A senadora Ana Amélia Lemos, em artigo publicado na Zero Hora de 9/8/2017, faz uma série de denúncias de malfeitos e corrupção na área da saúde. Esse é um assunto que tem me preocupado há anos, mercê da minha atuação como médico. Como disse a senadora, merece uma investigação profunda pela Polícia Federal, assim como vem fazendo na Operação Lava-Jato. Uma CPI na Câmara Federal não resultaria em nada, como já se viu na CPI da Petrobras, que produziu uma bela pizza e não evitou a continuidade da corrupção naquela estatal.
OPINIÃO: Jeitinho brasileiro
Em Santa Maria, chama atenção a quantidade de farmácias instaladas e que estão se instalando. Só na Avenida Presidente Vargas e Pinheiro Machado, existem mais de 20 estabelecimentos do gênero. Há alguns dias, perguntei ao gerente de uma rede que tem uma loja em cada canto da cidade e uma dezena delas no Centro, se tantas lojas assim não corriam o perigo de dar prejuízo. Ele me disse que não, que todas, mesmo as que estão uma ao lado da outra, são rentáveis. Fiquei abismado, pois mesmo sendo nossa cidade um grande centro médico, é de se duvidar que haja tantas receitas assim para justificar a proliferação de farmácias.
A justificação é de que o setor de medicamentos é a parte menos importante do ramo. Os produtos de perfumaria e cosméticos, bem como outras mercadorias, são a parte principal do negócio, ficando os medicamentos relegados ao fundo das lojas. Isso me faz lembrar da antiga Farmácia Fischer, que estava situada na esquina da Acampamento com Dr. Bozano no final do século XIX e início do século XX. Vendia de tudo. Além dos medicamentos que lhe emprestavam o nome, vendia lampiões, arreios e selas e outras coisinhas mais...
OPINIÃO: Você pode fazer diferença na vida de alguém. Simples assim!
Outra justificativa para esse comércio é a margem de lucro que impõe sobre os remédios. É um absurdo o que comete contra uma população indefesa, fragilizada pela doença e com uma urgência que não lhe dá opções. São entregues de pés e mãos amarrados ao vampirismo dos laboratórios farmacêuticos, secundados pelos revendedores que lhes adicionam lucros exorbitantes.
Existe no Ministério da Saúde uma Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, que deveria fiscalizar a ganância que impera no setor. A corrupção existente faz com que não seja eficaz. Na China, há muitos anos, o Laboratório Pfizer instalou uma planta industrial para produzir o Viagra. Obtidas as licenças necessárias, durante as diferentes etapas da fabricação, um fiscal chinês ia anotando numa prancheta todos os custos do processo. Ao final, quando o produto foi posto à venda, o governo permitiu um lucro de 30%. Isso fez com que a caixa com quatro comprimidos fosse oferecida ao consumidor por US$ 4. No Brasil, na mesma época, o Viagra igual ao da China era vendido por R$ 95, ou seja, aproximadamente US$ 30! Podem objetar que aqui os custos de produção são maiores, mas a verdade é que a nossa Câmara de Regulação não funciona.
OPINIÃO: Sobre jogar o jogo
Um laboratório de São Paulo produz uma medicação com nome de ¿grife¿ ao preço de R$ 100. Produz o genérico com o preço de R$ 80 e tem o mesmo produto com nome menos conhecido ao preço de R$ 50. Por que essa diferença? A Anvisa, que baliza o preço para o consumidor, fornece uma lista de genéricos que são comprados pelo SUS... Maracutaias como essa são comuns e são obtidas mediante propinas aos agentes fiscalizadores.
A máfia das próteses, já denunciada e objeto de investigação, é outra faceta da corrupção. Recentemente, um laboratório americano admitiu ter pago US$ 3 milhões em propinas a médicos do SUS para que usassem as próteses de sua fabricação!!!
Uma investigação pela Polícia Federal e pelo Ministério Público se faz urgente, abrangendo todos os setores da saúde que está doente de imoralidade e corrupção.