A distância é mãe da insensibilidade que, por sua vez, é a razão da acomodação.
Nós, brasileiros, vivemos longe de quem poderia nos tutelar, proteger, fazer desenvolver, proporcionar melhor viver. Sim, é da União que falo. O País, e mesmo o Estado como unidade da federação, não passam de ficções geográficas, onde ninguém nasce, procria, cria filhos, trabalha, envelhece, morre e é enterrado. Isso acontece no município, que é onde se vive a verdade e de verdade. E ela, a soberana soberba, detentora de tudo o quanto se produz e se dispõe fica lá, longe, no oco do Goiás, ao largo de toda e qualquer comunidade, sem sequer saber de prefacial murmuro dos que, todos os dias, caminham pela vida nas calçadas das cidades, não nas calçadas do Brasil.Aliás, Brasília, de tão diferente que é e gosta de ser, sequer se diz cidade – apesar de disto não passar. É Distrito, e Federal, vejam só!
Do Distrito, meia dúzia de homens e de mulheres define destinos de milhões daqueles aqui embaixo, para quem sobra, lá de vez em quando, um dinheirinho para um ginásio comunitário, um posto de saúde, uma ambulância, um asfalto ou remendo de asfalto. Sempre festejados com solenidade e cores de "marco histórico".Um absurdo que faz do País este conglomerado de insucessos.
Ao cidadão, dar voz realmente, seria lhe facultar ter com quem efetivamente pudesse influir no cotidiano seu, logo o Prefeito. Após, seria ao Governador do Estado, em regime de segunda instância, pelas representações municipais executivas e legislativas. Mas nem Governador hoje em dia é, mesmo, governador...
À União, deveriam ser relegados somente os grandes temas da nação, em grau macro e até abstrato em alguns casos – não todos, corrobore-se!Está tudo o que pode ser feito nas mãos de quem está lá, na Capital Federal, a casa da União, para onde o que vai – e não é pouco – jamais retorna a menos que em conta gotas e por beneplácito.
O que desola é ver que o pacto federativo, fundamental culpado pelo sistema como se percebe, assim como sua revisão para dividir melhor e mais eficientemente – pela perspectiva do cidadão, não de agentes públicos – atribuições, responsabilidades constitucionais e o bolo tributário, que nunca será pauta por quem está no "DF", nem superficialmente é pautado pelos que estão aqui, próximos, e deveriam tratar do tema caso a alteração de realidades fosse, mesmo, sua intenção. De que adianta poder acessar gestores que, quando eficientes, têm como maior talento boas relações e braço mais comprido para estender o pires onde este ou aquele titular de Ministério vai depositar a migalha? Pode até ser muito profícuo o esquema com se apresenta atualmente, e por isso ninguém suscite sua adaptação ao real anseio nacional. Mas essa proficuidade vigora em favor somente de quem está dentro, e não em nosso favor, que, cá de fora, só entramos com o dinheiro.