Do alto do Cerro Comprido, a cidade de Faxinal do Soturno é vista de uma forma única. Mais do que beleza, a paisagem entrega à comunidade e aos turistas os rastros dos dinossauros e da história da humanidade. É na Quarta Colônia, composta por nove municípios da Região Central, que as espécies mais antigas de dinos foram descobertas.
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O local é só um dos pontos turísticos do Geoparque Global Quarta Colônia, que há pouco mais de um ano é reconhecido pelo selo da Unesco. A certificação trouxe reconhecimento, investimento e, acima de tudo, mais turistas para a região, como Brian Lofeudo, 33 anos, e Luciana Garcia, 31, que moram em São Leopoldo. O casal aproveitou uma tarde de sol para conhecer o Cerro Comprido. E a rota estava apenas começando.
– É a primeira vez que venho, e o lugar é muito lindo. E a igreja é espetacular. Agora, a nossa ideia é visitar museus e as cascatas – comenta Luciana.
Na entrada de pontos turísticos, como o Cerro Comprido, placas sinalizam que o trajeto foi o mesmo feito por animais que viveram na região há milhares de anos. A “rota do dinossauros”, como sinaliza uma delas, passa a impressão de que tudo é história, a cada passo. O trajeto até lá, que contorna o verde do morro, dá indícios do ponto de chegada. Antes do cerro, um mirante, que mostra a paisagem por outro ponto de vista. No entorno, a presença marcante, também, da Igreja de Ermida São Pio, que revela as crenças dos faxinalenses.
Antes do selo
Os locais são os mesmos há décadas. O que muda são os investimentos, a conservação e as histórias que cruzam o local, conforme Andreia Brondani, dona da agência de turismo Viaggio Quarta Colônia. Quando a empresa foi criada, há 24 anos, a possibilidade de rotas era limitada e concentrada, especialmente, nas igrejas e produtos. Para ela, um importante divisor de águas, em relação ao fluxo turístico, foi a construção das Termas Romanas, no distrito de Recanto Maestro, em Restinga.
– Tínhamos uma Quarta Colônia ainda muito crua. Existia a fundação (Antonio Meneghetti), mas não tínhamos todo esse desenvolvimento que temos hoje. Então, lá atrás, trazíamos as pessoas para conhecer a nossa cultura, a nossa gastronomia, os nossos costumes, as nossas igrejas. Sempre pensando nos nove municípios, na ideia de que um complementa o outro – afirma a agente de turismo.
Investimentos
Com o passar dos últimos anos, conforme Andreia, houve o aumento de investimentos na região, como o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa) da UFSM, criado em 2003, que anualmente recebe 5,5 mil visitantes de todos os Estados brasileiros e outros 25 países do mundo. O mais recente investimento foi anunciado pela empresa santa-mariense Vortica by GR – Desenvolvedora Imobiliária, que vai investir em um projeto no distrito de Recanto Maestro, entre Restinga Sêca e São João do Polêsine. Com investimento de R$ 62 milhões, o condomínio residencial Almai terá, inicialmente, uma torre de 10 andares com 93 apartamentos e casas, com previsão de ser concluída em 2027. O projeto vai prever uma segunda torre. Além disso, vários empreendedores locais e de Santa Maria abriram pequenos e médios negócios, como restaurantes, pousadas e produção de artesanato e alimentos coloniais na região.
Na visão de Andreia, apostas como o Cappa e o futuro condomínio residencial Almai confirmam o potencial turístico da região e ampliam as possibilidades de rota pela Quarta Colônia:
– Hoje, nós temos uma demanda turística muito grande na região. E esse fluxo turístico traz muito desenvolvimento, em termos de muitos empreendimentos abrindo. O geoparque vem trazendo todo esse fortalecimento, porque a gente entende que esse selo é importante para a nossa região em termos de visibilidade.
Assim, os investimentos, aliados à curiosidade sobre os costumes da Quarta Colônia, têm aumentado de forma significativa o fluxo de turistas da região. As tradicionais festas de comunidade, os pequenos empreendimentos e locais como o Cerro Comprido nunca mais foram os mesmos, conforme explica Clóvis Montagner, prefeito de Faxinal do Soturno e integrante do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (Condesus):
– Em função do geoparque, a Quarta Colônia teve uma superexposição. Nós nunca tivemos uma exposição desse tamanho. Logicamente, isso desperta o interesse das pessoas. As nossas festas comunitárias têm públicos muito maiores do que nos últimos anos, nós recebemos excursões de diversos lugares. E é interessante isso. Pessoas que vêm e querem saber o que tem na Quarta Colônia, que querem nos visitar, conhecer a região.
