
Desde 2013, Neusa Maria Nunes retorna ao prédio onde ficava a boate Kiss. É nele que encontra as lembranças dolorosas, mas também a maior saudade: o filho Leandro, uma das 242 vitimas do incêndio. O caminho até lá, apesar de difícil, é uma forma de manter a memória viva. Assim como ela, dezenas de familiares, sobreviventes e amigos estiveram na programação do dia 26 para o 27 que, neste ano, marca os 12 anos da tragédia.
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– O que queremos é manter a memória, para que não caia no esquecimento. Todos os anos a gente vem. Só quem passou por isso entende o nosso sofrimento. Estamos aqui para que isso não ocorra de novo – afirma Leonardo Nunes da Silva que acompanhava a mãe na vigília.

Acolhimento
Por volta das 21h do domingo, que abria a programação, abraços pareciam espantar o vento frio e melancólico que soprava em Santa Maria. Uma tenda na Praça Saldanha Marinho foi montada para acolher quem quisesse prestar a sua homenagem. Para o presidente da Associação de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Flávio Silva, todas as ações que lembram a tragédia são necessárias para evitar o esquecimento:
– Tem sido assim desde o primeiro ano. Sempre guardamos o dia 26 para fazer algo mais contundente. O importante estarmos aqui, para ficar marcado na memória porque, se não, corremos o risco de cair no esquecimento. E para isso que a gente luta, para não cair no esquecimento.

Caminhada e homenagens
Por volta das 22h, a caminhada até a Rua dos Andradas marcou mais um dia 27 de janeiro. Nas mãos, todos foram carregados de velas, fotos e saudade. O ponto de chegada foi o prédio onde funcionava a boate, e que agora recebe as obras do Memorial. Nele, os registros se juntaram em um mural de memórias. Alguns acariciavam as fotos, numa tentativa de aproximar quem, há 12 anos, está longe fisicamente.
Outros, como Maike Adriel dos Santos, um dos sobreviventes do incêndio, pareciam voltar para o dia 27 de janeiro de 2013 e lembrar dos amigos. Oito pessoas do grupo em que estava perderam a vida na Kiss. Para ele, a cada ano, a luta é contra o esquecimento do que aconteceu:
– É preciso para virar um aprendizado. Também pela memória. Por isso estamos aqui. Se a gente deixa apagar, se não relembra o fato, ou se não tenta fazer diferente, tem grandes chances de ocorrer em outros lugares.

Em frente ao mural de memórias, a programação seguiu com a exibição de vídeos, com homenagens e detalhes sobre a exposição "Sobrevivi para contar" – mostra fotográfica produzida pelo coletivo Kiss. A leitura dos nomes das 242 vítimas, seguido do minuto de barulho, encerrou as ações da madrugada do dia 27.
Programação segue nesta segunda
Nesta segunda (27), estão programados painéis de discussão e homenagens que irão acontecer na tenda da vigília, em frente ao Banrisul na Praça Saldanha Marinho. As ações são de iniciativa de Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e do Coletivo Kiss: Que Não se Repita. Confira a programação abaixo:
- 18h – Abertura com a fala do Presidente da AVTSM, Flávio Silva
- 18h10min – Atualização das últimas decisões do Processo Penal com Pedro Barcellos Jr, advogado da AVTSM
- 18h30min – Vozes da saudade com Maria Tagliapietra (mãe da vítima Luciano Tagliapietra Esperdião)
Maria Aparecida Neves (mãe de Augusto Cezar Neves) e Adherbal Ferreira (pai de Jennifer Mendes Ferreira) - 19h20min – Sobrevivi para contar com Mirian Schalemberg, Jovani Rosso, Cristiane Clavé e Delvani Rosso, sobreviventes da tragédia de 27 de janeiro de 2013
- 20h10min – Cuidar e acolher, com Volnei Dassoler e Patrícia Bueno, membros do Santa Maria Acolhe
- 21h – Encerramento das atividades
Missa
- Onde – Catedral Metropolitana de Santa Maria
- Quando – Segunda (27), às 18h15min