Até o momento, 21 pessoas foram internadas em decorrência da dengue em Santa Maria. Deste quantitativo, 14 são de moradores do município. A data da última internação é 24 de abril. Os outros sete são pacientes de outros municípios, sendo que o último internou em 20 de abril. Os casos suspeitos e confirmados de doença também estão subindo. Conforme o boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura, o município já registra 32 casos confirmados da doença e 198 em investigação nas últimas semanas.
Ao Diário, o superintendente da Vigilância em Saúde, Alexandre Streb, comentou sobre a situação enfrentada:
– Ainda não podemos dizer que temos um surto generalizado. Temos muitas notificações, mas ainda são casos suspeitos e que dependem de uma investigação. E o ponto final dessa investigação é sempre a confirmação pelo Laboratório Central do Estado (Lacen), que irá falar sobre a real gravidade. É claro que entendemos que isso demora e devemos ter bem mais casos confirmados do que aqueles oficialmente registrados naquele boletim. Mas, de qualquer forma, entendemos que temos um surto muito localizado na Zona Oeste. Não podemos falar que temos um surto generalizado na cidade.
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DIAGNÓSTICO
Conforme Streb, profissionais de saúde das redes públicas e privadas têm recebido orientações da Vigilância em Saúde que podem ajudar no diagnóstico da doença e, posteriormente, na solicitação de exames laboratoriais. Entretanto, a população também deve prestar atenção aos sintomas da dengue, que se diferenciam de outras doenças em alguns pontos.
– É bem importante que as pessoas se atentem aos sintomas diferenciados da gripe comum e da própria Covid, porque tem algumas coisas que são semelhantes, principalmente as relacionadas à dor. Só que a dengue tem como sintomas diferentes a dor ocular ou em cima dos olhos, febre alta e manchas na pele. Dengue não tem sintoma respiratório. Então, quando a pessoa tiver aquela dor de cabeça forte, principalmente no globo ocular, manchas na pele e mal estar e não estiver relacionado a sintomas respiratórios, ela deve procurar o mais breve possível a unidade de saúde – afirma.
Na rede municipal de saúde, o diagnóstico de dengue é feito a partir coleta de sangue da pessoa que pode era infectada. O recolhimento do material é feito nas unidades básicas de saúde, levando em consideração o ciclo viral da doença, no qual são contabilizados início e fim dos sintomas. Os exames passam por laboratórios conveniados com a prefeitura e, para fins de confirmação, são encaminhados para a Vigilância de Saúde, que, por fim, encaminha para o Lacen. O órgão leva em torno de 10 dias para dar um retorno sobre exames confirmados e descartados.
– Devido aos vários surtos que temos e da pouca perspectiva que isso melhore com relação ao Lacen, temos a orientação do Estado e da prefeitura que nós não esperemos nenhum tipo de confirmação para agir. Então, todos esses casos que estão em investigação recebem um tratamento semelhante – relata Streb.
À CDN, o infectologista adulto e pediátrico, Fábio Lopes Pedro também argumentou sobre a busca de testes em Santa Maria:
–As pessoas ficam sedentas por testes e muitos colegas acabam precipitando esses testes. Coletando cedo demais, o que resulta em falsos-negativos. Frequentemente, vemos isso também. Execução de teste sorológico de dengue antes do 5º ou 6º dia de evolução do quadro, cursando com teste falso-negativo. Teste sorológico deve ser feito a partir do 6º dia, para verificar se teve o contato com o vírus.
CASOS CONFIRMADOS
As últimas atualizações também são analisadas pelo superintendente. Sobre os 32 casos confirmados, 11 foram registrados no Bairro Pinheiro Machado; 8, no Bairro Tancredo Neves e 5, no Bairro Juscelino Kubitschek. Em números menores, há registros também nos bairros Centro, Camobi, Caturrita, Diacono João Luiz Pozzobon e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que contabilizam , ao todo, 8 confirmados. Streb relata que a maioria apresentou sintomas leves.
– Tivemos registro de poucas internações. Todas com prognóstico favorável. Por enquanto, o que podemos falar desses casos é que não apresentam nenhum óbito relacionado até o momento – afirma.
