
Foto: Mateus Ferreira
Passado o mês de junho com comemorações a São João, Santo Antônio e São Pedro, Julho começa com uma data reservada a um dos 12 apóstolos de Cristo: São Tomé. Figura importante no cristianismo, o dia do santo é celebrado hoje, 3 de julho. São Tomé é o padroeiro dos arquitetos, construtores, juízes, teólogos e das cidades de Prato, Parma e Urbino, na Itália.
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Seu nome significa “gêmeo” em aramaico e o apelido, “Dídimo”. De origem galileia, Tomé era possivelmente pescador – a exemplo de outros apóstolos –, embora algumas tradições o apontem como arquiteto ou construtor.
Segundo o administrador paroquial da Quase-Paróquia São Francisco de Assis, em Santa Maria, padre Maicon Marion, Tomé aparece em momentos decisivos do Evangelho. Entre as passagens marcantes, está o momento em que Jesus decide retornar à Judeia para visitar Lázaro:
– Nesse momento, Tomé expressa coragem e diz: “Vamos também nós, para morrermos com ele”. Já na Última Ceia, é dele a pergunta que leva Jesus a declarar: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
A dúvida fortalece a fé
Outro episódio importante, conforme Marion, está presente no Evangelho de João. Tomé se recusa a acreditar na ressurreição de Jesus sem vê-lo com os próprios olhos.
– Oito dias depois, Cristo reaparece e convida Tomé a tocar suas chagas. Ele,então, exclama: “Meu Senhor e meu Deus!”, que é uma das mais belas confissões de fé no Novo Testamento. Nesse momento, Jesus responde: “Você acreditou porque me viu? Felizes os que não viram e acreditaram.” Essa passagem tem inspirado gerações de fiéis que, mesmo sem testemunhar os milagres de Cristo, mantêm a fé – frisa.
O padre conta que, mesmo com a dúvida, Tomé continuou próximo da comunidade:
– Ele não se isolou. Mesmo não tendo visto o ressuscitado no primeiro momento, permaneceu com os discípulos. Foi justamente ali, na comunidade, que ele encontrou a resposta e fez sua profissão de fé. Tomé é exemplo de fé encarnada, que passa pela experiência e dúvida. Não é uma fé cega, mas que nasce do encontro. Ele representa aqueles que buscam com o coração aberto. Sua vida representa a busca sincera por respostas e o encontro verdadeiro com Deus.
Essa situação, aliás, deu origem ao famoso ditado popular: “Eu sou igual a São Tomé. Só acredito vendo!”
O martírio
O dia de São Tomé marca seu martírio, no ano 72, em Mylapore, na atual Índia. A tradição relata que ele foi golpeado por uma lança enquanto evangelizava. Para o padre, a celebração tem profundo significado espiritual.
– A figura de Tomé ensina que a dúvida também faz parte do caminho da fé. Deus respeita o nosso tempo. Jesus não repreende Tomé por ter duvidado, mas o convida a tocar suas feridas. Isso mostra a ternura e a paciência de Deus conosco – reforça Marion.
O que diz a tradição
A tradição cristã relata que Tomé teria evangelizado na Síria, na Mesopotâmia e, posteriormente, na Índia. Ali, fundou comunidades cristãs entre judeus da região, que sobreviveram por séculos e ainda hoje são conhecidas como “cristãos de São Tomé”.
Foi na Índia também que ele teria sido martirizado. Seus restos mortais foram levados para Edessa (atual Turquia), depois para a Itália, onde estão atualmente na Catedral de São Tomé, em Ortona.
Em 2023, parte da ossada foi enviada ao Brasil e encontra-se na cidade mineira de São Thomé das Letras. O fragmento de osso – chamado de “ex ossibus” – foi recebido com procissão, missa solene e homenagens da comunidade.
Igrejas pelo país
Em Santa Maria ou nas igrejas que compõem a Arquidiocese, não existe uma paróquia dedicada a São Tomé. Em outros cantos do país, há templos que o homenageiam. Esses locais ficam nos Estados da Bahia e de Minas Gerais.
A Igreja de São Tomé de Paripe, em Salvador, é uma das mais antigas do Brasil, do século XVI. No mesmo Estado, está a Paróquia São Tomé, na cidade de Camaçari, que realiza novenário tradicional no mês de julho.


Outra Paróquia de São Tomé fica no município mineiro de São Thomé das Letras, local onde está um pedaço do osso – uma relíquia– do apóstolo. Segundo a Arquidiocese de Minas Gerais, desde então, São Thomé das Letras passou a ser a única cidade mineira a ter uma relíquia dessa magnitude.

Última Ceia
Na famosa pintura de Leonardo da Vinci referente a Última Ceia, Tomé é o terceiro apóstolo à esquerda de Jesus (do ponto de vista do observador), com o dedo indicador erguido.

O gesto, conforme teólogos, remete ao seu desejo de tocar as feridas de Cristo, eternizando sua fama como “apóstolo incrédulo”.