
Foto: Beto Albert (Diário)
Plantação de milho afetada pela estiagem em Júlio de Castilhos
*Matéria atualizada às 19h45
Depois das enchentes que destruíram cidades e lavouras em grande parte do Rio Grande do Sul em 2024, munícipios gaúchos agora sofrem com o outro extremo: a estiagem. Em decorrência dos efeitos causados pela seca, pelo menos 14 municípios da região declararam situação de emergência até o início da noite desta sexta-feira (24). Os dados são da Defesa Civil Estadual.
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Desse total, quatro deles, Santa Margarida do Sul, Cacequi, Vila Nova do Sul e Tupanciretã já estão com os decretos oficializados. Já outros dez aguardam a homologação por parte do governo do Estado, são eles: Rosário do Sul, Santiago, Júlio de Castilhos, Jari, Silveira Martins, Toropi, Nova Esperança do Sul, Unistalda, Itacurubi e São Gabriel.
Municípios da região contabilizam prejuízos milionários

O prefeito de Santa Margarida do Sul, Luiz Felipe Brenner Machado (PDT), assinou o decreto de situação de emergência no município em 13 de janeiro. A informação foi confirmada durante o 1º Fórum de Prefeitos, realizado na sede do Grupo Diário, na tarde do dia 14 de janeiro.
Conforme o documento, desde dezembro do ano passado, o município de Santa Margarida do Sul vem sofrendo com precipitações pluviométricas abaixo da média, e os prejuízos passam de R$ 120 milhões. O decreto ainda aponta que a estiagem afeta diretamente a produção agropecuária, setor responsável por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do município.
– Situação bastante crítica de seca no município. A estimativa é de 40% de perdas na área agrícola e pecuária, principalmente na produção de milho. A área social também é afetada com a falta de água no interior do município. Os poços artesianos estão secando. Hoje, não conseguimos mais carregar o caminhão-pipa todos os dias. Estamos buscando o apoio da Corsan para ver como pode nos ajudar. E ainda temos problemas decorrentes de abril e maio do ano passado, com as enchentes. Esses são os maiores desafios desse começo de gestão – apontou o prefeito.
Rosário do Sul assinou o decreto de emergência na última terça-feira (21). Em entrevista à Rádio CDN, o prefeito Marcos Paulo Silva da Luz (PSDB) contabilizava prejuízos de pelo menos R$ 17 milhões somente na agricultura. Conforme o decreto, que aguarda homologação do governo estadual, a falta de precipitação dificulta o acesso à água potável para consumo humano, perda de produtividade e atrasos no ciclo produtivo na agricultura, resultando em prejuízos financeiros devido ao aumento do custo de produção. O abastecimento de água para as comunidades e atividades agrícolas também está comprometido.
– Hoje, já temos seis famílias com falta de água no interior da cidade, três delas no distrito Campo Seco, outras três no distrito do Caverá. Elas estão sendo assistidas pela Defesa Civil, que está levando água para todos esses moradores, ou seja, eles não estão sem água. Mas também estamos sofrendo muito nas lavouras, principalmente nas culturas de soja, arroz e milho. Já são 125 produtores atingidos – afirmou o prefeito, na última segunda.
Um dos maiores produtores de grãos do Estado, Tupanciretã, contabiliza perdas irreversíveis na agricultura em consequência da falta de chuva no município. Conforme o prefeito, Gustavo Terra (Progressistas), o Executivo elaborou o decreto que foi homologado na sexta (24), para receber subsídios dos governos estadual e federal para amenizar os prejuízos.

