mil km a pé levando a imagem da Mãe e fazendo seu trabalho missionário e social.
O processo de 10 mil páginas foi resumido no chamado Positio, que é o documento de 800 páginas que foi entregue este ano ao Vaticano e que pede sua canonização. Foi um longo e custoso trabalho, pois tudo preciso ser traduzido e feitas 50 cópias. Se a primeira análise dos cardeais e especialistas do Vaticano aprovar o pedido, o primeiro reconhecimento que será dado ao diácono Pozzobon será o de Venerável, o que significa que a Igreja afirma que ele é um bom exemplo a ser seguido. Assim, a sua história e suas obras serão ainda mais divulgadas ao redor do mundo.
Depois, será preciso que um primeiro milagre seja reconhecido para que ele seja beatificado e possa ser chamado de beato. Se isso ocorrer, imagens do diácono poderão ser colocadas em igrejas em que o Vaticano determinar e o seu nome é incluído em missas e outras celebrações oficiais. A partir daí, a Igreja Católica exige que um novo milagre ocorra, após a beatificação, e seja reconhecido oficialmente para que o beato possa ser considerado um santo. Nesse caso, qualquer igreja do mundo poderia colocar a imagem de Pozzobon.
1º suposto milagre
Por falar em milagre, em paralelo ao pedido de beatificação, também foi entregue este ano o processo do possível milagre atribuído ao diácono João Luiz Pozzobon, que foi concluído após uma longa pesquisa.
– Todos os meses, recebemos muitos relatos de graças e milagres atribuídos a ele, vindos de diversos países. Todos esses relatos são lidos e, em alguns casos que parecem extraordinários, costumamos pedir mais alguns documentos e fazer uma investigação mais aprofundada. Em um desses casos, ocorrido aqui na região da Arquidiocese, a investigação foi feita com a participação de peritos médicos e de outras áreas, analisando prontuários e todos os detalhes. A documentação foi então enviada a Roma, para que os consultores do Dicastério da Causa dos Santos vejam se o fato realmente não tem explicação científica e pode ser atribuído à intercessão do diácono. Quem é a pessoa e as circunstâncias do acontecimento, isso é mantido em segredo. Só poderá ser revelado se o milagre for reconhecido – afirmou padre Vítor.
As etapas da santidade
Servo de Deus – O candidato a santo tem de ter morrido, no mínimo, cinco anos antes de o processo ser sugerido e aceito pelo Vaticano. Quando isso acontece, o candidato recebe o título de Servo de Deus. Pozzobon ganhou esse título em 1994;
Venerável – Se o Dicastério da Causa dos Santos, no Vaticano, aprovar a documentação do diácono, ele vira venerável. Isso significa que a Igreja afirma que ele é um exemplo a ser seguido, o que faz com que sua história e suas obras sejam ainda mais divulgadas no mundo todo;
Beato – Se receber o título de venerável, será necessário comprovar um milagre. A análise do possível milagre do diácono foi entregue este ano ao Vaticano e só vai iniciar se ele se tornar venerável. Caso for comprovado, o título de beato é concedido pelo Papa e imagens do diácono poderão ser adotadas em qualquer igreja do mundo;
Santo – É a canonização de fato. Após comprovar mais um milagre, que tem de ocorrer após a beatificação, o candidato é tornado santo e tem o seu nome inscrito na lista oficial da Igreja.
Na história
Quem foi o diácono Pozzobon
- Nasceu em 12 de dezembro de 1904, em Ribeirão, localidade de São João do Polêsine. De origem pobre, largou os estudos para ajudar o pai na lavoura;
- Em 7 de setembro de 1947, Pozzobon participou do lançamento da pedra fundamental do santuário de Schoenstatt, onde teve início o seu contato com a Mãe Peregrina. Três anos depois, em 10 de setembro, começou a Campanha da Mãe Peregrina;
- Ordenado diácono pelo bispo dom Érico Ferrari, em 1972. Passou a fazer casamentos, batizados e enterros. Não podia rezar missas e absolver pecados;
- Em 1978, a fama de Pozzobon ganhou o mundo. Ele visitou a Europa, conheceu o papa João Paulo 2º e foi à Argentina falar da Mãe Rainha;
- Em 27 de junho de 1985, aos 81 anos, foi atropelado por um caminhão quando ia para uma missa, no Santuário de Schoenstatt, às 6h30min, e morreu.
O Movimento de Schoesntatt
- O padre José Kentenich nasceu na Alemanha em 1885 e, em 1914, durante a 1ª Guerra, fundou o Movimento Apostólico de Schoesntatt em uma cidade alemã;
- Kentenich foi perseguido pelo nazismo e condenado a três anos de prisão em um campo de concentração. Depois de sua libertação, ele iniciou uma série de viagens, por vários países, para fazer crescer o movimento;
- Em 1948, ele esteve presente na inauguração do Santuário de Schoenstatt de Santa Maria, o primeiro do Brasil.
Exemplo de fé
- Em 1950, o diácono recebeu uma imagem da Mãe Rainha. Ele rezava 15 terços por dia (825 preces);
- Ele deu a ideia de, a cada 30 famílias, colocar uma imagem da Mãe Peregrina, para passar de casa em casa. Ele distribuiu 2,7 mil imagens da Mãe pela região. Em 2011, havia mais de 200 mil réplicas da imagem em 96 países;
- João Pozzobon carregava 19 quilos nas peregrinações. A imagem da Mãe Rainha pesava 11 quilos, e a pasta que levava com vestes e outros materiais religiosos, 8 quilos;
- Ele percorreu 140 mil quilômetros a pé com a imagem no ombro para visitar famílias, escolas, presídios e hospitais;
- Pozzobon criou a Vila Nobre da Caridade, no Cerrito, com 14 casas que abrigam famílias pobres. ele ajudava a conseguir emprego e a fazer as crianças estudarem.
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