O ator Carmo Dalla Vecchia, 50 anos, cresceu, amadureceu e se tornou um homem admirado e respeitado pelos conterrâneos santa-marienses, pela crítica e por fãs do Brasil. Afinal, são quase 30 anos de trabalhos dedicados às artes cênicas. A conexão com Santa Maria começou na década de 1980, quando a Cidade Cultura acolheu o pequeno gaúcho, vindo de Carazinho com a família. Aqui, ele se preparou e partiu para dividir o talento e beleza com o resto do país. A Revista MIX propôs uma conversa com a versão 5.0 de Carmo Dalla Vecchia a respeito da vida e do tempo e ele, prontamente, atendeu ao nosso convite. Aliás, ele sempre é atencioso aos chamados vindos do Coração do Rio Grande e admite ter um carinho especial pela cidade que o formou. Ano passado, o artista participou da live do Papo D Cultura, no Instagram do jornal, e do projeto Literatura em Rede, declamando um poema de Drummond.
LEGADO NA TV
Desde que saiu de Santa Maria, o tempo passou e, atualmente, Carmo é protagonista de sua história de sucesso. No íntimo, está em paz com o ritmo em que o tempo está passando, mantém cuidados com o corpo e a mente e é adepto a práticas budistas. Na profissão, é um eterno insatisfeito em busca de aperfeiçoamento e de novos desafios, mesmo tendo uma das carreiras mais consolidadas da televisão brasileira. Ele faz parte de um restrito time de atores que têm no currículo 20 novelas e séries que invadiram os lares de mais de 200 milhões de pessoas, diariamente, em produções da Rede Globo, segunda maior emissora do mundo, da qual ele é contratado há quase 20 anos.
Na telinha, viveu o misterioso Luciano, de Cobras e Lagartos (2006), e o jornalista Zé Bob, em A Favorita (2008). Em 2010, emagreceu 15 quilos e deixou a barba crescer para interpretar o bandeirante Silvério, no seriado A Cura. Em 2011, foi o Rei Augusto de Seráfia, de Cordel Encantado. Recentemente, em 2018, ganhou popularidade com a nova geração como Rafael, em Malhação: Vidas Brasileiras. Antes disso, em 2014, esteve em Império, como Maurílio. A novela está no ar novamente, no horário nobre, em reprise especial relançada nesta semana.
ELE NÃO PARA
Para 2021, Carmo adianta que vai estar na edição especial do Dança dos Famosos, que só terá participantes campeões e vice-campeões do quadro do Domingão do Faustão. Além disso, ele revela que está escalado para a nova novela das 19h, intitulada Cara & Coragem. O eterno galã vai viver um cartunista, que trabalha em casa e cuida dos filhos, enquanto a mulher, vivida por Paolla Oliveira, ganha a vida como dublê de cenas de ação.
TEMPO DE REALIZAÇÕES
Aprender balé era um desejo antigo de Carmo Dalla Vecchia. Concretizá-lo, aos 50 anos, resume a maturidade das escolhas conscientes e deixa a lição de que sempre é tempo para realizar um sonho. Na infância, em Santa Maria, ele se lembra de acompanhar as irmãs até o Colégio Sant’ana e observar, encantado e de longe, as aulas de balé. Isso mexeu com a imaginação dele que, internamente, queria fazer parte e aprender a dança. No contexto daquela época, temeu confrontar a família e os comentários maldosos e se conformou:
– Nunca um menino de 12 anos poderia querer isso, ainda mais no Rio Grande do Sul.
Quase 40 anos depois, Carmo deu início ao sonho e começou a praticar balé e, há três anos, inciou as aulas de piano, outro desejo adiado.
– Com o passar dos anos, podemos ter a cabeça mais livre (para quem cuidou dela), e a capacidade de aprender com o que já passou – reflete.
Com a bagagem de vida, o que o Carmo de hoje falaria ao pequeno Carmo do passado? Ele responde com tranquilidade e sabedoria:
– Carmo… Assim, ó! Vai estudar piano e balé agora! Não espera! As pessoas que poderiam achar que menino não dança balé, não vão ser felizes no seu lugar. E quer saber do pior, a chance de estarem mais infelizes que você é grande. Sabe por quê? Porque elas estão mais preocupadas com os umbigos alheios. E essas mesmas pessoas, quando tiverem 50 anos, vão estar com a cabeça velha reclamando da vida e dizendo que a culpa da infelicidade delas é dos outros. Portanto, bota as sapatilhas e se divirta. Quando você estiver com 50, já vai estar fera – imagina Carmo, que brinca: “Caraca! Por que eu não apareci para mim mesmo aos 18?”.
