
A tradição de transformar a lã de ovelha, de forma manual, em fios para produção de roupas, foi se perdendo com o passar das décadas e é uma raridade mantida pela Novelaria Santa Marta, no interior de Caçapava do Sul. A propriedade rural virou um ponto turístico, em que os visitantes têm a oportunidade de conhecer o ciclo completo de produção, no roteiro chamado do cordeiro ao novelo. E não é qualquer fio de lã, mas novelos produzidos e tingidos com tinturas extraídas de plantas da propriedade.
De sobra, os turistas ainda podem comer um churrasco típico da região, de carne de ovelha, e conhecem as belas paisagens das Guaritas, que já foram cenário de filme e têm formações rochosas de 500 milhões a 600 milhões de anos, algo único do mundo e que foi responsável pelo Geoparque Caçapava ser reconhecido pela Unesco.
A Movelaria Santa Marta é comandada pela professora, artesã e produtora rural Marta Teixeira Silveira e pelo marido, o produtor e veterinário Jorge Luiz Dias de Dias. Esse resgate e essa experiência, que têm maravilhado turistas de todo o Brasil que vão à novelaria, receberam um dos únicos três prêmios de Boas Práticas em Geoparques da Unesco, durante o 10º Encontro Internacional de Geoparques Globais da Unesco, em Marrakech, no Marrocos, no início de setembro. A novelaria concorria com empreendimentos de 195 geoparques de 48 países.
Aos sábados, domingos e feriados, turistas da região e de todo o país costumam ir até a novelaria, até porque fica dentro do geosítio das pedras das Guaritas, ponto turístico famoso de Caçapava do Sul. Os passeios à propriedade, que podem ser agendados (veja como no quadro), começam com uma mostra de como são os cuidados e o manejo para a produção das 325 ovelhas da raça ideal, em campo nativo. É nessa hora que outra estrela da propriedade ganha evidência e chama a atenção dos visitantes. O cão da raça border collie Gaiteiro ajuda a fazer o pastoreio do rebanho.
– A gente tem uma vivência que é do cordeiro ao novelo. O turista vai conhecer desde a raça ideal, o manejo com cachorro, o processo da lã, a gente tem uma máquina de esquila antiga, que era do avô do meu marido. Depois de ver esse processo, a gente vai para a novelaria, para conhecer como faço a lavagem, a cardagem, a fiação na roca manual. Mostro como faz o tingimento natural e, depois, a gente faz uma trilha onde conhecem as plantas nativas usadas no tingimento e vamos para o mirante, em frente às Guaritas, que é o nosso geosítio, de extrema importância para o geoparque, com uma vista muito linda – conta Marta.
Ela lembra que esse processo é um resgate da tradição gaúcha, que precisa ser preservada.
– Da lã produzida aqui na propriedade, a gente usa 10% para fazer o fio. O resto é vendido a uma cooperativa parceira Aqui, a gente lava a lã, carda e fia em roca manual, resgatando uma tradição que, ao longo dos anos, foi se perdendo aqui na região, que é a fiação. Fizemos o tingimento com as plantas do nosso bioma, do campo nativo, a partir de arbustos prejudiciais para a ovelha, que são espinhos com o São João, a rapa-canela e a japecanga. A gente vai procurando essas plantas para fazer o tingimento. E no final, esse corante que sobra, a gente está fazendo as aquarelas botânicas, para pintura de papel ou madeira – diz ela.
Marta acredita que o selo da Unesco vai ampliar muito o turismo na região.
– O geoparque foi um divisor de águas na nossa vida. A novelaria nasceu junto com o geoparque. A partir de a gente conhecer e entender o que era um geoparque que ela nasceu. Isso nos dá motivação, incentivo e une as pessoas. Já participei de várias coisas e nunca tinha visto isso. Ele une as pessoas e faz todos crescerem juntos. Com certeza, eu só vejo coisas boas pela frente. Claro que tem muito trabalho e criatividade para manter esse selo, pois daqui a quatro anos, temos mais uma avaliação. Que tenhamos mais iniciativas e sejam criados mais geoprodutos – afirmou Marta.
Neste sábado (14), às 12h, acompanhe o programa Nossos Geoparques, na Rádio CDN 93,5 FM, com Gilberto Ferreira.
Novelaria Santa Marta
- Onde fica – Junto ao Parque das Guaritas, em Caçapava. Fica a 70 km da cidade. É preciso pegar a BR-153, em direção a Bagé, e andar 45 km de asfalto. Depois, são mais 25 km de estrada de chão em direção às Guaritas. Fica no caminho para Minas do Camaquã
- Visitação – Visitas podem ser feitas individualmente ou por grupos de até 40 pessoas, por meio de agendamento. Para quem quiser almoçar churrasco de cordeiro, há limite para até 8 pessoas, com agendamento prévio e valor a combinar
- Como agendar uma visita – Pelo Instagram novelaria_stamarta ou WhatsApp (55) 99933-9074
- Quanto – R$ 20 por pessoa, para o público em geral. Estudantes têm preço diferenciado. Professores não pagam. Quem quiser almoçar deve combinar antes, com valor pago à parte