Artigo

OPINIÃO: Incapacidade de ver e viver

Gilson Piber

Quanto vale uma vida? Um projeto, uma trajetória, uns trocados, um celular, um par de tênis, um carro, uma casa? Mas, afinal, o que é a vida? Um “conjunto de propriedades e qualidades, graças às quais animais e plantas se mantêm em contínua atividade; existência”. Outros denominam a vida como “o espaço de tempo que vai do nascimento à morte” ou “um dado período, biografia, modo de viver, força, vitalidade”, etc. 

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A sociedade brasileira está doente, fruto da derrota vigente da solidariedade para o egoísmo, do dever para o direito torto e da elite, da paz para a guerra, da cidadania para o capital e do amor para a indiferença. Temos, sim, culpa pelas mazelas atuais. Fazemos “vistas grossas” para o amanhã dos nossos filhos e netos em troca de um hoje materialista. Acabamos, infelizmente, contribuindo para a destruição do mundo. Hajam oxigênio, água, luz, sabedoria, força, beleza e consciência para suportar enorme devastação. Talvez, efetivamente, nos faltem amor, respeito, dignidade e esperança pela própria vida.

A coragem para mudar o quadro é sufocada diante dos problemas alheios que interferem no nosso próprio cotidiano, mas fingimos não perceber. Enquanto isso, a riqueza e a pobreza andam juntas. Alguns anos atrás, o senador Cristovam Buarque disse que “os ricos brasileiros são pobres de tanto medo... continuam pobres de tanto gastar dinheiro apenas para corrigir os desacertos criados pela desigualdade que suas riquezas provocam: em insegurança e ineficiência”. Ele acrescentou que, “na verdade, a maior pobreza dos ricos brasileiros está na incapacidade de verem a riqueza que há nos pobres”. Na atualidade, o quadro não mudou. A concentração de renda permanece gritante. Na mão de poucos, está o capital. Alguns preferem não enxergar, numa cegueira premeditada pela arrogância do poder e do dinheiro.

Enquanto isso, balas perdidas e amargas apagam sonhos e geram a tristeza de inúmeras famílias. Drogas interrompem caminhos, deturpam mentes com potencial de mudança e causam a alegria efêmera da morte lenta e silenciosa. O antes, o agora e o depois dependem de planos reais e exequíveis. É preciso gostar, cuidar e amar a vida. Enquanto a chuva cai do céu, o coração ainda pulsa na tentativa de renovação da esperança e da fé em dias melhores, onde a vida valha algo mais que produtos, símbolos e imagens.

O hoje não tem mais tempo para dúvidas, frente a um amanhã de meras promessas e de um ontem equivocado. A valorização da vida nasce de um simples desejo. Porém, a vontade coletiva vai dar o suporte para a transformação do local que habitamos, seja no interior, na cidade, em casa, na escola ou no trabalho. Sejamos obreiros desta construção árdua e urgente. Daí, enfim, daremos uma chance para a vida na essência da palavra.

Por falar da consciência das palavras, recorro a Elias Canetti. No distante 1990, ele já fazia um alerta: “Quem não vê o estado do mundo em que vivemos, dificilmente, terá algo a dizer sobre ele”. 

No Brasil, o atual governo liquida o patrimônio público por preço de banana e incentiva reformas – trabalhista e previdenciária – para detonar, ainda mais, com os direitos dos trabalhadores. Enquanto isso, a reforma tributária não avança. 


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