O carinho e a solidariedade dos santa-marienses tentam amenizar um pouco a dor de uma família. Em 1º de maio, um deslizamento de terra atingiu a casa onde o zelador Robson da Rocha, 47 anos, e a família moravam há 22 anos na Rua Canário, no Bairro Itararé. O episódio resultou na morte da esposa, Liane Ulguin da Rocha, 45, e da filha, Emily Ulguin da Rocha, que completaria 18 anos no dia 6. Pouco mais de um mês depois, um sonho antigo da esposa e da filha foi concretizado. Na manhã desta segunda-feira (3), uma casa foi doada para Robson e os filhos Jackson e Giandre, possibilitando uma nova chance de recomeçar.
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Um ato de fé, amor e esperança
Na presença de autoridades e representantes da empresa BK Construções, responsável pela doação, uma casa localizada no Residencial Montebello V, no Bairro Diácono João Luiz Pozzobon, foi entregue a Robson. O ato simbólico, que marca a história da família Ulguin da Rocha, foi cercado de olhares emocionados e por pessoas que torcem para pai e filhos se reerguerem.
– Tudo que acontece na nossa vida tem um propósito. O que eu mais queria era que estivéssemos nós cinco em um lugar que pudéssemos estar seguros e felizes. Nesse momento, minha esposa e minha filha estão lá no céu e sei que estão muito felizes. Estamos de passagem nessa terra e logo, vamos nos encontrar. Quero agradecer todo mundo porque se não fosse por eles, eu não sei o que seria da minha família – afirma o zelador durante o ato.
A assinatura do documento foi acompanhado pelo prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom (PSDB). Emocionado, ele falou sobre a doação:
– É algo muito simbólico para todos nós. A chuva levou a casa do Robson, a filha e a esposa, mas ele está aqui. Então, é um grande exemplo. Nós tínhamos a determinação de que a primeira casa seria dele. Ele é um símbolo para nós.
Em poucos minutos, as chaves da residência estavam nas mãos dos novos proprietários. A casa, composta por sala, cozinha, dois quartos e banheiro, está quase pronta para receber a família. Nos próximos dias, as arquitetas Caroline Maffini e Caroline Moraes, responsáveis pelo projeto urbanístico do loteamento, pensarão na disposição dos móveis e layout do espaço para receber a mobília.
O sócio da BK Construções, Bernardo Brondani, conta que a empresa tinha o desejo de auxiliar não só com valores ou casas a preço de custo. Foi quando, em reunião, decidiram doar a residência para que a família pudesse morar em segurança:
– Nós pensamos como poderíamos ajudar dentro do nosso ramo. Então, fomos atrás de casas que estavam à venda e tomamos a decisão de doar. Foi a forma que encontramos de apoiar ainda mais essa campanha e a família do Robson. Esperamos também que as pessoas se sintam movidas por isso.
O sonho de Liane e da Emily
Com carinho, Robson lembra das mudanças de casas feitas com a Liane, com quem foi casado por 25 anos. Antes de morar na Rua Canário, a família chegou a residir no Bairro Patronato. Segundo ele, antes do acidente, o desejo da família era viver em um lugar com mais segurança:
– Sempre queríamos ter saído desse lugar, mas não tínhamos condições financeiras. Conversamos muito em sair porque sabíamos que não era seguro. Eu falava para elas que a casa na Rua Canário estava semi-pronta, mas eu nunca tive o desejo de terminar. A minha ideia era que, no futuro, comprássemos uma casa em outro lugar.
O recomeço de Robson, Jackson, Giandre
Após o acidente, ele e os filhos Jackson e Giandre Ulguin da Rocha, 24 e 20 anos, respectivamente, foram morar na casa de parentes no Bairro Lorenzi. Segundo Robson, a família resolveu permanecer morando no bairro após ser contemplada pelo programa Aluguel Social. Mas o destino tinha outros planos. No sábado (1º), Robson foi comunicado sobre a doação.
– É bom voltar a ter um lar. Esse era o sonho da minha esposa e da minha filha antes de morrerem. Não está sendo fácil essa perda. No momento, toda a família está ao meu redor. Conto com o apoio dos moradores do prédio onde trabalho, além de outros. Várias pessoas estão me ajudando, dando-me apoio para tentar recomeçar – comenta ele.
O filho mais velho de Robson, Jackson lembra com carinho do convívio com a mãe e a irmã. De acordo com ele, Liane gostava de organizar os passeios, fortalecendo o elo entre a família:
– Nossa expectativa agora é seguir a vida um ao lado do outro. Sempre fomos uma família muito unida. Elas (Liane e Emily) sempre brincavam e adoravam passear. Mesmo sem condições, dávamos um jeito, sempre prezando pelos momentos em família.
Em meio à ausência, Giandre agradece o carinho e a rede de apoio que se formou em Santa Maria:
– Não sei o que dizer. Só agradeço! No momento, é seguir em frente. Não é fácil com a ausência das duas, mas vamos tentar.
A doação da residência faz parte da Campanha de Doação Solidária do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) em parceria com a prefeitura. No dia 30 de maio, o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) estava de aniversário e pediu de presente um Pix solidário ao Sinduscon para ajudar as famílias afetadas pelas chuvas.
*Colaborou Arianne Lima
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