O infectologista Fábio Lopes Pedro alerta sobre os riscos causados pela reinfecção da doença em um individuo, que já tenha positivado anteriormente:
– A dengue é composta por quatro sorotipos. A primeira infecção, geralmente, se apresenta na forma clássica da doença. O problema é a segunda vez que se tem a doença, na qual ela vem o quadro hemorrágico que é o causa a morte. Essa preocupação iremos ter daqui um ou dois anos. Já temos alguns casos de mortes no Estado e esses números tendem a aumentar nos próximos anos.
Confira o ranking:
Pinheiro Machado – 11Tancredo Neves – 8Juscelino Kubitschek – 5Centro – 3Camobi – 2Caturrita – 1Diácono João Luiz Pozzobon – 1Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – 1
CASOS SUSPEITOS
Apesar dos índices de confirmações e internações serem considerados baixas no cenário, a situação muda quando se fala sobre casos em investigação.
Entre o penúltimo boletim epidemiológico, publicado no dia 20 de abril, e o último, de 2 de maio, há um intervalo de 11 dias. Neste período, o número de casos suspeitos duplicou, passando de 94 para 198. Conforme Streb, a busca pelos focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor também da Zika e Chikungunya, ocorrem em bairros da Região Oeste, como Tancredo Neves, Pinheiro Machado e Juscelino Kubitschek.
– Nós atribuímos isso, empiricamente, às questões de vulnerabilidade social. Nós percebemos que as regiões nos quais encontramos o foco do mosquito da dengue e os respectivos casos associados, de confirmados e suspeitos, são de locais nesses bairros de maior vulnerabilidade.
Confira a lista:
Tancredo Neves – 44Pinheiro Machado – 37Nova Santa Marta – 28Juscelino Kubitschek – 18Centro – 13Camobi – 10Lorenzi – 6Caturrita – 4Passo D’Areia – 4Nossa Senhora de Lourdes – 4Salgado Filho – 3Patronato – 3Urlândia – 3Bonfim – 2Itararé – 2Noal – 2Nossa Senhora Medianeira – 2Nossa Senhora das Dores – 2Nossa Senhora de Fátima – 2São João – 2São José – 1Boi Morto – 1Divina Providência – 1Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – 1Presidente João Goulart – 1Santo Antão – 1
PRECAUÇÃO
No combate aos focos do Aedes aegypti, algumas medidas podem ser tomadas pela população:
Manter a caixa d’água sempre fechada;Encher de areia, até a borda, os potes e os vasos de plantas;Não deixar a água da chuva acumular em recipientes;Tampar tonéis e barris de água;Guardar garrafas de cabeça para baixo;Usar repelente;Utilizar inseticida em locais escuros (perto do chão e proximidades de piscina);
Em Santa Maria, denúncias sobre locais com água parada podem ser feitas pelo telefone (55) 3921-7159.
ZIKA E CHIKUNGUNYA
Além da dengue, o município monitora casos de Zika e Chikungunya, também transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti. Em Santa Maria, a obtenção de um diagnósticos para as duas doenças seria mais complicado, segundo o infectologista Fábio Lopes Pedro:
– É praticamente impossível diferenciar dengue, Zika e Chikungunya do ponto de vista prático. Podemos até diferenciá-las do ponto de vista laboratorial com testes, mas a realização desses testes é difícil. Nem sempre os serviços dispõem e não tem cobertura pelas operadoras para testes de Zika e Chikungunya. Por isso, que a maioria dos números das duas doenças constam como zero.
Segundo o profissional, o alto preço, inclusive, tem levado muitos profissionais a não solicitarem os exames:
–Se pegares boletins, verificará que sempre a dengue está em investigação e a Chikungunya e a Zika, muito raramente, dispõe de testes. Ou se o paciente tem que pagar por esse teste, chega a custar R$ 700 reais. Então, nós mesmos desestimulamos os pacientes a executar, porque são doenças na maior esmagadora das vezes, autolimitadas e que se resolvem em poucos dias.
Conforme Lopes Pedro, o tratamento para as três doenças é semelhante.
Arianne Lima – [email protected]