“É como se fosse ontem”, destaca psicólogo sobre a dor do luto

Eduarda Costa

“É como se fosse ontem”, destaca psicólogo sobre a dor do luto

O misto de sentimentos após uma perda significativa carrega inúmeros significados e gera reações diferentes em cada pessoa envolvida. Mesmo completados 10 anos depois do incêndio da boate Kiss, muitos familiares das 242 vítimas ainda trabalham o sentimento de saudade e luto pelos filhos, que perderam a vida de forma trágica, e ainda precisam lidar com um segundo elemento: serem alvos de críticas da sociedade.

Cada familiar lida de forma diferente com o luto, com seu tempo para digerir. Alguns se desfizeram dos itens pessoais dos filhos com o tempo, e outros ainda os mantém intactos, como forma de refúgio de conforto e aconchego. Nos dois casos a psicologia explica que são as maneiras naturais de lidar com o luto, e que ocorrem em ordens e tempos singulares para cada ser humano.

Existe muita indignação nas pessoas “parem de falar sobre esse assunto” ou “chega, já chorou demais, vamos virar essa página”. Mas não é hora de virar a página, porque eles estão em busca de um acalento para o seu coração. Esses pais estão em busca de uma justiça, mesmo que a justiça não contemple a todos, para muitos, vai dar um acalento, um sentimento de descanso para os filhos – salienta o psicólogo Patrick Camargo.

Silenciamento

Há quem prefere se recolher, como uma forma de evitar os desgastes mentais, que podem ocasionar mais estresse. Para estes, o silenciamento passa a ser um local mais confortável, de não reviver as lembranças, se “prevenindo” do sofrimento, como explica o psicólogo:

Eles pensam que seja o momento de se recolher, de pensar em si, ficar no seu canto. Porque para eles, existe a necessidade de explanar a dor, mas não a todo o momento, para não se tornar algo que possa levar a uma crise depressiva. Entao o silêncio é muito importante e devemos respeitar, pois cada pai tem um funcionamento diferente, e reagem aos fatos de forma diferente.

O apego

Ao mesmo tempo, existem aqueles que ainda mantém os itens materiais dos filhos, e os cultivam como relicários, um altar de respeito. Este apego é natural, e caracterizado pelo psicólogo como uma memória afetiva muito intensa, em que se perde a noção de que se passaram 10 anos, com lembranças e gatilhos sempre vindo à tona:

A dor da perda de um filho nunca é superada, as pessoas aprendem a conviver com esta dor. A saudade sempre vai existir, ela só precisa deixar de ser aquela dor, para ser uma lembrança gostosa. Para esses pais, mesmo tendo passado 10 anos, é como se fosse ontem. E falar é a melhor maneira, a gente precisa passar para poder sentir, precisa externalizar.

Fases do luto

Todos os que perdem alguém significativo passam pelas fases do luto, em algum momento da vida, não necessariamente nesta ordem. Primeira fase do luto é a negação, depois, vem a raiva e a barganha (de troca de sentimentos, pensando em uma coisa divina), após, pode aparecer os sentimentos depressivos e possivelmente aceitação.

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