Francisco Queruz: do arroio que só sobrou a memória

Redação do Diário

A coluna Plural desta sexta-feira (17) traz texto sobre o tema Cultura e patrimônio. Os textos da Plural são publicados diariamente na edição impressa do Diário de Santa Maria. A Plural conta com 24 colunistas.

Francisco QueruzArquiteto e urbanista e professor universitário

Desde o primeiro mapa elaborado de Santa Maria, de meados do século XIX, junto aos poucos arruamentos lançados, já era possível identificar uma linha d’água que corria a cerca de duas quadras da Praça da Matriz. Este arroio contribuiu desde aqueles tempos remotos, dando a tão valiosa água, necessária para beber, banhar e cultivar.

Por outro lado, as cidades também são provas, ao longo de muitos séculos, que os rios sempre foram considerados formas eficazes de mandar o que não se queria para longe, em especial resíduos. Assim, nossa sociedade tornou aceitável e usual transformá-los em grandes esgotos e lixeiras.

Essa, infelizmente, também é a história de um dos arroios mais conhecidos de Santa Maria: o Itaimbé. Penso que nesse caso, não temos só a morte do rio, mas também o seu sepultamento: não está só poluído, mas enterrado, abaixo das calçadas do parque que recebeu seu nome. É uma forma eficaz de esquecer do nosso patrimônio natural.

João Cezimbra Jacques, autor do conto publicado em 1912, que se confunde hoje com lenda, sobre o surgimento de Santa Maria, cita a fonte do “Itáembé” como o local de nascimento da índia Imembuy, a filha da água. O conto, ficcional, também fala do casamento dela com Morotin, português aprisionado pelos índios, e traz nomes até hoje muito recorrentes a realidade de nossa cidade. Sobre esta estória, além do original, vale a pena ler também o texto de Orlando Fonseca, “A Lenda da Lenda de Imembuí” (no site da Rede Sina).

A história do Parque Itaimbé, contudo, foi definida no final dos anos 1970, quando se aventava usar o percurso para criar uma avenida e a canalização do arroio já havia sido feita. Através do Programa CURA I / Sinuelo, junto à alteração do Plano Diretor municipal, foi identificada a necessidade de áreas verdes, e o local, reconhecido pelo poder municipal como depósito de lixo e área de ocupação irregular, foi alvo de uma “ação sanitarista”. Surgiu a área de lazer, como um parque linear, e a água seguiu escondida, em um tipo de ação bastante comum à época.

Nesses últimos 40 anos, o parque passou por alterações de instalações e novos projetos, viu a utilização do entorno aumentar e se consolidou como principal espaço verde do centro da cidade. A população usa muito o local, que é plural, aberto e democrático. É um bem público de Santa Maria. Contudo, já passou o período de esconder a linha d’água, ela deveria voltar a pertencer ao local, a Imembuy e a todos nós.

Para saber ou cadastrar o que acontece por lá, pode-se acessar o site do Distrito Centro-Gare, e olhar a agenda de eventos.

O grupo de extensão [com]Vida, da UFN, também tem realizado ações lá, com frequência, que podem ser vistas pelo perfil no Instagram.

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