MATURIDADE
Ao longo dos anos, Carmo admite que mudou a forma de pensar em muitos aspectos, porém, a essência permanece. Ele se descreve como um cara que continua bobo, brincalhão, muitas vezes infantil demais para quem deu conta da sua vida muito cedo:
– A gente aprende com a nossa história, com as nossas cicatrizes e com as alegrias também. Tive a sorte de, há mais de 20 anos, ter iniciado uma prática budista que me deu um mapa humanista. Entendi que a passagem do tempo pode ser e é muito boa. Eu considero o tempo um aliado. Gosto de perceber que ele passa, que as árvores crescem, que as pessoas evoluem, que existem marcas e enxergo essa passagem como uma experiência bonita. Amo ter 50. Que sorte a minha!
Os hábitos criados pelo artista na infância e na adolescência em Santa Maria ainda refletem na vida atual. Por aqui, ele vivia na cidade mas passava os momentos de descanso no Parque Pinhal, em Itaara. Atualmente, ele vive no Rio de Janeiro, mas também mantém um refúgio, uma casa na serra daquela região:
– Confesso que tenho que me cuidar para não virar um eremita plantando árvores, cuidando da natureza e sendo um observador de nuvens, chuvas e montanhas. Também amo chegar em Santa Maria e reconhecer os lugares, as pessoas, o temperamento direto e reto do gaúcho e o orgulho que ele tem do seu trabalho. Isso eu vi poucas vezes na minha vida.
NOVOS PERSONAGENS
Desde a estreia na televisão, como o jovem Durval, em Engraçadinha, em 1995, até o papel mais recente, Paul, de Órfãos da Terra, em 2019, o tempo passou, e Carmo deixou de interpretar rapazes para dar vida a homens.
– Não posso reclamar. Fiz uma transição boa e sempre tive a chance de bons papeis em todas as idades. Tive a sorte de, no teatro, realizar muitos sonhos, como a montagem de 1984, e o pai do Billy Elliot, no musical, há dois anos. Foi um dos melhores personagens que tive a honra de fazer. Se eu fosse mais jovem, não me chamariam.
ARTES EM SANTA MARIA
Aos 30 anos, Carmo produziu o espetáculo 1/4 de Amor, na Cidade Cultura, com atores e diretor daqui. A atividade envolveu os profissionais Leonardo Roat, Cândice Lorenzoni, Patrícia Garcia e Ricardo Paim. Outra memória querida que ele tem desta época, é a do convívio com a cantora Deborah Rosa, que morreu em março deste ano e que, na época, ajudou na produção.
– Foi uma experiência maravilhosa com artistas fantásticos que tive a honra de trabalhar. Deborah Rosa nos ajudou também. Eu já a conhecia, do Parque Pinhal, desde criança. Sua partida deixou um vão em nossas vidas. Linda, talentosa, cantava como poucas. Sua alegria contagiava a todos – relembra.
Apesar do amor pela cidade, Carmo não fecha os olhos para os problemas e critica:
– Foi na época em que produzi essa peça que, infelizmente, percebi que as pessoas podem dar mais valor ao que vem de fora do que aquilo que é criado na sua própria região. Com tantos profissionais sensacionais daí, fiquei chateado ao perceber que o teatro lotava com facilidade quando eu ia a Santa Maria com uma produção de fora e não quando criava oportunidade de trabalho local. Sempre achei que o interior precisa ter mais autoestima. Santa Maria produz talentos maravilhosos, tem universidades fantásticas e um povo que gosta de arregaçar as mangas.
EXPOSIÇÃO
A fama e o sucesso têm significados diferentes. Ambos podem ser consequências do trabalho e da exposição na televisão e nas redes sociais e despertam o interesse do público. Em uma busca no Google pelo nome do ator, entre os primeiros links relacionados estão: “Carmo surpreende de saia e de muleta no Rio” e “Carmo explica suposto namorado e diz que nunca fez nudes”, em sites de fofoca. Sobre a vida privada, o gaúcho é categórico.
