
Arquivo pessoal
Foto cedida pelo sobrinho Cleber compara Inah atualmente e na juventude.
O reconhecimento de uma vida dedicada à espiritualidade e bondade. É assim que avalia a família de Inah Canabarro Lucas, 116 anos, sobre o título de pessoa mais velha do mundo, validado no começo deste ano. A freira, que vive atualmente na capital gaúcha, é natural de São Francisco de Assis e tem histórias de ensinamentos pela região.
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Sobrinho da supercentenária, Cleber Vieira Canabarro Lucas, 84 anos, conta sobre a trajetória dedicada a ensinar. A família acredita que o segredo da longevidade se deve à bondade, bom-humor e otimismo:
— A dedicação ao seu propósito de vida e a espiritualidade são características marcantes dela — afirma.
Raízes assisenses
O início da longeva história tem raízes na fazenda de seus pais, João Antonio Lucas e Mariana Canabarro, no 2º Distrito de São Francisco de Assis, na localidade de Passo do Leão. Apesar dos documentos datarem 8 de junho, Inah nasceu, conforme relata o sobrinho, em 27 de maio de 1908. Nesta época, ainda no século 20, era comum esse tipo de divergência, tanto pela precariedade dos registros quanto pela distância a ser percorrida até um cartório, geralmente na área urbana dos municípios. Por isso, a data de registro, 13 dias após o nascimento, é a que leva na certidão de nascimento.
Era a mais moça de uma família de sete filhos de sangue e outros dois adotados. Na juventude, havia preocupação por conta de seu porte físico. O sobrinho conta a história que desafiou o futuro:
— Quando ela era pequena, era muito magrinha. O seu padrinho, na época, disse ao seu pai: “compadre, não me leve a mal, mas essa guriazinha deve ser doente e se prepare, pois, infelizmente, acho que não vai durar muito". E hoje quem diria, com 116 anos.
No sangue e sobrenome, heranças de antigos farroupilhas. Inah é sobrinha trineta do general David Canabarro, um dos líderes da Revolução Farroupilha (1835-1845).
No pequeno município de 17,6 mil habitantes, a futura freira viveu até por volta da década de 30, como conta o sobrinho Cleber. O pai João Antônio morreu em um combate durante a Revolução de 23, como foi chamada a guerra travada em 1923 no Rio Grande do Sul, entre chimangos e maragatos.
Com a viuvez, a mãe Mariana se mudou com os filhos para a fronteira com o Uruguai, e escolheu Santana do Livramento, terra onde está enterrado o trisavô farroupilha para fixar morada.
Sobre o local onde havia a antiga fazenda dos Canabarro, não foi encontrado registro recente em São Francisco de Assis.
Vida dedicada ao ensinamento
Ainda jovem, Inah se tornou professora e percorreu diferentes localidades levando ensino das áreas de português, matemática, ciências, história, arte e religião. Deu aulas em colégios da congregação católica, como o Santa Teresa de Jesus, no Rio de Janeiro (RJ), além de Itaqui e Santana do Livramento. Nesse último, foi madre superiora e responsável pela criação da banda marcial do colégio, com 115 instrumentos musicais.
Em reconhecimento à trajetória profissional, a supercentenária recebeu, em 2022, o título de Imortal e Sócia honorária da Luso-Brasileira de Letras do Rio Grande do Sul (ALBL-RS).
Como vive a pessoa mais velha do mundo
Torcedora fervorosa do Internacional, Inah reside na cidade sede de seu time do coração. Abrigada na Casa de Acolhida Santo Enrique de Ossó, da Companhia Santa Teresa de Jesus, em Porto Alegre, ela coleciona camisas oficiais do clube com seu nome e número de anos de vida, presenteadas pelo Inter e amigos, além de colchas, toalhas, chinelos, mantas, quadro e relógio.
—Tudo isso faz seu quarto de dormir ficar num colorido vermelho digno de uma colorada fiel — conta o sobrinho Cleber.
Apesar da mínima visão e audição, já defasada pela avançada idade, Inah não tem problemas de saúde e passa os dias fazendo orações, pinturas em toalhas, em panos de prato e jogando paciência com baralho e canastra com outras freiras amigas.
— Ela foi internada duas semanas atrás por causa de dores. Mas os exames apontaram que ela não tem nenhuma doença, algumas dores são em função da idade dela, o sistema já não é o mesmo com 116 anos.
Cleber, que a visita regularmente, diz que Inah mantém o bom-humor e otimismo de sempre e não se afasta da espiritualidade.