
Paulo Pinto/Agência Brasil
Chega de um avião da FAB em São Paulo (SP), em novembro de 2023, com brasileiros resgatados da Faixa de Gaza.
Apesar de já estar em vigor o acordo cessar-fogo entre Israel e o grupo Hamas, especialistas apontam que a guerra na Faixa de Gaza está longe do fim. O conflito armado matou 46.788 pessoas em 15 meses, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), José Renato da Silveira, o pacto envolve negociações de reféns e prisioneiros, favorece a ajuda humanitária e a desocupação de espaços, mas não assegura o fim da guerra.
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– Gaza está completamente devastada. A guerra está longe do fim, longe do desfecho. Vai ter novos desfechos. Isso é de fato a política do poder atuando – afirmou em entrevista ao programa Bom Dia, Cidade! da Rádio CDN 93.5 FM, desta segunda (20).
O especialista afirma que a conclusão é baseada em análises do contexto mundial, após mais de um ano do começo do conflito e por meio de resultados de confrontos anteriores. Segundo ele, há interesse de grandes potências, países árabes e o próprio Israel. Mas é importante considerar, que contra a paz, está o faturamento da indústria bélica. Empresas dos Estados Unidos, por exemplo, lucraram bilhões de dólares com a guerra, segundo professor. Por isso, o fim do conflito desinteressa às grandes empresas, que podem ter diminuição de receita com venda de armamentos.
– Há dados que mostram que, em 2024, as maiores empresas do ramo faturaram 18% a mais por conta do conflito, somado à guerra entre Rússia e Ucrânia. Para eles, o cessar-fogo não é bem-vindo.
Por este motivo, a instabilidade dos dois grupos rivais, há chance das negociações falharem. Se isto ocorrer, os bombardeios podem voltar.
Liberação de reféns
Conforme a Agência Brasil, após três reféns israelenses terem sido libertos pelo Hamas, nesta segunda-feira (20), Israel liberou 90 detidos palestinos. A maioria é mulher ou criança.
Desde o domingo (19), quando passou a valer o acordo cessar-fogo, milhares de palestinos retornam para a Faixa de Gaza. Os refugiados chegam, especialmente, às áreas do norte do território palestino, passando por áreas totalmente devastadas.
O relato de quem viveu a guerra por uma semana
Justamente quando a guerra estourou, em 7 de outubro de 2023, o pastor de Santa Maria Levi Oliveira estava em Israel durante uma missão de ministrar cursos bíblicos com peregrinos. O santa-mariense foi um dos repatriados que conseguiu retornar ao Brasil a bordo do Avião KC-30 da Força Aérea Brasileira (FAB), que aterrissou no país natal sete dias após o estouro do conflito.
Na época, o pastor Levi descreveu o pavor que tomou conta dos brasileiros, quando Hamas cometeu o ataque contra Israel e deixou mais de 1,2 mil mortos, além de 251 sequestrados como reféns.
– Toda vez que a gente passa por uma experiência assim, a gente revê prioridades – disse o pastor, em 15 de outubro de 2023, em entrevista ao Diário.
Nesta segunda-feira (20), também em entrevista ao programa Bom Dia, Cidade! da Rádio CDN 93.5 FM, o religioso relembrou os momentos de tensão e disse estar aliviado com a possibilidade de paz no país do Oriente Médio. Levi afirmou que pretende retornar ao país para continuar sua missão ainda neste ano. Ele já visitou o país 24 vezes e disse "nunca ver nada parecido".
– Israel era muito mais seguro que qualquer outro lugar do Brasil. Nada acontecia [...] Ali, é o epicentro das religiões e o turismo é uma fonte importante que foi afetada nesse período. O mundo deixou de ir para lá. A tendência, é que, quando se consolide o cessar-fogo, as companhias aéreas abram lugares para ir para lá.