Nathália Schneider
Fiéis enfrentaram a manhã nublada e o vento fresco, característico do Parque da Medianeira, para acompanhar a tradicional encenação da Via Sacra que ocorre anualmente na Sexta-feira Santa na Basílica Nossa Senhora Medianeira. A encenação é uma reconstituição religiosa e teatral do caminho que Jesus percorreu até o Monte Calvário, enquanto carregava a cruz. O caminho é formado por 14 estaçõesque representam cenas do sofrimento e da Paixão de Cristo. Para os fiéis que observam atentamente, o momento é de reflexão sobre a provação que Jesus passou em vida.
As estações da Via Sacra
Adultos, crianças e até cachorros acompanharam o caminho da Via Sacra que foi reconstituído no Parque da Medianeira. O reitor e pároco da Basílica, Padre Cristiano Quatrin, começou a cerimônia e, logo depois, o arcebispo Dom Leomar Antônio Brustolin deu continuidade, citando cada uma das 14 estações, enquanto um grupo de jovens atores encenavam. Jesus e Maria foram encenados pelo militar Cleiton Lago, 22 anos, e pela bacharel em Matemática Silvianne Amaral, 24 anos.
Para o ator que encenou Jesus, a emoção esteve à flor da pele do início ao fim:
– É a primeira vez que eu enceno, é muito emocionante. Cada momento que a gente vai passando ali, a gente vai se sentindo cada vez mais próximo – comenta.
Para a atriz que interpretou Maria, a emoção foi marcada pelo sentimento de empatia:
– É como se a gente imaginasse as dores que Nossa Senhora teve, né?! A gente se coloca no papel de uma mãe vendo o filho sofrer, mas que sabe que pode apenas acompanhar porque essa é a vontade de Deus – comenta.
Os momentos retratados na Via Sacra começaram com a condenação de Jesus à morte, passando pelo caminho em que Jesus carregou a cruz, as quedas, os encontros com a mãe Maria e demais mulheres, até o momento de ser crucificado, morto e sepultado. De acordo com Padre Júnior, 27 anos, a Via Sacra retratada ainda conta com uma 15ª estação, que será relembrada no domingo: a ressurreição de Jesus.
A encenação em meio à natureza parecia propícia para reflexão. As crianças caminhavam em silêncio, assim como adultos e idosos. Muitos estavam concentrados em prece, mas também cantavam quando o arcebispo entoava um cântico. Nas três quedas de Jesus, os fiéis também se abaixaram ou se ajoelharam.
Ao final da encenação, o arcebispo Dom Leomar parabenizou pais e mães por levarem os filhos para percorrem junto a Via Sacra. Para ele, a inserção dos jovens e crianças na igreja desde cedo é muito importante:
– Aquilo que nós recebemos dos nossos pais e avós em termos de valores, se nós não transmitirmos para as futuras gerações, nós seremos cobrados. Precisamos passar adiante esses valores que vem da fé. A gente acha que não precisa da fé para dar certo, mas de repente aparece a doença, o envelhecimento e a morte. Por isso que eu digo: a fé, ela não resolve tudo, mas ela dá um novo sentido para tudo, por isso ela é tão importante – explica.
Crianças e adultos participaram do evento
O casal Nathalhye, 32 anos, e Fabrício Lorensi, 41, estiveram presentes na Via Sacra com os filhos Miguel, de 5 anos, e Matheus, de 10 meses, além do afilhado Gabriel, de 8. Para Fabrício, a ocasião é uma oportunidade de transmitir os ensinamentos de fé para outras gerações:
– A gente acredita que a evangelização começa em casa, então aqui é o momento, o local e a data propícia para começar essa convivência dos pequenos e nossa com a religião e toda essa paixão em Cristo. Em casa, nós já fazemos a leitura da Bíblia e assistimos juntos muitos desenhos bíblicos. Então já passamos esses conhecimentos e valores para nossos filhos e afilhados – comenta.
Além de crianças que viram a Via Sacra pela primeira vez, outras pessoas como a agente comunitária de saúde Margareth Flores, 59 anos, estavam vendo a encenação novamente. Ela recorda que a última vez que acompanhou a Via Sacra foi há 5 anos, na companhia da filha. Desta vez, ela foi agradecer a vida, refletindo sobre os momentos de dificuldade que viveu como trabalhadora da área da saúde durante a pandemia:
– A gente deveria agradecer mais do que pensar “ah, hoje o dia tá difícil”. A gente precisa tentar e conseguir carregar essa cruz nos momentos de dificuldade. Ver a Via Sacra foi muito emocionante – reflete.