Estados Unidos

'Foi assustador vê-lo chegando' diz santa-mariense que mora no Texas sobre o furacão Harvey

Diário de Santa Maria e Folhapress

A devastação provocada pelo furacão Harvey, que chegou à costa leste dos Estados Unidos na última sexta-feira e já deixou pelo menos 24 pessoas mortas, foi testemunhada por uma santa-mariense. 

Franciele Freitas, 33 anos, mora há cinco anos em Houstou, a região mais atingida, e relatou ao Diário como ela, o marido e a filha de 2 anos conseguiram sobreviver à passagem do Harvey. Franciele, que está grávida de 28 semanas, diz que sua família se abrigou no closet do quarto do casal.

A região de Houston, quarta maior cidade dos EUA, foi a mais atingida. Na terça-feira, a tempestade tropical se transformou na maior chuva da história do país. Na região atingida, até terça-feira havia chovido mais que o esperado no ano inteiro em Houston. 

Franciele Freitas junto com o marido e a filha, de 2 anos Foto: Arquivo Pessoal

"Já gostaria de começar o meu relato agradecendo a todas orações e mensagens de apoio recebidas da minha terrinha, Santa Maria. Graças a Deus não fomos diretamente atingidos pelo furacão e seus efeitos, nossa casa não foi alagada, mas jamais esqueceremos esses dias de muita angústia e tristeza que passamos. 

Aqui nos Estados Unidos, o sistema de meteorologia é muito apurado e, graças a isso, conseguimos nos preparar com antecedência para essas catástrofes naturais. Porém, o furacão Harvey nos trouxe o maior acúmulo de água registrado até hoje nos Estados Unidos. Até o momento, foram 19 trilhões de galões de água (72 trilhões de litros de água). Isso é mais chuva do que estava previsto para o ano inteiro. 

Relatando um pouquinho dos nossos últimos cinco dias, tudo começou com a preparação para a chegada do furação. Na quarta-feira (dia 23), quando a rota do furacão foi confirmada, as pessoas começaram a se preparar com alimentos e kits de emergência. Nesse mesmo dia, supermercados estavam com as prateleiras de pão, leite e água vazias. 

Na quinta-feira, eu cheguei de viagem e, em meio ao pânico já estabelecido na cidade, fui às nossas compras. Comprei quase tudo que precisava para nos manter abastecidos pelo menos por uma semana, porém, tive que fazer uma maratona de supermercado a supermercado para encontrar água.

Na sexta-feira, as escolas já estavam fechadas, e, à noite, o furacão atingiu a costa do estado do Texas. Harvey chegou destruindo tudo o que havia pela frente e, assim que tocou o continente, ganhou mais força e passou de categoria 3 (como foi o furacão Katrina que atingiu Louisiana em 2005), para categoria 4, numa escala que vai somente até 5. 

Foi assustador vê-lo chegando. A nossa televisão ficou o tempo inteiro ligada no canal do tempo que transmitia imagens do furacão em tempo real. Na madrugada de sexta para sábado, o furacão chegou a Houston e, com ele, além da chuva e do vento de aproximadamente 210 quilômetros por hora, ele trouxe também muitos tornados. 

O tornado se forma e destrói tudo numa velocidade muito rápida e sem muita previsão, por isso, provoca um pânico maior que o furação, o qual é mais previsível. Dessa forma, quando se recebe o aviso de que o tornado está na sua região, precisa-se, literalmente, correr para o local mais seguro, mais interno e sem janelas de sua casa e se proteger. Nós montamos nosso refúgio no closet do quarto de casal. 

Devido aos inúmeros avisos de tornado recebidos durante a noite, decidimos levar colchões e passar as noite lá mesmo. Nossa filha não entendia o porque de dormir no closet e chorava querendo voltar para a cama dela, o que não podíamos permitir. O vento e a chuva eram muito fortes durante a noite e, pelo fato de não vermos nada, ficávamos imaginando o que estaria sendo destruído na nossa casa. Ficamos noites sem dormir acompanhando, por aplicativos no celular, os trajetos dos tornados e do furacão que ia perdendo força. Assim que a luz do sol surgia, corríamos para as portas e janelas de casa para averiguar os estragos, que, graças a Deus, não aconteceram na nossa casa. 

Fomos muito abençoados que nada aconteceu conosco, pois, ao ligar a TV, as imagens não eram as mesmas. Víamos condomínios, próximos ao nosso, que tinham sido arrasados por tornados. A cada dia que passava, a cidade estava mais embaixo d'água, e muitas pessoas e amigos tendo que simplesmente abandonar suas casas. As imagens eram extremamente tristes.

Mas, ao mesmo tempo, vimos nossa comunidade mobilizada e pessoas vindo de longe para ajudar nos resgates. Era de encher o coração de esperança. Qualquer cidadão que tinha um barco, bote, canoa, jet ski em casa, estava na rua, ajudando. Foi impressionante ver de perto a solidariedade da população. 
Em poucas horas, a prefeitura montava abrigos com cama, toalha, material de higiene, roupas limpas e secas, comida e travesseiro para receber cada um que, ainda em estado de choque, chegava procurando abrigo. 
Estão sendo inúmeros os voluntários trabalhando dia e noite nos abrigos e nas ruas. São inúmeras as pessoas doando tudo o que tem extra em casa. São inúmeras as pessoas abrindo as portas de suas casas para abrigar amigos ou até mesmo desconhecidos. 

Porém, são inúmeras também as pessoas que tiveram que abandonar suas casas, chegando a todo momento e superlotando os abrigos. Enfim, foram dias de insegurança, em que o acordar era sempre angustiante. 

Mas nada como um dia após o outro. Ainda estamos com muitas áreas em risco de alagamento devido o volume dos reservatórios e rios terem chegado ao máximo, mas, com certeza, o pior já passou. Daqui para frente, é retribuir as bênçãos recebidas e ajudar a quem precisa. A reconstrução da cidade não será rápida, mas, unidos, queremos que ela seja menos dolorosa possível."


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