Chuvas e granizo dos últimos meses impactam a qualidade e o preço de hortaliças em feiras de Santa Maria

Fotos: Nathália Schneider (Diário)


Os altos volumes de chuva, a ocorrência de granizo e o transbordamento de leitos de rios e arroios registrados no Estado nas últimas semanas têm impactado a agricultura no Rio Grande do Sul. É o que confirmam os últimos relatórios elaborados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), e divulgado em setembro pela  Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) do Estado. 


Na produção primária, as chuvas torrenciais resultaram em sérias perdas, afetando principalmente a horticultura, grãos, frutas e fumo. A olericultura (área da horticultura que trabalha especificamente com o cultivo de hortaliças, ou seja: legumes e verduras) foi duramente atingida, prejudicando quase 200 produtores no Estado. A colheita do trigo também está sob alerta.


Alguns feirantes têm aumentado o preço das hortaliças para tentar reverter o prejuízo causado pelas chuvas


Na região de Santa Maria não é diferente. Na manhã de segunda-feira (15), que registrou alto volume de chuva e nova queda de granizo, a reportagem do Diário foi até uma tradicional feira da cidade, na Rua Professor Teixeira, no Bairro Nossa Senhora de Fátima. Os comerciantes confirmaram os prejuízos em suas produções devido às intensas chuvas, sobretudo na qualidade das hortaliças. 


A alternativa de alguns feirantes para tentar contornar o prejuízo foi aumentar o valor de alguns produtos. A alface, por exemplo, que podia ser encontrada por R$ 2,50 em algumas bancas no fim de agosto, está custando de R$ 3 a R$ 4. 


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Rudinei Stangherlin, 55 anos, comercializa sua produção em feiras desde 1981. Ele ainda não havia verificado a lavoura, ontem, após a nova queda de granizo em Santa Maria, mas teve prejuízo nos outros episódios de chuva.


– Tivemos que subir um pouquinho o preço da rúcula, do agrião e da salsa. A alface continua o mesmo preço, mas está com qualidade muito inferior; até temos sombrite, que ajuda um pouco, mas os clientes reclamam. Algumas folhas batidas não tem como evitar – conta Rudinei.


Dona Miriam comercializa a sua produção há quatro décadas. Ela tem tentado explicar a qualidade e preço atuais dos produtos aos clientes


Miriam Basso Muskopf comercializa sua produção há 40 dos seus 70 anos. Ela reforça que as chuvas e pedras de granizo a prejudicaram muito. Segundo a feirante, ela explica a situação para os clientes e alguns entendem a situação e o preço dos produtos, outros não.


– Minha alface, a couve e o tempero foram muito prejudicados pela chuva e pelas pedras. E com as verduras já é assim naturalmente. Na escassez, o preço sobe bastante. E quando há grande disponibilidade, baixa automaticamente. Acredito que vai demorar ainda para melhorar a situação. Porque as verduras levam 40, 50 dias para produzir, então vai ser difícil enquanto não melhorar o tempo.


APOIO DO CONSUMIDOR

Quem frequenta a feira da Professor Teixeira toda segunda e quinta-feira é a aposentada Marilúcia Cera, de 60 anos. Ela relatou que também visita o Feirão Colonial no Bairro Nossa Senhora Medianeira. O produtor de quem geralmente compra alface perdeu toda a plantação devido ao granizo. Após reformar a estrutura, veio granizo novamente, gerando mais prejuízos. Ela foi à feira do Bairro Fátima em busca da hortaliça em melhores condições de consumo.


– O que deu para observar é que as saladas estão danificadas. E aí quem tem em perfeitas condições, eleva um pouquinho o preço para tentar recuperar o prejuízo. Mas procurando, sempre encontramos. Até porque não são produtores todos de uma mesma região. Mas muitos me falaram que terão que recuperar tudo – diz Marilúcia.


A também aposentada Graciana Pergher, 70 anos, se solidariza com os produtores:

– É muita luta e trabalho para plantar. Não senti muito o aumento dos preços, somente um pouco na verdura. E é muito importante termos na nossa alimentação. Levando em consideração a dificuldade que eles têm passado e a excelente qualidade dos produtos, não tem porque deixar de comprar.

Conforme informativo da Emater para a região de Santa Maria, os produtores de arroz  estão reabilitando o sistema de esgotamento das lavouras e reconstruindo as taipas nas áreas afetadas pelas enchentes. Alguns realizaram a dessecação das áreas, enquanto outros prosseguiram o plantio, especialmente no sistema de plantio pré-germinado. 

O gerente do Escritório Regional da Emater/ RS-Ascar, Guilherme Passamani, confirma o prejuízo maior na olericultura da região, sobretudo nas folhas:


– A incidência de granizo afetou bastante as estruturas, como túneis e plásticos que envolvem estufas. Há bastante degradação desses materiais e, consequentemente, das plantações.


TRIGO

Passamani também atenta para o trigo, que está em época de colheita. Segundo Passamani, o prejuízo também é bastante significativo. As chuvas intensas geram dificuldade de escolher o grão e aceleram a disseminação de doenças fúngicas. Na região, 6% dos grãos já foram colhidos e as perdas registradas até o momento indicam redução de 15% na produtividade das lavouras.


– É uma situação bastante delicada, torcemos para dias melhores em relação às chuvas nos próximos dias. Então, além das olerícolas, estamos em perigo iminente na colheita do trigo, fazendo perícias agrícolas na cultura.


Segundo o gerente da Emater, é difícil estimar o real impacto para os agricultores e na economia por enquanto. Ele aponta que o problema está no início e tende a se intensificar caso ocorram novas precipitações volumosas e quedas de granizo


– Quanto à situação do trigo, estamos começando a acender o alerta agora. No caso das verduras e legumes, leva no mínimo 60 dias para começar a ter uma uma reversão desse quadro, porque já estamos perdendo bastante qualidade nas folhas.


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Bernardo Abbad

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