– Sou um cara que escolheu não vender sua vida privada em troca de likes ou de dinheiro. E tenho a sorte de ter conseguido seguir assim. Geralmente, dou entrevistas apenas quando são relacionadas ao trabalho ou quando as produções me pedem para divulgar algo. Quando raramente faço, é porque tenho uma razão forte, no caso, aqui, o carinho pelo lugar que me formou. Raramente vou a estreias, não mostro minha casa em revistas de celebridades e nem minha família. Não sou nada crítico com quem faz isso. Cada um tem o direito de fazer da sua vida o que bem quiser, desde que não invada o espaço do outro. Mas, ao mesmo tempo, penso: se alguém vende sua vida particular e ganha dinheiro com isso, é normal que as pessoas queiram acompanhar. Aí ela, eticamente, não deveria ser seletiva. É na saúde e na doença. Quer falar do casamento, vai ter que falar da separação ou da infidelidade. Quer falar do êxito, vai ter que falar do fracasso. E quer saber? Tem muita gente ganhando dinheiro com isso e tá tudo certo. Mas eu não sou essa pessoa.
As imagens que ajudam a contar a história do ator, e que ilustram a reportagem, foram cedidas pelo fotógrafo Victor Hugo Cecatto, que morou em Santa Maria na década de 1980 e 1990. Ele registrou Carmo em dois momentos diferentes da vida, aos 17, em 1987 e aos 47 anos, em 2017.
Foto: Victor Hugo Cecatto
As imagens que ajudam a contar a história do ator, e que ilustram a reportagem, foram cedidas pelo fotógrafo Victor Hugo Cecatto, que morou em Santa Maria na década de 1980 e 1990. Ele registrou Carmo em dois momentos diferentes da vida, aos 17, em 1987 e aos 47 anos, em 2017.
VÍDEO: artista fala da maturidade e liberdade conquistada ao longo da carreira
ATUALIZAÇÃO DISPONÍVEL
O ator Carmo Dalla Vecchia comentou e atualizou respostas que ele havia dado em antigas entrevistas, concedidas ao jornalista Cassiano Cavalheiro e publicadas no Diário.
Preconceito:
Preconceito é ignorância, né? É não ter habilidade de enxergar o outro, de escutar o outro, de ter empatia. Preconceito, geralmente, está relacionado com desinformação” (Carmo/2017)
MIX – Que assuntos você acha que mereceriam ter mais destaque na mídia? Tem alguma causa pela qual você usa a sua fama e influência para levar informação ou identificação às pessoas?
Carmo – Temos muito temas que estão sendo discutidos exaustivamente. Um retrato fiel disso é o BBB. Acho ótimo. Tem horas que tudo é muito, muito, muito. Mas faz parte do processo essa presença maçante dos temas. As minorias sofreram (e sofrem) por falta de empatia e chegou a hora de escutarmos essas vozes. Se, para alguns, isso está sendo exagerado e chato, é melhor se acostumarem. Muita gente apanhou calada e teve seus direitos extorquidos. Chegou a hora de ouvirmos e assumirmos nossa responsabilidade, inclusive, a responsabilidade do silêncio. Chega de piadas racistas, preconceituosas, de não aceitar o cabelo ou a orientação sexual dos outros, ou de achar que as mulheres devem ganhar menos. Alguns exageros farão parte e é isso mesmo… Faz parte do ajuste e o diálogo é o único remédio. Como diria nosso amigo Exterminador do Futuro e ex-Governador da Califórnia: “No Pain, No Gain” (sem dor, não há crescimento).
Sucesso
Sucesso é ter bons amigos, harmonia familiar, condições básicas que te possibilitam ter saúde, alimento, casa. Isso é sucesso. As pessoas confundem muito a palavra sucesso com algo que tem relação só com a questão profissional. Ser realizado profissionalmente é, sem dúvida, muito bom, mas não é a razão da felicidade absoluta de ninguém. Sucesso é muito mais do que isso. É você ter condições de ouvir o outro. De ter a cabeça aberta ao outro” (Carmo/2017)
MIX – Hoje, aos 50 anos, o que é importante para você? Para que você dá valor que, talvez, antes, você não dava muita bola?