Em entrevista ao programa Bom Dia, Cidade! da Rádio CDN 93.5 FM de quarta-feira (22), o prefeito falou sobre a situação:
– Em seis anos, apenas um ano o produtor rural conseguiu pagar suas contas normalmente. Nos últimos anos, foi uma bola de neve financeira para os produtores. Nossos recursos materiais são limitados, quando temos essa demanda, temos que tirar nossa equipe das estradas, por exemplo, para colocar dentro das propriedades. Por isso o aporte das instâncias superiores é importante. Que nos mandem mais recursos.
Com 30% da cultura de soja perdida, Cacequi teve seu decreto de emergência homologado pelo governo estadual. Em entrevista ao programa Fim de Tarde CDN, na quinta-feira (24), a prefeita Ana Paula Del'Olmo (MDB) afirmou que o documento foi assinado na última sexta (17).
Os impactos mais significativos, até o momento, são observados na lavoura de soja, mas o cultivo de melancia também preocupa. Parte da produção já foi perdida por não ter crescido ou estar queimada pelo sol.
– O Rio Cacequizinho está seco. Dá uma tristeza de ver. O Rio Ibicuí, que foi uma parte que sofreu bastante com as enchentes [de 2024], também está seco, está com um fio de água – destacou a prefeita.
Emater acompanha a situação das lavouras

Ao programa Fim de Tarde CDN, na Rádio CDN 93.5 FM, na quarta (22), Guilherme Passamani, gerente regional da Emater, relatou que a situação está sendo acompanhada de perto e lamentou o atual momento.
Ele afirmou que as equipes estão trabalhando em tempo integral para fazer esse levantamento e que os relatórios a serem feitos para contabilizar os prejuízos precisam ser detalhados. Questionado sobre uma estimativa de prejuízo na agricultura, foi enfático:
– Estamos em um estágio específico das culturas de grãos onde ainda não é possível estimar o prejuízo. Ainda é muito precoce falar em números.
Sobre o significado do decreto de emergência, o gerente afirmou que é necessário olhar com mais atenção para os problemas agrícolas no Estado. Após 2024 marcado por enchentes que destruíram lavouras, o início de 2025 pode causar o mesmo efeito, porém em uma situação adversa.
– Chama atenção para um problema na região, para que políticas públicas sejam feitas olhando para isso. Da mesma forma como ocorreu na época das chuvas, que subsídios foram criados. O decreto de emergência auxilia os municípios na aquisição de maquinários agrícolas, para atuarem nas localidades mais afetadas.
Situação em Santa Maria
Em decorrência do tempo seco e ausência de chuva, existe a possibilidade que outras cidades decretem a mesma situação. Santa Maria, por exemplo, não descarta entrar para essa lista. Em resposta ao colunista Deni Zolin, na tarde de sexta, a prefeitura informou que até o final de semana, deve receber o laudo da Emater que atesta possíveis perdas na agricultura. Somente após essas definições, é que terão informações suficientes para tomar uma decisão.
Ainda conforme a prefeitura "a Defesa Civil é responsável pela entrega de água potável para a população na cidade e distritos. Atualmente, são atendidas 162 famílias dos distritos de Santa Maria com água potável. O número é relativamente igual ao de atendimentos de 2024."
Segundo Gustavo Verardo, da BaroClima Meteorologia, esse janeiro é o mais seco dos últimos 20 anos em Santa Maria. O meteorologista explica que a média de janeiro é de 166 milímetros, porém somente 0,3 mm foram registrados na Estação do Perpétuo Socorro, enquanto a Estação do Inmet de Camobi acumula somente 15 mm desde o dia 1º de janeiro até esta sexta.
– Desde 2005, não chovia tão pouco no mês de janeiro em Santa Maria. O oceano pacífico está em uma condição neutra, levemente resfriada, respondendo aos sinais de La Niña, mas ainda não podemos afirmar que estamos sob efeitos desse fenômeno. Além disso, as chuvas estão mais expressivas na região central do país, como em São Paulo, por exemplo. Consequentemente, a condição é de tempo seco para cá, que deve se estender até a primeira dezena de fevereiro. Não tenho cenário de chuva expressiva para a região até lá, somente pancadas de chuva – explica.
De acordo com a pesquisa feita pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) sobre ocorrências de estiagens no Estado entre 1991 e 2024, Santa Maria, destacada na cor laranja, protagoniza números alarmantes: neste período, mais de 11 períodos de seca foram registrados. Confira na imagem:

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