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Laudo pericial aponta que elevador que caiu na UFSM em 2024 e deixou cinco feridos não tinha peças de segurança

Laudo pericial aponta que elevador que caiu na UFSM em 2024 e deixou cinco feridos não tinha peças de segurança

Foto: Beto Albert

Em 17 de abril de 2024, um elevador caiu no prédio 40C da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Nele, estavam quatro alunos e uma professora e todos sofreram lesões físicas e carregam traumas psicológicos até hoje. Após mais de 10 meses do caso, o Diário teve acesso ao laudo pericial da investigação, que apontou a falta de peças na montagem do elevador, fato que teria ocasionado a queda.

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Relembre o caso

Era uma tarde comum para as cinco pessoas que estavam no elevador. A convite de uma professora, os quatro estudantes, que integravam o grupo de pesquisa da mesma, estavam a caminho de uma aula experimental com outra docente da UFSM. Contudo, por volta das 16h29min, a estrutura despencou até o poço.

De acordo com a universidade, a instituição buscou desde o início investigar a situação internamente. No entanto, após a apuração, constatou que o fato não foi de responsabilidade dos servidores. Já a B27 Elevadores, que instalou o equipamento, não se manifestou na época e segue sendo de difícil acesso até para as partes envolvidas no caso. Mediante licitação, a empresa foi responsável, ainda, pela instalação de  outros dois elevadores – um no prédio 74E do campus sede e outro no campus de Cachoeira do Sul. 

Foto: Corpo de Bombeiros (Divulgação)


Confira o posicionamento da UFSM sobre investigações internas

“Em relação ao incidente com o elevador, a UFSM instaurou, imediatamente, à época o procedimento interno para apurar eventual responsabilidade de agentes públicos no sinistro. Após diligências, o processo foi arquivado por constatar a ausência de irregularidades de servidores incumbidos de fiscalizar a empresa responsável pelos elevadores. Paralelamente a isso, foi aberto um Processo de Apuração de Responsabilidade (PAR) para averiguar as condutas da empresa em questão e suas respectivas responsabilidades no incidente – está em fase de instrução. Este processo administrativo prevê ampla defesa e o contraditório da empresa implicada.”


O laudo

Após a realização de uma perícia, o laudo da Polícia Federal concluiu que que teriam ocorrido erros na instalação do elevador do Prédio 40C do campus sede. Segundo o documento, ao qual o Diário teve acesso, o elevador não tinha freio de segurança, assim como não tinha para-choques e/ou limitadores do percurso final, como amortecimento ou escoramento. A perícia apontou, ainda, que existia apenas uma pré-montagem parcial do suporte do mecanismo do freio de segurança. Tais acessórios deveriam atuar, quando há a ruptura dos elementos de suspensão do elevador, com o objetivo de evitar que o aparelho caísse em queda livre ou descesse com excesso de velocidade.

Ao analisar o local, os peritos constataram que os cabos que sustentam e tracionam a cabine foram encontrados soltos sobre ela. O laudo também observa que um dos quatro cabos estava com a extremidade solta em relação ao fixador no poço do elevador. No momento da queda, relata o documento, houve o rompimento da arcadinha, que é o suporte que fixa a polia no sistema arcada. A arcada é responsável por conectar a cabine ao sistema de subida e descida do elevador.

Antes da realização da perícia, foi solicitado à B27 Elevadores pela Polícia Federal um dossiê com detalhes técnicos e desenhos, esquemas elétricos, esquemas hidráulicos e certificados, além de relatórios de inspeções e ensaios. Contudo, a empresa não enviou os documentos.

Sem o suporte dessa documentação, os peritos compararam a estrutura do elevador que caiu, no prédio 40C, com o aparelho do prédio 74E, que também foi instalado pela empresa. Eles perceberam que "a capa da polia no sistema arcada e arcadinha" era diferente entre os dois aparelhos. No elevador da queda, a capa foi soldada, o que gera vulnerabilidade à estrutura. No laudo, o procedimento foi classificado como “processo de fabricação improvisado”, pois a solda tinha aspecto visual de qualidade abaixo do esperado. Enquanto isso, no outro equipamento instalado pela empresa no campus sede, a capa da polia foi montada com parafusos e porcas para fixar suas partes.


As vítimas

Mais de dez meses depois, elevador do prédio 40C segue sem ser utilizadoFoto: Beto Albert

As cinco pessoas que estavam no elevador foram procuradas pelo Diário. A primeira ferida a se manifestar foi Juliana Tondolo, 51 anos, que é militar reformada e estudante de Filosofia. Ela quebrou o calcâneo, osso que forma o calcanhar, do pé direito e machucou o cotovelo. Após quase três meses em que utilizou cadeira de rodas e muletas, ela voltou a caminhar. Atualmente, ela se queixa de algumas dores no pé direito e no cotovelo. Além disso, desenvolveu um certo trauma de elevadores e tenta evitar tais equipamentos.

– Agora, eu aperto o elevador e penso: quanto mais ele sobe, mais tem um buraco para baixo – contou Juliana.

Outra vítima foi a mestranda de Filosofia, Vitória Coelho, 26 anos. Ela não chegou a quebrar ossos, pois possui hipermobilidade, uma condição que os deixa mais elásticos. No entanto, sofreu uma pancada no cóccix e fraturou o assoalho da órbita do olho esquerdo, após uma barra cair em seu rosto. Além disso, a estudante desenvolveu traumas e passou a apertar os dentes por causa de dores. Até hoje, evita entrar em elevadores e conta que só consegue usar o de seu prédio.

