Pais de vítimas e sobreviventes comentam se irão assistir a série da Netflix sobre a tragédia da boate Kiss

Bernardo Abbad

Pais de vítimas e sobreviventes comentam se irão assistir a série da Netflix sobre a tragédia da boate Kiss

Guilherme Leporace/Netflix

TODO DIA A MESMA NOITE. (L to R) FLAVIO BAURAQUI as BRUNO, MAFE MEDEIROS as JULIANA, DEBORA LANM as SIL, THELMO FERNANDES as PEDRO in TODO DIA A MESMA NOITE. Cr. Guilherme Leporace/Netflix © 2023

Na segunda-feira (9), a Netflix divulgou o primeiro trailer da minissérie Todo dia a mesma noite, que estreia dia 25 no serviço de streaming. Desde então, uma série de comentários têm sido publicado nas redes sociais, alguns elogiando o realismo das cenas e outros criticando o que se considera uma exploração e exposição da tragédia e de suas vítimas. Entre todos, existe um público em particular que terá uma dose extra de sentimentos e opiniões em relação à produção, os pais das vítimas e os sobreviventes da tragédia. O Diário conversou com dois pais e dois sobreviventes para saber se assistiram o trailer e se pretendem acompanhar a série, confira:

A terapeuta ocupacional Kelen Ferreira, cuja história será retratada na série através da personagem de Paola Antonini conta que, desde a tragédia na bote Kiss, todos os meses de janeiro são bastante complicados. Este será mais ainda, pelo marco dos 10 anos do ocorrido. Ela assistiu ao trailer da minissérie lançado na segunda (9) e diz que irá assistir a série:– Vendo o trailer, eu fiquei bem apreensiva, o coração estremeceu e todas as lembranças voltaram, mas precisamos falar sobre isso, para que não seja esquecido e para que ninguém passe por isso. Irei assistir à série, vai ser emocionante, mais ainda vendo a minha história ser contada para tantas pessoas.

Adherbal Ferreira foi o primeiro presidente da Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), em 2013. Ele perdeu a filha, Jennefer, na noite de 27 de janeiro. Adherbal conta que não esteve envolvido no livro de Daniela Arbex e nem na série baseada no mesmo. Ele não assistiu o trailer e ainda não sabe se irá acompanhar a produção, que estreia no dia 25:

– Acredito que irei assistir, ainda não sei. De alguma forma, pertenço a tudo isso. Por mais dor que haja. Se eu sentir algo em algum momento específico da série, eu paro de assistir. Mas acredito que muitas pessoas irão ver por curiosidade, até porque o fato de a justiça ainda não ter sido feita incomoda muito.

Ele considera importante produções como Todo dia a mesma noite e a série documental Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria, do Globoplay. Adherbal menciona que existem filmes e séries de outras tragédias e que os comentários negativos de pessoas que não estiveram diretamente envolvidas acabam afetando o sentimento dos familiares e sobreviventes:– Não penso que seja uma questão de expor a dor, acredito que isso já passou. Agora acho que é mais em um sentido de não deixar cair no esquecimento. Para que isso não possa ocorrer de novo. Vejo comentários de pessoas pedindo que esse assunto não seja mais mencionado; mas aquilo é algo que poderia ter afetado a sua própria família.

Delvani Rosso também é um sobrevivente da tragédia. Ele conta que assistiu o trailer e ficou muito surpreso com a realidade das cenas e a reconstrução dos cenários.– Quando assisti o vídeo senti muita ansiedade e, logo após assistir, fiquei muito pensativo, refletindo sobre tudo. As cenas estão bem reais e isso me teletransportou para aquela noite. Quero assistir a série, é mais uma forma de conseguir trabalhar esses sentimentos que surgem em relação ao trauma.O filho de Ogier Rosado, Vinícius, se sobressaiu em reportagens que circularam pelo mundo na época. O estudante de Educação Física foi mais uma vítima da tragédia e teria salvado 14 frequentadores da boate naquela noite. O pai conta que não assistiu o trailer e ainda não decidiu se irá ver os cinco episódios da minissérie:– Confesso que não sei se vou assistir. Sei que não deixa de ser uma ficção, então ainda estou pensando. Vou decidir com minha família. Essa produção da Netflix é uma ficção, é apensas baseada no livro da Daniela Arbex que, inclusive, participei. Seria uma hipocrisia não divulgar, até porque assistimos filmes de outras tragédias internacionais. Eu não tenho nada contra. O Globoplay está lançando o documentário, o que já acho mais interessante. Eu e minha filha Jéssica participamos ativamente, ela deu depoimentos de mais de 10 horas para o Marcelo Canellas.

Ogier acredita que tudo que envolve a tragédia da boate Kiss deve ser divulgado, até porque, segundo ele, nada mudou nesse aspecto em Santa Maria e no Brasil. Ele vê certa demagogia nos comentários que condenam produções como Todo dia a mesma noite:

– Emitir opinião sem conhecer é complicado, mas é o direito de cada um. Além da justiça não ter sido efetiva, nós contamos com a parcimônia de todas as esferas. Eu penso assim: a série foi feita. Assisti quem quiser assistir. Logicamente que para os pais é complicado porque qualquer imagem nos toca, mas é uma forma de manter na lembrança, para ver se, pelo menos, as pessoas se conscientizam – finaliza.

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