Artigo

OPINIÃO: Governar é (também) definir prioridades

Alfeu Bisaque Pereira

Tenho dito, sempre que me é permitido opinar, que, aos governos municipais, estaduais e federal, está faltando criatividade para administrar a crise financeira. Sucedem-se os governantes e todos, há muito tempo, gerenciam dívidas e administram crises. Nada novo. Nada promissor. Arrecadam mais e mais impostos sem nenhuma contrapartida relevante. Assistem, passivamente, à fuga de recursos a cada dia, pela sonegação, pela migração de indústrias e pela atividade informal. Essa última, crescendo em proporção geométrica nos últimos anos. Será que os governos não percebem isso com toda a rede de informações de que dispõem? 

 Leia mais artigos   

Ouvi, há poucos dias, um economista afirmar que 80 mil itens industrializados vem da China, inclusive cerâmica que levou a nossa indústria a derrocada. Empresas gaúchas produzindo na China e vendendo aqui o que trazem de lá, inclusive com a mesma marca. Santa Cruz do Sul acontece isso com empresa do setor elétrico. Estão transferindo para o Paraguai mais de 100 indústrias. Em pouco tempo, há risco de o Paraguai apresentar maior crescimento do que o Brasil ou o que já acontece, exportar café sem um único pé da planta. 

O Rio Grande do Sul perde para outros países e também para outros Estados da federação. No último final de semana, experimentei isso pessoalmente. Abasteci em Santa Maria e paguei R$ 4,40 a gasolina. Passei o Rio Mampituba e paguei R$ 3,56. E não é pelo frete, mas pela alíquota do ICMS. O IPVA também é menor no Estado vizinho. Tudo a estimular a fuga para outros Estados ainda viáveis para se viver. Não tem segredo governar um Estado ainda rico como o nosso e todos os demais da Federação. E como se começa? Pela eleição de prioridades que objetivem crescimento a médio e longo prazo. Definir, diante da miséria de recursos, o que é mais urgente. 

Um exemplo é assombroso tamanha a falta de critérios para a definição do que deve merecer prioridade. Na semana passada, o conjunto de deputados federais, mesmo em atividade imprópria para parlamentares cuja função é outra, aprovaram emendas parlamentares impositivas destinando para o próximo ano recursos para a construção de uma ponte sobre o Rio Uruguai, em Porto Xavier, e uma importância para a duplicação da BR-116 para quem vai a Pelotas, em detrimento, entre outras emendas, à do Hospital Conceição. 

Imediatamente, o que é mais necessário: uma ponte que levará 30 anos para ser concluída e uma duplicação de rodovia cujo valor destinado não vai concluí-la ou a saúde pública que evitará centenas de mortes e outros males? Por que os governos não atendem com prioridade a saúde, educação e segurança? Porque são investimentos que materialmente não aparecem e é demorado para surtir efeitos. Afinal, todos têm reeleição em 2018, e uma obra é uma obra. Aparece e é fácil de vender politicamente. 

Por essa mesma razão, ninguém se importa com saneamento básico, pelo menos na proporção necessária. É que nesse caso os canos ficam enterrados e não aparecem; como vender. Uma obra de grande vulto implica em licitação. Grandes empresas participantes da concorrência. Isso explica quase tudo. Não que obras não sejam necessárias, mas é preciso definir o que é mais urgente e necessário para, depois, edificarem pontes sem urgência e duplicação que pode esperar um pouco mais. Não podem mais esperar educação, saúde e segurança pública. Pensemos nisso. 


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Alunos que foram alvo de racismo na UFSM pedem apoio à moção de repúdio

Próximo

OPINIÃO: É sempre bom lembrar coisas passadas 

Geral