Carmo – Essa resposta eu copiaria a mesma de 2017.
Política
Falta para o Brasil vergonha na cara para nossos políticos. E, mais do que isso, aprender a votar, né? A gente precisa chamar essa responsabilidade para as nossas mãos e não achar que a culpa é dos outros. Se eles estão lá, quem os elegeu fomos nós. Então, temos de sair da posição de vítimas do que está acontecendo e se colocar no jogo de maneira mais ativa, tentando ver o voto de uma forma mais humanista do que uma causa só de proveito próprio (Carmo/2017)
MIX – Após essa resposta, você acha que o Brasil aprendeu a votar (2018 e 2020)? Como você vê o cenário político e social atual? Ano que vem, temos eleições. O que você espera?
Carmo – Estou em pânico! Vamos torcer para surgir alguém que ame o país acima dos seus próprios interesses políticos ou familiares. E com tantos escândalos a sensação de impunidade que temos é assustadora. Seja pra esquerda ou pra direita. Aqui no Rio tínhamos um governador que foi afastado por aparentemente ter roubado da saúde em meio à pandemia. Foi aí que pensei: “Sou budista e não acredito em inferno da maneira como a maioria das pessoas acredita, mas se essa pessoa realmente cometeu esse crime e se existisse fila para esse inferno que as pessoas acreditam, esse governador ocuparia um dos primeiros lugares dessa fila, junto com uma galera barra pesada fortemente armada que anda solta por aí.
MIX – Você pretende trabalhar até quando? Pensa em parar?
Carmo – Não sei “não trabalhar”, mas para mim não é trabalho, é onde eu me divirto e sou feliz. Mas fazer teatro para mim é sempre uma negociação com o risco e com o pânico. Tenho uma fascinação ao mesmo tempo que a boca seca e o coração dispara. Acho que ator que perde o medo não é mais artista. Tenho um amigo que sempre me falou que para você crescer, você precisa correr no sentido do seu medo e eu tenho feito isso desde 1993. Também acho que todo ator tem uma missão muito importante. Todos nós artistas temos a chance de fazer as pessoas pensarem melhor ou de forma diferente e de quebrar seus padrões. Isso acho que só se consegue com a experiência artística. Quando alguém assiste a um bom filme ou escuta uma linda canção ou vê uma obra e ela toca seu coração, alguma coisa se agita por dentro e isso dá início a um certo movimento, porque é assim que funciona, o mundo é sempre o mesmo, o que muda é a nossa maneira de vê-lo. A arte te faz querer ser melhor, te reconstrói.
MIX – Como está sua vida um ano após a pandemia?
Carmo – Tudo mudou em fases. Passei os primeiros quatro meses, a partir de março de 2020 refugiado na minha casa na serra, voltei para o Rio e na minha casa todos pegaram Covid em Setembro, eu fui o único com sintomas mas, em 5 dias, estava passando bem apesar da falta do olfato e paladar, que voltaram em duas semanas a todos. Agora o pânico voltou, acredito eu, ao lar de todos nós. Paulo Gustavo é um exemplo de alegria para nosso país e saber que ele pode estar em risco me deixa profundamente triste. Saber que tantas pessoas partiram e o quanto essa doença trouxe de medo a todos nós é muito triste e está durando muito. Pessoas estão partindo de forma direta e indireta com a Covid, e até hoje não sabemos direito qual é a postura correta diante de tudo que está acontecendo, afinal o Lockdown feito de qualquer jeito também ceifa vidas. A diferença é que essas vidas não são computadas nas estatísticas da Covid. No começo, me relacionava ainda presencialmente com professores que já tiveram Covid, mas depois vieram novas cepas e descobrimos – aparentemente – que a janela imunológica desaparece em alguns meses. Tudo ficou virtual então e pelo menos para mim que sou privilegiado com celular e wi-fi, tudo funciona bem. Acho que nunca mais voltaremos a nos relacionar da mesma maneira que nos relacionávamos antes da Covid.
MIX – Você acredita que o cenário vai mudar e a vida voltar ao normal em breve?