O que é Geoparque Global Unesco?
- Os geoparques são territórios (regiões) de um ou mais municípios, reconhecidos como regiões que possuem importância científica, cultural, paisagística, geológica, arqueológica, paleontológica e histórica únicas. Há vários geoparques nacionais, mas somente 6 no Brasil são reconhecidos mundialmente, pela Unesco. Nesses locais, a Memória da Terra é preservada e utilizada de forma sustentável para gerar desenvolvimento para a sua comunidade
- O geoparque Quarta Colônia recebeu esse título da Unesco porque tem algo único no mundo: é o berço dos mais antigos dinossauros da Terra. Já o de Caçapava é por ter rochas únicas no planeta, de 500 a 600 milhões de anos, sendo uma espécie de meca da geologia
- Um geoparque é composto por vários geossítios, que geralmente são pontos turísticos, como um mirante em uma montanha, uma formação rochosa rara, como a Pedra do Segredo, ou um centro de pesquisa e exposição de fósseis, como o Cappa, onde podem ser vistos os fósseis dos mais antigos dinossauros do planeta
- O certificado da Unesco foi dado a 200 geoparques em 40 países
- No Brasil, são agora 6 geoparques Unesco: Araripe (Ceará), Seridó (Rio Grande do Norte), Caminhos dos Cânions do Sul (entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina), Quarta Colônia e Caçapava do Sul, aqui na região, e Uberaba, em Minas Gerais. Há outras regiões do Estado e do país se preparando e se candidatando para tentar o selo da Unesco também
O que é a Unesco?
- É a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Criada em 1945, após a 2ª Guerra, a Unesco teve como principal objetivo reduzir o analfabetismo no mundo e contribuir para a “construção da paz”, reduzindo a pobreza. Depois, criou um braço focado na preservação dos patrimônios históricos, culturais e naturais do Planeta. Entre os patrimônios culturais da humanidade com selo da Unesco no Brasil, estão as Ruínas de São Miguel das Missões. As Cascatas do Iguaçu, no Paraná, são patrimônio natural da humanidade reconhecido pela Unesco
- Nas últimas décadas, a Unesco criou o programa de geoparques mundiais, que passaram a ser vistoriados e, após aprovação, reconhecidos como Geoparques Globais Unesco
O que a Quarta Colônia tem que as outras não tem
Demorou quase duas décadas para que Edson Julis Moro, agora com 47 anos, descobrisse uma cascata na propriedade da família. De lá para cá, encontraram um ponto de diversão e, sobretudo, uma potencialidade para a região. A experiência começa no trajeto, percorrido mata a dentro. São aproximadamente 300 metros de trilha até o encontro com a água cristalina e a rocha no formato de “cara de índio”, que dá nome a cascata.
– Teve um aumento muito significativo da procura no último ano, com o geoparque. Para mim, como proprietário, é muito gratificante porque eles chegam e saem encantados. São muitos elogios. E os espaços para se molhar, tem bastante – afirma Edson.
Atualmente, a Cascata Cara de Índio recebe cerca de cem turistas por fim de semana. Cada um deles, para Edson, é essencial para valorizar e desenvolver a região. Além do aumento significativo no número de visitantes, para o proprietário, o geoparque também trouxe investimentos importantes que potencializam, cada vez mais, o turismo nas cidades que compõem a Quarta Colônia:
– Eu não vejo outros empreendimentos como concorrentes, são parceiros por causa que tem público para todos. Cada lugar tem sua beleza única.
Outros locais que vale a pena conhecer
- Monte Grappa (Ivorá)
- Associação Remanescentes Quilombolas Acácio Flores (Dona Francisca)
- Mirante do Cerro Comprido (Faxinal do Soturno)
- Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica - Cappa (São João do Polêsine)
- Monumento do Imigrante Italiano (Silveira Martins)
- Centro da Figueira (Agudo)
- Estação Férrea de Restinga Sêca
- Usina Hidrelétrica de Itaúba (Pinhal Grande)
- Balneário Municipal Atílio Aléssio (Nova Palma)