Não só o Brasil está em crise, mas o mundo está vivendo momento em que certezas são substituídas pela desconfiança, que, por sua vez, fomenta conflitos. Na medida em que temos nossas certezas abaladas, sejam elas políticas, religiosas, morais, tudo se apresenta instável, ameaçador, e a dúvida traz o medo. É o medo, que nasce da crise, que termina por fomentar um enfrentamento sem trégua contra tudo e todos que possam representar algo diferente do que, até pouco tempo atrás, acreditávamos. Há uma dinâmica que move a crise: alguns se adaptam ao novo, outros ficam atrelados ao passado, sem entender o presente e temerosos do futuro.
É paradoxal que a divisão entre conservadores e vanguardistas não tenha uma divisa determinada. Alguém pode ser imobilista quanto aos costumes morais, mas não ser religioso; outro, pode ser religioso, mas liberal quanto aos costumes.
O certo, entretanto, é que cada um tem suas razões para defender sua própria posição e vê o diferente como uma ameaça às suas próprias convicções, reage com os métodos próprios dos momentos de crise: incompreensão e violência.
A crise, que decorre das mudanças de paradigmas político/social, embaralha a compreensão, torna difícil ver com clareza o que realmente está nos afetando. A tendência é de que aqueles que estão arraigados ao passado e rejeitam as mudanças por medo do futuro, assim como os outros, que desiludidos ou convencidos de que o vivido deve ser substituído por algo novo, alienam-se em suas visões particulares, fecham-se em grupos que se retroalimentam, fogem do debate e preferem o confronto.
A crise se agudiza com o confronto. A história registra crises constantes, de diversas magnitudes. Vencemos todas, algumas com muita dor. Haveremos de vencer esta também.
Chegará o momento em que o bom senso terminará por se impor, demonstrando que existem coisas do passado que não se adaptam ao momento atual, assim como no passado acumulam-se também experiências que não podem ser descartadas. As experiências passadas servem de base para que possamos caminhar para o futuro, evitando repetir fracassos e potencializar os êxitos.
Dentre os fracassos a serem evitados está o fundamentalismo, que adota posição dogmática em relação à determinada opinião política, religiosa, econômica, que, sob as bandeiras do fascismo e do nazismo, há 70 anos infernizaram a existência humana na Europa.
O crescimento eleitoral de partidos chamados de ultradireita nos países europeus é um mau sinal. Aliás, este sinal também está presente no Brasil.
A ultradireita não é solução da crise, mas pelo contrário é sua face mais brutal.
Se há o que temer no futuro é a volta da irracionalidade de um grupo querer homogeneizar a humanidade, querendo fazer com que todos pensem e ajam igual.