Carmo – Sou um cara com muita fé, tenho participado de muitas atividades budistas nesse período e acredito que circunstâncias como essa tem a potencialidade de deixar a gente mais forte. Acho a Covid uma excelente oportunidade para pensarmos na relação que o mundo está tendo com seu meio ambiente. Não tenho certeza se essa doença veio do morcego ou do porco, mas certamente todos nós deveríamos pensar melhor na nossa conduta com tudo que está vivo. Acredito que o que está do lado de fora é um reflexo do que carregamos dentro de nós e se o que está acontecendo na nossa vida não está legal, cabe a todos nós investigarmos o que andamos fazendo com nossos pensamentos, palavras e ações. Como estamos dirigindo nossa energia para aquilo que está em nossa volta? Tenho fé de que em uns três meses se conseguirmos ser vacinados, nós estaremos melhores. Falo isso observando os países que conseguiram as vacinas e que diminuíram de maneira consistente os mortos e contaminados. Até o dia de hoje Israel vacinou 60% e a Inglaterra 48% e os números caíram. Espero que isso seja realmente resultado da vacina e não do término de uma das ondas. Foco na luz, mas confesso que nos dias de hoje, acredito eu por uma questão saúde + política, existem muitas pessoas focando na sombra e querendo lucrar com isso.
MIX – Ficar em isolamento em casa há um ano é uma questão (um problema) para você ou você lidou bem com isso?
Carmo – Acho que é uma questão para todos nós. Por mais que você goste da sua companhia – o que eu acho muito saudável -, tantos mortos se tornam uma conta muito alta para todos. Essas pessoas que partiram não são estatísticas, tinham parentes e amigos e eram amadas por um grupo de pessoas que sofreu e sofre por suas perdas. O mundo entristeceu e vai precisar muito de todos nós depois desse pesadelo para fazer as coisas ficarem melhores.
MIX – Como você lida com a morte?
Carmo – Um pouco antes dessa pandemia perdi meu pai e estava fora do país sem conseguir voltar a tempo para dar adeus. Tive uma história muito bonita com ele. Nunca fomos muito próximos. A história do meu pai com o pai dele foi difícil e isso acho que respingou em mim. Durante alguns anos, orei muito para amar meu pai e acredito que consegui revolucionar essa história com ele. Tive a chance de cuidar dele algumas semanas antes dele falecer e eu o colocava em sua cadeira de rodas e, sempre para conseguir fazer isso, eu precisava abraçar ele e colocar seus braços em volta do meu pescoço. Saibam que esses foram alguns dos melhores abraços que eu pude dar na minha vida. Os abraços mais preciosos eu dei nele, os mais sensíveis, a princípio o que poderia ser constrangedor se tornou um gesto muito amoroso. Quando ele partiu, eu comecei a sentir dores no peito e pensei que estava com algum problema cardíaco. Quando voltei ao Brasil, fiz vários exames e constatei que estava ótimo. A dor que eu sentia era a tristeza da perda. Conto isso para dizer que depois de tantas perdas, vamos precisar nos abraçar muito e nos escutar muito e termos muita empatia com aquilo que não é só do outro, é de todos nós.
MIX – Você usa muito suas redes sociais? Interage com os fãs?
Carmo – Eu fui um dos primeiros a ter Instagram porque sempre gostei demais de fotografias e já me dediquei alguns períodos trabalhando com isso. E acredito que as pessoas que me seguem e gostam de mim, não necessitam que eu fique dando satisfações da minha vida particular a um universo virtual que nem sempre é fofo. Tem muita gente solitária nas redes. Eu estaria sendo inocente demais ou carente demais. Agora o mais contraditório disso é que eu respondo a todos directs que recebo. Já fiz amigos e amigas que saíram da plataforma virtual do Insta e me vejo, as vezes, tendo longas DRs com desconhecidos, trocando receitas, falado de política, leituras e já dei muito conselho amoroso. Devia ganhar dinheiro é com isso. Se eu te contasse as histórias, você iria querer escrever um livro, mas sou fiel ao anonimato deles. Talvez em algum momento da minha vida eu resolva levantar alguma bandeira, seja ela qual for, porque entendo que isso pode ser muito importante para muitos que tenham ou não afinidade com a minha história, mas esse momento não é agora.