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Nova prótese e desejo de retornar a Santa Maria: como está o estudante que caiu do Viaduto da Gare durante a Calourada de Inverno de 2023

Nova prótese e desejo de retornar a Santa Maria: como está o estudante que caiu do Viaduto da Gare durante a Calourada de Inverno de 2023

Foto: Arquivo Pessoal

A noite de 9 de agosto de 2023 mudou a vida de Cristian dos Santos de Oliveira, 33 anos. O estudante de Teatro da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) caiu de uma altura de mais de 4 metros no Viaduto da Gare, durante a celebração da Calourada de Inverno. Cerca de um ano e meio depois do fato, Oliveira, que atualmente mora em Rosário do Sul, conversou com o Diário e contou como está a recuperação e os planos para voltar a Santa Maria. 


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Foram mais de 30 dias de internação no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), sendo 19 deles em coma. Durante esse tempo, o estudante foi submetido a procedimentos cirúrgicos para amenizar a pressão no cérebro e a fratura em um dos dedos da mão esquerda. 


Oliveira cursava Teatro na UFSM, mas precisou trancar a graduação e retornar a Rosário do Sul para focar na sua recuperação. Ele perdeu parte da sensibilidade de alguns dedos da mão esquerda, além da sensação de formigamento no local. 


– Quando eu estava internado, fazia fisioterapia pelo menos uma vez por dia. Sobre esses efeitos, não é algo grave, me informaram que a fisioterapia pode ajudar – conta.


A distância de Rosário para Santa Maria prejudica o processo de recuperação, pois ele não consegue aproveitar os serviços do Husm. Inclusive, a questão psicológica é outro aspecto que faz falta. Oliveira conta que já tentou os dois serviços pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Rosário, mas não conseguiu. O suporte para lidar com esse momento foram a família e amigos:


– Foi tudo muito difícil para mim. Primeiro, acordei em uma cama de hospital sem entender o que estava acontecendo. Foram muitos dias de internações e cirurgias, até receber alta. Até eu digerir tudo, levou tempo. Tive que encarar mesmo. Nunca sentei de frente com um psicólogo para conversar sobre o que aconteceu.


Em outubro de 2024, o estudante passou pela última cirurgia do seu tratamento: uma cranioplastia, para a colocação de uma prótese no crânio. O procedimento foi feito no Husm. Isso foi necessário porque houve um afundamento no crânio e era necessário repor um tecido no local. 


– Eu estou bem. No dia 30 de outubro, passei pela minha última cirurgia. Achei tudo muito rápido, os médicos me deram alta cerca de 48 horas depois. Agora, meu cabelo já está crescendo e a cicatrização está correndo bem - relata.


Muro lateral do viaduto, onde ocorreu a queda. Na época, local recebeu tapumes pela prefeitura de Santa MariaFoto: Nathália Schneider (Arquivo/Diário)


Olhando para tudo o que aconteceu, ele afirma que se enxerga como uma pessoa mais forte:


– Me vejo uma pessoa mais forte. Minha autoestima voltou após a última cirurgia. Antes disso, eu estava com uma parte do crânio afundada, podia tocar a vida normalmente, mas isso atraia a curiosidade das pessoas, que me perguntavam o que tinha acontecido, por que minha cabeça estava desse jeito. Agora me sinto mais seguro até para fazer coisas mais simples no dia a dia, como sair com os amigos e jogar futebol - revela. 


Retorno a Santa Maria em breve

Cristian Oliveira trabalhava para um veículo de comunicação de Rosário do Sul, no formato de home office. Porém, depois do acidente, foi necessário sair do emprego. Essa era a sua forma de sustento em Santa Maria. No momento, ele está desempregado. Chegou a "ensaiar" um retorno à cidade em 2024, mas não foi possível. 