– Em vários momentos, eu tive que fazer provação de bolsa, mesmo estando sob essas demandas de tratamento e dor… Eu gostaria de deixar claro que eu ainda não fiquei sem bolsa, mas queria que tivessem lidado melhor com a situação e que tivessem me dado segurança e estabilidade a respeito. É muito triste que sofri um acidente em exercício de função e não pude ter segurança que continuaria recebendo a minha fonte de renda – disse a estudante, que se mostrou chateada com a UFSM.

Assim como Juliana e Vitória, Pedro Abreu Domingues, 24 anos, também estava no momento da queda. Estudante de Educação Física, ele fraturou os dois pés e rompeu o ligamento do pé esquerdo. Após o acidente, ele relatou que realizou sessões de fisioterapia oferecidas pela UFSM, mas também procurou um serviço particular em paralelo. Sobre o auxílio psicológico, reforça que teve uma consulta com psicólogo da universidade, mas optou por seguir com um profissional do qual já era paciente.

Por ser competidor de atletismo, a distância dos treinos e competições o frustrou, principalmente na questão psicológica. Cinco meses depois, ele conseguiu disputar os 10 km da 2ª Maratona de Santa Maria.

– Eu estava em um momento muito legal, de eventos esportivos. E sempre batia uma tristeza, uma ansiedade para saber se eu ia conseguir voltar ou não. Quando veio o laudo médico, de que eu tinha rompido o ligamento… Então, eu sempre ficava naquela angústia, ansiedade e tristeza, de estar parado. Eu me perguntava quantos dias eu ficaria parado, se precisaria fazer cirurgia. Eram dores emocionais, não estava mais correndo, não encontrava mais meus amigos para correr – afirmou o estudante.

O quarto estudante que estava no elevador foi procurado, porém não quis se pronunciar sobre o assunto. Já a professora que acompanhava os alunos não quis ser identificada, mas confirmou que teve quatro fraturas, sendo três na coluna e uma no calcâneo. Atualmente, ela segue em processo de reabilitação, tem dores crônicas e problemas na coluna.


O posicionamento das partes envolvidas

O caso envolvendo a queda do elevador no prédio 40C do campus sede da UFSM está sendo investigado pela Polícia Federal e está em segredo de justiça. O Diário entrou em contato com a PF,  mas não obteve respostas. Da mesma forma, a empresa B27 Elevadores foi procurada oito vezes e também não retornou.

A UFSM informou que abriu um Processo de Apuração de Responsabilidade (PAR) em relação à B27 Elevadores e que se comunica com a empresa via processo administrativo. Quanto ao auxílio financeiro e outros serviços, a universidade se manifestou:

“A UFSM ofertou atendimento com equipe de saúde mental por meio dos serviços já disponibilizados. Quanto ao auxílio financeiro, é importante ressaltar que não há previsão legal de pagamentos adiantados ou atendimentos preferenciais no Husm, por exemplo. Até o momento, não houve requisição formal de ressarcimento dos gastos com tratamento de saúde.”

Em nota, a advogada de Pedro Abreu Domingues, Ludmila Vianna, alegou que a UFSM não prestou o atendimento adequado à vítima, pois foi oferecido de forma tardia, quando o estudante já havia buscado assistência particular.

Confira a nota

“Em 2024, Pedro, juntamente com outras pessoas, sofreu um grave acidente nas dependências da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), quando um elevador apresentou falha e despencou, causando-lhe ferimentos significativos no pé.

Apesar da gravidade do ocorrido, a UFSM não prestou suporte adequado à vítima, deixando-a sem assistência psicológica e financeira para lidar com as consequências do acidente.
Conforme relato da advogada do Pedro, Ludmila Vianna, além das lesões físicas, Pedro enfrenta sequelas emocionais severas, incluindo traumas que impactam sua rotina e qualidade de vida. “A insegurança gerada pelo acidente compromete sua saúde mental, refletindo em crises de ansiedade e dificuldades para retomar atividades diárias”.

“Diante da omissão e do sofrimento enfrentado, nosso objetivo é obter reparação judicial pelos danos morais e materiais que ele suportou. O caso levanta um alerta sobre a necessidade de maior fiscalização e compromisso das instituições públicas com a segurança de seus frequentadores.”

A defesa seguirá firme na busca por justiça, para que casos como este não voltem a se repetir e para que os responsáveis respondam judicialmente.”


Já a advogada Walquiria Flores da Silva, que representa Juliana Tondolo, Vitória Coelho e a professora, reforça que as três vítimas tiveram a rotina impactada pelo acidente. Da mesma forma, prefere não comentar muito em função da investigação estar em andamento.

Confira a nota

“O escritório Becker e RAS representa três das cinco vítimas da queda do elevador na UFSM, ocorrido no dia 17/04/2024. O inquérito policial que apura os fatos ainda está em andamento e, por respeito ao devido processo legal e à independência das autoridades responsáveis pela investigação, não nos manifestaremos sobre eventuais responsabilidades ou sobre a extensão dos danos neste momento. O que podemos afirmar é que as vítimas, cada uma em sua particularidade, tiveram suas rotinas profundamente impactadas pelo ocorrido. Diante disso, estamos trabalhando para obter o melhor resultado, buscando minimizar os transtornos sofridos através da reparação pelos danos materiais e morais suportados por cada vítima durante esse longo período de recuperação. Para tanto, estamos aguardando a conclusão do inquérito policial e confiamos que as investigações esclarecerão os fatos e garantirão a devida responsabilidade dos envolvidos.”

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