
Foto: Beto Albert (Diário)
Baixo nível dos açudes em Santa Maria no mês de janeiro de 2025
A seca que atinge o Rio Grande do Sul neste verão já mostra seus efeitos: pelo menos 24 cidades da Região Central já decretaram situação de emergência por causa da estiagem até segunda-feira (3), inclusive Santa Maria.
A falta de chuva neste mês já alcança um recorde histórico: esse é considerado o janeiro mais seco dos últimos 20 anos na cidade. Os dados são do meteorologista Gustavo Verardo, da BaroClima Meteorologia.
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A estiagem causa diversos efeitos, desde a falta de distribuição de água até prejuízos em plantações. Para tentar explicar esse cenário, o meteorologista analisou os acumulados de chuva nos meses de janeiro de duas estações da cidade: do Perpétuo Socorro e do Inmet, em Camobi. A média esperada para janeiro deste ano era de cerca de 166 mm.
Ao olhar para o gráfico da estação do Perpétuo Socorro, é possível perceber que, desde o dia 1º até 27 do mês passado, foram registrados somente 7 mm de chuva, sendo considerado o janeiro menos chuvoso em pelo menos 20 anos. Os dados são contabilizados desde 2006, ano em que a estação foi instalada na cidade.
Logo depois, aparece o ano de 2016, com um quantidade sete vezes maior, de 76 mm. No mesmo período de 2024, por exemplo, foram registrados cerca de 87 mm. O ano mais chuvoso foi 2010, com mais de 500 mm. Confira abaixo:

Do outro lado da cidade, em Camobi, os acumulados sobem um pouco mais, mas seguem bem abaixo da média, tendo janeiro de 2025 como o mês mais seco da série, com pelo menos 17 milímetros registrados desde 1º até o dia 27. Os dados são contabilizados desde 2006, ano em que a estação foi instalada na cidade.
Aqui, o período de 2024 vem na sequência, 62 mm. Na mesma situação que o Perpétuo Socorro, 2010 foi o ano que registrou a maior quantidade de chuva, de acordo com a estação: 405 milímetros. Confira:

Verardo afirma que uma das explicações para esse janeiro ser tão seco é a migração da chuva expressiva para as áreas centrais do Brasil e a forma como a atmosfera está respondendo:
– Os grandes registros de chuva estão concentrados nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. Esse é o que chamamos de efeito compensatório: chove mais em uma área e outra parte do país, que é caso do Rio Grande do Sul, está seco. Como estamos em uma condição de neutra a levemente resfriada, não estamos sob efeito da La Niña, mas a atmosfera está respondendo como se fosse o efeito de uma La Niña fraca.
Em janeiro de 2024, por exemplo, o cenário era diferente. Em meados do dia 16 daquele mês, a região foi atingida por um forte temporal. Ou seja, a chuva era intensa naquele momento.
– Ano passado não, pois a gente tinha características diferentes na atmosfera, com a atuação forte do El Niño em janeiro. Consequentemente, naquele cenário, tivemos chuva acima da média – explica Verardo.
Chuvas convectivas são o registro do verão
O meteorologista explica que passamos por um período de chuvas convectivas, que são precipitações irregulares em diferentes pontos da cidade. Enquanto um bairro pode registrar uma forte pancada, outro sequer chove. O verão é marcado por esse fenômeno.
– O Perpétuo Socorro, localizado próximo à escarpa do planalto (relevo dos morros), na Zona Norte, registra mais chuva do que outros bairros. Áreas com relevo mais acidentados são mais favoráveis para enxurradas de verão. Isso influencia diretamente na ocorrência de chuva convectiva. Já Camobi possui um relevo plano. Por isso, não chove de forma uniforme em toda a cidade. Essa é a marca deste verão: atinge um bairro, e outro não.
A previsão de Verardo é que o cenário melhore a partir da metade de fevereiro, quando estão previstas chuvas mais fortes para a região central do Estado.
Cidades da região também sofrem em janeiro
Além de Santa Maria, outras cidades da região também registram chuva abaixo do esperado no mês de janeiro. Gustavo Verardo faz uma análise de cinco municípios que possuem a estação do Inmet: Caçapava do Sul, Santiago, São Gabriel, São Vicente do Sul e Tupanciretã. Desses, quatro deles já decretaram situação de emergência.
Caçapava do Sul
Até a tarde de segunda (3), Caçapava do Sul não figurava na lista dos municípios que assinaram o decreto de emergência. Porém, pelo gráfico, é possível perceber que o mês de janeiro de 2025 registrou menos chuva que os demais, com cerca de 24 milímetros. Os dados são contabilizados desde 2007, ano em que a estação foi implementada na cidade.
O segundo janeiro menos chuvoso foi em 2022, mas com praticamente o dobro de acumulados: 48 milímetros.

Santiago
Na tarde do dia 24 de janeiro, o prefeito Marcelo Pirú (PP) assinou o decreto de emergência. Em entrevista ao Diário, relatou que os prejuízos passavam dos R$ 200 milhões. Pelo gráfico, janeiro deste ano registrou 59 mm de chuva, sendo o segundo menos chuvoso da série desde 2011- quando a estação meteorológica foi implementada. O mês mais seco foi 2023, com acumulados na casa dos 35 mm.

São Gabriel
O decreto de emergência foi assinado na tarde do dia 24 de janeiro. Segundo divulgado pela prefeitura do município, os prejuízos passavam dos R$ 200 milhões no setor agropecuário. Janeiro deste ano é o terceiro menos chuvoso da série desde 2008 - quando a estação meteorológica foi instalada na cidade -com um pouco mais de 50 milímetros. Em primeiro lugar está janeiro de 2012, que registrou menos de 20 mm de chuva.

São Vicente do Sul
Com decreto de emergência assinado na segunda (3), São Vicente do Sul possui o janeiro mais seco desde a série de 2017 - quando a estação do Inmet foi instalada na cidade - com 38 milímetros. O gráfico que mostra que os dois últimos anos vêm logo depois: janeiro de 2023 com 82 mm e janeiro de 2024 com 96 mm. O maior acumulado foi registrado em 2019, com mais de 430 mm.

Tupanciretã
O decreto de emergência foi assinado no dia 23 de janeiro, com grandes perdas na agricultura, principalmente na soja por causa da falta de água. Reflexo disso são 65 mm de chuva que caíram em janeiro deste ano na cidade, sendo o segundo mês mais seco na série desde 2017 - período em que a estação meteorológica foi instalada. O janeiro mais seco é o de 2023, quando choveu 46 mm.

Outras cidades em situação de emergência na região
Até a tarde de segunda-feira (3), cerca de 21 cidades da região estavam com seus decretos oficializados. São eles: Santa Margarida do Sul, Tupanciretã, Rosário do Sul, Cacequi, Santiago, Silveira Martins, Júlio de Castilhos, Jari, Toropi, Vila Nova do Sul, Nova Esperança do Sul, São Francisco de Assis, Unistalda, Itacurubi, Quevedos, Mata, São Gabriel, Jaguari, Santa Maria, São Pedro do Sul e Dilermando de Aguiar.
Além disso, outros três já assinaram o decreto, mas aguardam homologação por parte do governo do Estado: Itaara, São Sepé e São Vicente do Sul. Os dados são da Defesa Civil do Estado e das prefeituras municipais.
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