Renan Mattos (Arquivo Diário)
O uso ou proibição de celulares em sala de aula é controverso e divide opiniões. Na última semana, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei que restringe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis, principalmente celulares, nas salas de aula dos estabelecimentos públicos e privados de ensino infantil e médio de todo o Brasil.
O texto, que aguarda sanção presidencial, é discutido também por professores e especialistas de diversas regiões do país, que analisam o contexto e demonstram preocupação com o futuro da educação. Se sancionada, a medida poderá valer já para o ano letivo de 2025.
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Para a professora Susana Cristina Dos Reis, especialista em ensino de línguas e tecnologias, o impacto da proibição total dos eletrônicos pode ser benéfica e maléfica ao mesmo tempo, principalmente pela forma a qual for imposta:
— Imagine um contexto em que adolescentes e crianças estão acostumados com o uso da tecnologia. E a partir de agora, eles não vão poder ter contato. De alguma forma isso vai impactar, por conta do contato intenso que já se tem.
A professora, que pesquisa sobre desenvolvimento oral e cognitivo, explica que um dos problemas está fundamentado na psicologia, em como os mais jovens entendem regras e proibições. Ao mesmo tempo que concorda com a disciplinação do uso da tecnologia, uma proibição severa pode ter efeito reverso e elevar ainda mais o interesse de crianças no equipamento:
— Na infância, por exemplo, o instinto da curiosidade nos leva a conhecer o mundo. Essa é a fase de experimentação. O que não experimentamos, não se torna interessante. Mas as crianças já conhecem o telefone. Se queremos que a ela [criança] não faça algo, temos que gerar outras alternativas atraentes — explica.
Explorar de forma correta
Durante as discussões do Projeto de Lei 104/2015 no Congresso e Senado, um dos documentos citados foi um relatório da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (ONU), publicado em 2023, que ressalta preocupações sobre o uso excessivo de celulares nas escolas. O texto alerta para o impacto negativo no aprendizado e recomenda a “visão centrada no ser humano” ao utilizar tecnologia na educação, ressaltando lacunas e desigualdades no acesso a internet.
Em pedido aos países, para que encontrem alternativas a situação vista como problema, a agência da ONU afirma que a tecnologia digital deve ser utilizada como uma ferramenta e não para substituir a interação humana. O órgão também sugere que cada país estabeleça diretrizes próprias para o uso de eletrônicos em sala de aula, e que este, não deve pôr em risco o ensino presencial.
Uma das alternativas consideradas por pesquisadores é o diálogo mais próximo dos alunos. Neste pensamento, proibições podem ser reformuladas, para não causar confronto e resistência dentro de um espaço que, primordialmente, é de ensino e educação. Para Susana, planejamento é a palavra-chave:
— Precisamos agora, enquanto educadores, buscar alternativas que nos ajudem tanto a pensar em como potenciar o uso da tecnologia, quanto no aluno ser nosso aliado nesse processo de limites estabelecidos em sala de aula.
Formação de professores
O mundo em constante mudança também exige aprimoramento de técnicas de ensino. Para isso, a professora defende que docentes também tenham e busquem aprender sobre o uso da tecnologia em sala de aula, a fim de contribuir com as medidas. Antes de entender a proposta de banir celulares nos espaços de ensino, é necessário entender em como se dá o uso da ferramenta.
— É preciso de ensino para se pensar nesse uso pedagógico, tarefas planejadas e suporte para o trabalho em sala de aula. Para que a integração se torne efetiva e traga mais benefícios que malefícios.
Exemplo na região
Uma escola de Itacurubi restringe, desde maio deste ano, o uso de celular em sala de aula. A decisão, tomada em conjunto com pais e responsáveis durante uma assembleia, foi adotada em todas as turmas do 5º ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Médio Vicente Goulart. A medida foi vista como solução para problemas como falta de atenção e rendimento e dispersão durante atividades pedagógicas.
Por isso, foi criado um item de tecido, com compartimentos dedicados ao abrigo do eletrônico. A peça foi instalada nas nove salas de aula do educandário.