– Quando passei para o curso e me mudei para Santa Maria, me apaixonei pela cidade. Após o acidente, a coisa mais difícil para mim foi entender que teria que largar a faculdade e ir embora. Eu não escolhi isso. Foi o que mais me doeu. Quero voltar à graduação em março deste ano. Quero concluir – conta. 


Enquanto uma oportunidade no mercado de trabalho não aparece, Oliveira organizou uma campanha do bem, com o objetivo de arrecadar R$ 2,5 mil para retornar ao Coração do Rio Grande e conseguir pagar, em um primeiro momento, despesas com moradia e alimentação. O link da vaquinha está aqui. 


Prótese foi desenvolvida na UFSM

Cristian no momento em que estava internado no HusmFoto: Arquivo Pessoal


A prótese implantada em Cristian Oliveira foi criada na UFSM. A técnica foi desenvolvida por pesquisadores do grupo de pesquisa Casa (Computação Aplicada à Saúde), formado por alunos de graduação, pós-graduação e docentes de diversas áreas da saúde, incluindo Engenharia, Medicina e Odontologia.


Esse grupo existe há cerca de 10 anos e desenvolve diversas pesquisas, dentre as quais o desenvolvimento da técnica para a confecção de próteses que parte de moldes feitos por uma impressora tridimensional. As próteses são implantadas em pacientes que perderam tecido ósseo na região craniana. É considerada uma técnica inovadora, fornecida em um hospital público. Oliveira é o sexto paciente a ser submetido a esse procedimento.


– Eu precisei assinar um termo de compromisso. Por fazer parte de um estudo, tenho acompanhamento a cada seis meses. Inclusive, retorno em março. Faço acompanhamento com diversos profissionais da saúde, desde a neuro até a bucomaxilar – conta. 


Além disso, o acidente de Oliveira virou estudo de caso do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de um dos alunos do curso de Odontologia, defendido em dezembro do ano passado. Ele esteve presente na defesa e acompanhou tudo de perto. 


Uma das responsáveis pela confecção da prótese é a doutora Wâneza Dias Borges Hirsch, coordenadora do curso de Odontologia e docente do Departamento de Estomatologia. Além disso, faz parte do corpo clínico docente do Husm, atuando no Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. 


A professora conta que foi procurada pelo médico neurocirurgião Eduardo Pedrollo, responsável pelo caso do universitário, para discutir qual solução poderia ser adotada. Com o devido planejamento, a peça foi criada.

 
Wânesa explica que um material, chamado de polimetilmetacrilato, é o principal instrumento utilizado na confecção. Após o molde tridimensional criado, a prótese é customizada com o formato específico para a anatomia do paciente, ou seja, se encaixa perfeitamente ao defeito ósseo que será corrigido.


– No dia da cirurgia, fomos com a prótese, confeccionada no dia anterior, pronta, e fizemos a instalação com placas de parafuso. Como o procedimento foi no crânio, é da área da neurocirurgia, e eu auxiliei na hora de colocar no local e fazer alguns ajustes se necessário. É um trabalho feito por diversos profissionais. A cirurgia não durou mais que 3 horas – conta a professora.


A docente afirma que, com a disseminação desse projeto, outros casos desafiadores têm surgido. Principalmente, de pacientes com deformidades no rosto ou na região da boca. É neste momento que as próteses podem ajudar. 


– Do ponto de vista cognitivo, o Cristian está muito bem. Ele relatou que não dormia de lado, por causa do afundamento do crânio, agora ele se sente seguro para fazer isso. Isso vai além somente da estética. Nosso trabalho multiprofissional tem somente um objetivo: devolver qualidade de vida para o paciente – finaliza a professora Wânesa. 


Investigação
Na época da queda, um inquérito policial foi instaurado pela 1º Delegacia de Polícia (1º DP) de Santa Maria para apurar o que teria ocorrido. De acordo com o delegado Carlos Alberto Dias Gonçalves, o caso foi classificado com um incidente e o inquérito foi concluído sem indiciamentos. 


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