
Vinicius Becker (Diário)
Amigos, vizinhos e familiares tentam entender os motivos para a morte do agricultor Valdemar Both, 54 anos, durante uma abordagem por policiais da Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram), ocorrida no final da tarde de terça-feira (1) no distrito de Palma, a cerca de 30 quilômetros de Santa Maria.
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A família, que veio de Vista Gaúcha – cidade de menos de 3 mil habitantes no norte do Estado –, mudou-se para Santa Maria em janeiro de 2021.
Moradores às margens da Estrada do Radar, no distrito de Palma, a família mantinha a produção de palanques, tramas, tábuas e de lenha. Além disso, a esposa de Valdemar, Cléria Both, atuava como massoterapeuta. Rodeado por árvores frutíferas, eles alugavam a propriedade, que possui uma casa e alguns galpões – em um deles, Valdemar fazia o processamento da madeira. A propriedade é rodeada por lavouras de arroz, que não são de propriedade do agricultor.
Na manhã desta quarta-feira (2), diversos amigos e vizinhos foram até a propriedade prestar algum tipo de apoio. O filho do produtor, Gabriel Both, 21 anos, deixou a casa pela manhã para levar os documentos e providenciar a liberação do corpo do pai, que será velado e enterrado em Vista Gaúcha.
O que diz a Brigada
Em nota, o Comando Ambiental da Brigada Militar informou que os policiais agiram em legítima defesa. Segundo a BM, os policiais do 2° Batalhão Ambiental estavam em patrulhamento na zona rural, quando depararam com a propriedade, que processaria e comercializaria produtos de "origem florestal". "E que (a Patram) manteve contato com o proprietário do empreendimento e, ao longo da fiscalização, foi detectada uma serra circular e motosserras, bem como grande quantidade de madeira e lenha. Foi verificado que o mesmo não possuía a devida licença ambiental de operação. Licença essa que é obrigatória, segundo as normas ambientais. Também foi constatado que as motosserras não tinham a devida licença de porte e uso", diz um trecho da nota.
Ainda conforme a Brigada, ao saber que os materiais seriam apreendidos, "iniciaram-se as hostilidades que infelizmente culminaram com o óbito do senhor que estava sendo fiscalizado". Um inquérito policial militar (IPM) foi aberto para investigar as circunstâncias do fato.
"O Comando Ambiental reforça seu compromisso com a verdade e transparência do fatos, sendo necessário neste momento que se aguarde a conclusão da investigação em curso", conclui a nota do Comando Ambiental.
O que diz a defesa
Advogado da família, Márcio Obetine, afirma que as motosserras de Valdemar Both seriam registradas. Em relação a um possível desmatamento no local, informou que o agricultor comprava eucalipto e não fazia os cortes, além de que não precisaria de licença para a produção.
Comunidade ainda sem entender

Enquanto os parentes ainda tentam compreender o que motivou os disparos, vizinhos e conhecidos do produtor rural se dizem em choque com a notícia. “Querido” e “trabalhador” foram alguns dos adjetivos usados para descrever Valdemar.
Segundo moradores, nunca houve uma morte como essa no distrito. Adriano Pagliarin, 49 anos, nasceu em Palma e mantém uma propriedade há 10 anos. Ele conta que Valdemar prestava serviços de paisagismo em uma residência da região.
– O Valdemar era uma pessoa muito trabalhadora. Estava sempre roçando pátios, cortando lenha. O jeito dele era trabalhar. Eu diria que ele era uma das poucas forças aqui da comunidade para fazer esse tipo de serviço – relata Pagliarin.
Ainda abalado, ele reforça o sentimento de perplexidade:
– Foi muito chocante. A comunidade ficou em choque porque ninguém entende. Acho que ninguém entendeu até agora o que aconteceu. A gente espera que isso seja esclarecido, pelo menos.
Antônio Gênio Bolson, 65 anos, também nasceu e vive na localidade. Ele conheceu Valdemar quando o produtor chegou à comunidade, em 2020:
– A impressão que todos tínhamos era de uma pessoa trabalhadora. Ele prestava serviço para vários moradores, especialmente com jardinagem, roçando pátios, limpando terrenos. Também cortava e vendia lenha – conta Bolson.